PARATY, RJ (FOLHAPRESS) – Felipe Neto, quem diria, tem algo em comum com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). O youtuber também é chamado de “zero um” -mas pela equipe de seguranças que o acompanha aonde vai e que estava presente durante a participação dele na Flip, na tarde desta sexta-feira (11).
Como ele se sente sendo chamado pelo mesmo apelido que o primogênito de um dos seus principais inimigos, o ex-presidente Jair Bolsonaro?
“É confuso, cara”, ri o influenciador, sem graça, em conversa no camarim da tenda dos autores, minutos depois de seu debate com a jornalista da Folha de S.Paulo Patrícia Campos Mello. “Confesso que não é algo que eu goste, mas é a estratégia deles, acho que vem do militarismo. Eu sempre falo ‘zero nada, pode me chamar de Felipe’, mas não adiantou.”
Ele vestia uma camisa polo da Dolce & Gabbana que pode custar até R$ 7.000 no Brasil e usava um relógio Breitling.
Eram pelo menos cinco agentes dentro da tenda dos autores e mais uns tantos do lado de fora, numa comitiva de três carros pretos, com apoio de uma viatura da polícia.
Esse esquema de segurança tem sido o jeito de o influenciador participar de eventos públicos, e a festa literária não foi exceção. O motivo são as diversas ameaças de morte que recebeu desde que trocou a direita pela esquerda e se tornou um opositor do bolsonarismo.
A maioria das ameaças, como conta em seu livro, são bravatas -mas há algumas sérias, que são as mais difíceis de monitorar.
“As ameaças que conseguimos localizar são as que menos preocupam”, afirma ele, que deixaria Paraty logo ao fim do debate. “As que ocorrem nos bastidores são as que mais preocupam.”
“Preciso dos seguranças até para ir ao cinema. Não só por causa das ameaças de morte, mas também as de violência física.”
Para conseguir vir ao evento literário, Felipe Neto ficou em um lugar não revelado -em outra cidade- e chegou à festa de helicóptero pouco antes do horário de sua mesa começar.
“A cidade está muito cheia, o que gera dificuldade de controle [pelos seguranças]. O evento é muito do lado de fora, na rua mesmo, não dá para colocar detector de metais, o que era um problema gravíssimo. Eu odeio saber essas coisas, porque me sinto meio a filha do presidente”, diz ele.
Felipe acrescentou que queria muito fazer algo também na programação paralela, mas teve que obedecer quem paga para ser seu diretor de segurança.
Para ser admitido dentro do camarim onde ele estava, a reportagem precisou colar um adesivo no peito, marca de que tinha recebido o sinal verde para se aproximar do influenciador.
Sem esse sinal, nenhum estranho poderia chegar perto. Ninguém mesmo. Para se ter uma ideia, na saída de Felipe da tenda, já do lado de fora, uma criança implorava ao segurança para tirar uma foto com o ídolo -e foi impedida. Bem ao lado, num bar, um homem mostrava o dedo do meio na para o carro no qual o influenciador ia embora de Paraty.