SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Operação Integration, da Polícia Civil de Pernambuco, foi iniciada em abril de 2023 e investiga uma organização criminosa que atua em jogos ilegais e lavagem de dinheiro e que teria movimentado quase R$ 3 bilhões entre janeiro de 2019 e maio de 2023.
Conforme o inquérito, a quadrilha usava várias empresas de eventos, publicidade, casas de câmbio, seguros e outras para lavagem de dinheiro feita por meio de depósitos e transações bancárias.
As casas de apostas cujas sedes foram alvo de operação são a Esportes da Sorte e a VaideBet. As duas empresas, assim como uma de propriedade da influenciadora Deolane Bezerra, estão entre as bets que tentam comprar a outorga do Ministério da Fazenda para atuar no mercado regulado de apostas. O investimento mínimo é de R$ 50 milhões.
Ao todo, 17 pessoas foram presas, mas conseguiram a liberdade após decisão do desembargador Eduardo Guilliod Maranhão, do Tribunal de Justiça de Pernambuco, na noite desta segunda-feira (23).
Além de Deolane Bezerra e sua mãe, Solange Bezerra, os empresários Darwin Henrique da Silva Filho, CEO da Esportes da Sorte, e José André da Rocha Neto (dono da VaideBet) tiveram os habeas corpus aceitos, assim como a mulher de Rocha Neto, Aislla Rocha.
Apenas o cantor Gusttavo Lima teve a ordem de prisão mantida.
Confira abaixo quem são eles.
Quem é Deolane Bezerra
Deolane, 34, nasceu em Vitória de Santo Antão (PE), e é advogada, assim como suas irmãs Daniele e Dayanne Bezerra, que também atuam como influenciadoras.
Dra. Deolane, como é chamada pelos fãs, ganhou fama e milhões de seguidores em 2021, depois da morte do cantor de funk MC Kevin, com quem era casada. O cantor morreu em 16 de maio de 2021, aos 23 anos, após cair da sacada de um hotel na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Desde então, Deolane ganhou visibilidade, participou de programas de TV, integrou o elenco do reality show A Fazenda, da TV Record, gravou música e se lançou como DJ.
Deolane Bezerra foi presa no dia 4 de setembro, quando a Operação Integration foi deflagrada, foi solta dia 9 e voltou a ser presa dia 10 por não cumprir determinações judiciais @dra.deolanebezerra no Instagram A imagem mostra uma mulher em pé em uma escada interna. Ela usa um top preto e jeans rasgado. Não é a primeira vez que Deolane é alvo de investigação. Em 2022, policiais foram até a casa em que ela morava em Barueri (SP) para cumprir mandados de busca e apreensão em relação a uma suposta ligação da influenciadora com um site investigado.
Cerca de cinco meses depois, o Ministério Público arquivou a investigação.
Atualmente, ela estava presa na Colônia Penal de Buíque, no Agreste de Pernambuco, mas, na noite desta segunda-feira (23), teve a liberdade decretada pelo desembargador Eduardo Guilliod Maranhão, do Tribunal de Justiça de Pernambuco.
Após ser presa a primeira vez, Deolane já havia alegado inocência e dito ser vítima de uma injustiça. Quando foi solta, afirmou ter sido uma “prisão criminosa” e “abuso de autoridade do estado de Pernambuco”.
Quem é Solange Bezerra
A empresária Solange Bezerra, 56, é mãe de Deolane e também é investigada na Operação Integration. Ela estava na Colônia Penal do Bom Pastor, em Recife (PE), mas também foi beneficiada pela decisão do desembargador Eduardo Guilliod Maranhão, do Tribunal de Justiça de Pernambuco.
Segundo a Polícia Civil do estado, ela abriu uma conta corrente em novembro de 2022 e, apesar de declarar a renda mensal de R$ 10 mil, recebeu depósitos de R$ 478.973,61 entre 1º de dezembro de 2022 e 21 de janeiro de 2023 e transferiu R$ 475.854,45 no mesmo período.
A polícia rastreou o dinheiro e verificou que a maior parte veio de duas contas investigadas e que Solange havia feito 60 transferências para as mesmas empresas, no que seria uma triangulação do dinheiro, feito para atrapalhar o rastreamento da origem e do destino. Ela também é suspeita de ter relações com o tráfico de drogas.
Ao todo, ela teve R$ 3 milhões bloqueados em suas contas. A Folha não conseguiu contato com a defesa de Solange Bezerra.
Quem é Darwin Henrique da Silva Filho
CEO da Esportes da Sorte, Darwin Henrique da Silva Filho também teve a prisão decretada pela Polícia Civil, que fez busca e apreensão na casa dele no dia 4 de setembro. Como não estava, a prisão se concretizou no dia seguinte, quando ele se apresentou juntamente com a mulher, Maria Eduarda Filizola, que também foi presa. Ambos tiveram a liberdade decretada pelo TJ-PE nesta segunda.
Darwin herdou do pai, Darwin Henrique da Silva, um império do jogo do bicho em Recife (PE).
Em 2018, ele fundou a Esportes da Sorte, uma plataforma online de apostas que patrocina vários clubes de futebol. Por isso, ele chegou a ser convocado para depor na CPI da Manipulação de Jogos de Futebol na Câmara dos Deputados, ano passado, mas não compareceu.
No dia da Operação Integration, a polícia também apreendeu R$ 180 mil em espécie e documentos na sede da Caminhos da Sorte, empresa que pertence ao pai de Darwin, que também teve a prisão decretada, mas não se apresentou à Justiça.
Outra atividade que está sob investigação se refere à compra e venda de dois carros de luxo: uma Ferrari e uma Lamborghini Urus Performante, tanto pela pessoa jurídica da Esportes da Sorte quanto por Darwin Filho. Os dois veículos foram pagos à vista por R$ 8 milhões em 2023, segundo o inquérito, mas o processo não menciona para quem os carros foram vendidos. Em depoimento, Deolane Bezerra afirmou que havia comprado a Lamborghini por R$ 3,85 milhões.
O advogado de Darwin Filho diz que vem contestando as alegações da polícia durante as investigações e que a Esportes da Sorte não tem relação com a empresa do pai do CEO.
QUEM É GUSTTAVO LIMA
O cantor Gusttavo Lima nasceu Nivaldo Batista Lima em Presidente Olegário, no interior de Minas Gerais, em 1989. Na juventude, foi cortador de cana e apanhador de tomate e café. Por cinco anos, se juntou aos irmãos William e Marcelo e formou o trio Remelexo para se apresentar em bares e festas.
Com o passar dos anos, ele fez sucesso com a música “Balada”, lançada em 2011. Naquele ano, o hit alcançou o top 10 da Billboard no Brasil, Países Baixos e Bélgica. Na esteira do sucesso, realizou sua primeira turnê internacional em 2012. Depois, anunciou o álbum “Ao Vivo em São Paulo”, com o single “Gatinha Assanhada”, que vendeu mais de 200 mil cópias e rendeu um disco de platina duplo ao artista.
Mas ele também se viu envolvido em polêmicas, como os valores de seus cachês para shows. Ele chegou a cobrar R$ 1,2 milhão da Prefeitura de Conceição do Mato Dentro (MG), mas a apresentação foi suspensa após o valor ser divulgado.
Sua influência foi logo requisitada por políticos. Em 2018, Gusttavo Lima apoiou a candidatura do então deputado Jair Bolsonaro (PL) ao Palácio do Planalto. A relação se manteve nos anos seguintes e este ano ele pediu votos para Pablo Marçal, candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo.
Gusttavo é casado com a modela Andressa Suita e tem dois filhos.
A defesa do cantor afirma que a decretação da prisão é injusta, que ele é inocente e que tomará as medidas cabíveis.
QUEM É JOSÉ ANDRÉ DA ROCHA NETO
Natural de Campina Grande (PB), o empresário José André da Rocha Neto é dono de uma série de empresas, entre elas a casa de apostas VaideBet, investigada pela Polícia Civil pernambucana.
A empresa foi fundada em 2021 e tem a sede em Curaçao, um paraíso fiscal no Caribe. A Operação Integration apreendeu quase R$ 200 milhões em contas da empresa e de Rocha Neto.
José André e sua mulher e sócia, Aislla Sabrina Truta Henrique Rocha, foram indiciados e tiveram a prisão preventiva decretada, mas no dia da ação policial eles estavam comemorando o aniversário de Gusttavo Lima na Grécia. Ambos estavam foragidos, mas, na noite desta segunda (23), o Tribunal de Justiça de Pernambuco aceitou o habeas corpus apresentado pela defesa do casal.
Outro caso investigado é a compra do avião Cessna 560 XLS, prefixo PR-TEN, que pertencia à Balada Eventos, empresa de Gusttavo Lima, e adquirido pela J.M.J. Participações, uma das empresas de Rocha Neto. A Justiça suspeita que a transação tenha servido para lavagem de dinheiro.
Em nota, a defesa de Rocha Neto e de Aislla disse que os dois “não praticaram qualquer ilegalidade e isso será demonstrado com fatos e documentos na investigação” e que “a medida de prisão não se justifica”.
O advogado Cláudio Bessas, que defende a Balada Eventos, disse, em nota no dia 8, que a compra e venda do avião “seguiu todas as normas legais” e que “isso está sendo devidamente provado para a autoridade policial e o Poder Judiciário”