Saneamento básico: estudo aponta estados com maior risco no abastecimento de água

José Cruz/ABr

As mudanças climáticas, com seu aumento nas tempestades e a intensificação das secas, estão moldando um cenário de risco crescente para o abastecimento de água e o saneamento básico no Brasil. O estudo “As Mudanças Climáticas no Setor de Saneamento: Como tempestades, secas e ondas de calor impactam o consumo de água?”, realizado pelo Instituto Trata Brasil em parceria com a WayCarbon, trouxe à tona a vulnerabilidade de diversas regiões brasileiras, especialmente estados do Sul e Sudeste, como o Espírito Santo (ES), Rio Grande do Sul (RS) e Rio de Janeiro (RJ). Com as mudanças climáticas afetando diretamente a distribuição e qualidade da água, a preocupação sobre os impactos no direito humano ao saneamento básico se torna cada vez mais urgente.

A presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, Luana Pretto, destaca a crescente ameaça das alterações climáticas sobre o sistema de abastecimento de água, afetando desde a estrutura das adutoras até a eficiência no tratamento devido ao acúmulo de sedimentos nos rios. Tempestades e secas extremas são os principais fenômenos analisados, e, segundo Pretto, eles têm gerado danos significativos em diversas regiões. “O aumento das tempestades, tanto em intensidade quanto em volume, pode provocar o rompimento de adutoras e dificultar o tratamento da água, além de interromper o abastecimento por longos períodos”, explica.

O Espírito Santo e os desafios no abastecimento

O Espírito Santo se destaca no estudo como um dos estados mais vulneráveis ao impacto das mudanças climáticas, particularmente no que se refere à intensificação das chuvas durante períodos de tempestades prolongadas. Esses eventos, previstos para se tornar mais frequentes até 2050, representam um risco para o abastecimento de água nas regiões que dependem de mananciais superficiais. Em um cenário de precipitação intensa, o acúmulo de sedimentos nos rios torna a água turva, comprometendo sua qualidade e exigindo maior eficiência no tratamento.

Com a previsão de aumento no número de tempestades de longa duração (até cinco dias), o Espírito Santo precisa investir em infraestrutura e tecnologias para mitigar os efeitos dessas mudanças, além de se preparar para eventuais crises hídricas. “É essencial que o estado se antecipe, criando soluções mais robustas para garantir o abastecimento e a qualidade da água, especialmente em áreas mais suscetíveis ao aumento de sedimentos nos mananciais”, enfatiza Luana Pretto.

Impactos no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro

O estudo também revela que o Rio Grande do Sul (RS) está entre os estados com maior risco de sofrer impactos no abastecimento de água devido a tempestades intensas. A pesquisa aponta que 92% das cidades gaúchas enfrentam um risco muito alto de prejuízos em seus sistemas de abastecimento, especialmente devido à exposição de mananciais superficiais que acumulam sedimentos durante fortes chuvas. O Rio de Janeiro (RJ), embora com uma realidade ligeiramente diferente, também se destaca devido ao risco associado à maior concentração de chuvas e ao carreamento de solos para os rios, o que impacta diretamente na qualidade da água distribuída.

Municípios em risco e a questão do esgotamento sanitário

Além do abastecimento de água, o estudo também aponta o risco significativo de sobrecarga nos sistemas de esgotamento sanitário. As chuvas concentradas em um único dia, por exemplo, podem resultar em transbordamentos de esgoto, o que compromete ainda mais a qualidade da água, além de causar impactos ambientais. Os estados de Rio Grande do Sul e Santa Catarina estão entre os mais vulneráveis nesse aspecto, devido à insuficiência de sistemas de coleta e tratamento de esgoto.

De acordo com a pesquisa, cidades com alta densidade populacional e sistemas de esgoto insuficientes enfrentam riscos elevados, incluindo a contaminação das águas e a proliferação de doenças como leptospirose e esquistossomose. A situação é ainda mais grave em capitais como Florianópolis (SC), Belém (PA), Boa Vista (RR), Teresina (PI) e Vitória (ES), que apresentam índices elevados de risco. Em contraste, cidades como Salvador (BA), Recife (PE) e Rio Branco (AC) aparecem com menos riscos mapeados.

Mitigação e ações urgentes

Diante desse cenário de vulnerabilidade, o estudo reforça a necessidade de ações estruturantes tanto do poder público quanto das concessionárias de saneamento para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. A presidente-executiva Luana Pretto ressalta que é fundamental que cada região entenda as ameaças climáticas específicas e implemente medidas que possam evitar ou minimizar os impactos. “Quando se sabe que uma região pode ser afetada por longos períodos de seca, por exemplo, é necessário planejar alternativas de abastecimento, como a construção de sistemas de captação de água da chuva ou a otimização dos sistemas existentes”, conclui.

Com o aumento dos desafios impostos pelas mudanças climáticas, o Brasil, especialmente os estados mais afetados, como o Espírito Santo, precisa urgentemente se adaptar para garantir o acesso à água e o saneamento básico, direitos fundamentais de toda a população.

O estudo, baseado em projeções climáticas para 2030 e 2050, oferece um alerta claro para que estados e municípios se preparem para as adversidades que estão por vir, caso contrário, as consequências serão sentidas de forma ainda mais dramática pelas populações mais vulneráveis.

 

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