Reino Unido foi racista em leis de imigração para limitar população negra

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Reino Unido estruturou e conduziu por mais de 30 anos um sistema racista de imigração que resultou na prisão e deportação ilegais de pessoas negras vindas do Caribe por 40 anos, de acordo com um relatório oficial produzido pelo Ministério do Interior e publicado nesta quinta-feira (26) depois de uma ordem judicial.

O relatório foi produzido em 2021, mas o governo britânico se recusou a divulgá-lo e negou vários pedidos da imprensa por meio da lei de acesso à informação do país durante o governo de Boris Johnson, do Partido Conservador.

De acordo com o jornal britânico The Guardian, o governo argumentava que a divulgação do relatório poderia fazer que as “comunidades afetadas” perdessem a confiança no Estado e prejudicaria “o desenvolvimento futuro de políticas migratórias”.

Um juiz de primeira instância considerou o último ponto “altamente improvável” e ordenou a publicação do documento, que havia sido vazado pelo Guardian em 2022.

O relatório foi conduzido por um historiador independente contratado pelo Ministério do Interior. O texto afirma que, entre 1950 e 1981, toda legislação sobre imigração ou cidadania aprovada no Reino Unido tinha como objetivo reduzir o número de pessoas negras que teriam permissão de morar e trabalhar no país.

O documento afirma que esse sistema racista foi diretamente responsável pelo chamado escândalo Windrush, no qual pelo menos 83 pessoas com origem no Caribe foram deportadas ilegalmente, mesmo cumprindo todos os requisitos para permanecer no Reino Unido e, em alguns casos, tendo morado no país por décadas. O caso veio à tona durante o governo da primeira-ministra conservadora Theresa May.

Em 2018, Londres se desculpou oficialmente pelo tratamento da chamada geração Windrush, nome de um dos navios que trouxeram centenas de imigrantes caribenhos para trabalhar em fábricas britânicas no pós-guerra. Além das deportações ilegais, o governo atuou para restringir os direitos dos imigrantes que ficaram no país, aponta o relatório.

“Leis de imigração aprovadas em 1962, 1968 e 1971 tiveram como objetivo diminuir o número de pessoas não brancas vivendo no Reino Unido”, afirma o documento, que aponta também que “o Império Britânico dependia da sua ideologia racista para continuar de pé” e relaciona essa ideologia às leis aprovadas no período.

“A ideologia racial e as leis de imigração foram gradualmente se entrelaçando”, diz o texto, “de forma que, mesmo quando a escravidão foi abolida em 1833, a crença de que pessoas negras não tinham capacidade nem direito de viver em igualdade com pessoas brancas permanece intacta no Império Britânico”.

Pouco antes de sair do poder, o primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, aprovou uma lei que previa a deportação de imigrantes e refugiados do Reino Unido para a Ruanda, na África oriental. A legislação foi fortemente criticada por ativistas de direitos humanos e especialistas, que a consideraram cruel e pouco eficaz.

Já no início do governo de Keir Starmer, o Reino Unido viveu uma onda de atos anti-imigração impulsionados pela extrema direita depois da morte de três crianças em um ataque a faca. O boato de que o criminoso seria um imigrante se espalhou e desencadeou os atos violentos.

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