Redes sociais da Meta impulsionam golpes financeiros, aponta estudo

Foto: Marcello Casal Jr/ABr

Relatório do NetLab da UFRJ expõe vulnerabilidades no Facebook, Instagram e WhatsApp

As plataformas digitais administradas pela Meta, incluindo Facebook, Instagram e WhatsApp, estão sendo amplamente utilizadas para a disseminação de golpes financeiros no Brasil. Essa é a conclusão de um estudo conduzido pelo Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais (NetLab), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), cujos resultados foram divulgados nesta quarta-feira (5). A pesquisa revelou que a publicidade enganosa nessas redes tem sido um dos principais meios de aplicação de fraudes contra os cidadãos brasileiros.

O levantamento, realizado entre os dias 10 e 21 de janeiro deste ano, coincidiu com a polêmica em torno da Instrução Normativa 2.219/2024 da Receita Federal, que determinava o compartilhamento de informações financeiras semestrais pelas operadoras de cartões de crédito e instituições de pagamento. A medida gerou desinformação e, consequentemente, uma onda de fake news, alegando que haveria cobrança de taxas sobre transações via Pix. Diante da repercussão negativa, o governo federal revogou a norma no dia 15 de janeiro, mas, segundo o estudo, a decisão não impediu o aumento dos golpes financeiros, que cresceram 35% nas redes da Meta após o recuo.

O crescimento dos golpes e a fragilidade na moderação da Meta

Os pesquisadores do NetLab identificaram 151 anunciantes maliciosos veiculando 1.770 anúncios fraudulentos, além de mapear 87 sites falsos para os quais as vítimas eram direcionadas. O estudo destaca que, em 40,5% dos casos, os criminosos se passaram pelo governo federal para aplicar golpes. Entre as principais estratégias utilizadas estão a oferta de serviços para resgatar supostos benefícios financeiros e a promoção de materiais fraudulentos que ensinavam a “evitar a taxação do Pix”.

Os pesquisadores alertam que a Meta permite que golpistas utilizem suas ferramentas de marketing para impulsionar anúncios maliciosos, segmentando públicos específicos com base em critérios demográficos e interesses. “Há no país uma vasta população ávida por oportunidades de ascensão social, que precisa de suporte e políticas públicas do Estado para mudar de vida, o que faz com que os mais necessitados se tornem um alvo prioritário de golpes online”, aponta o estudo.

Inteligência artificial e deepfakes ampliam o problema

Um dos pontos mais alarmantes do estudo foi o uso massivo de inteligência artificial para criar anúncios fraudulentos. Em 1.244 casos (70,3% do total), foram identificados vídeos manipulados por IA, incluindo deepfakes de figuras públicas como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente Jair Bolsonaro e até o jornalista William Bonner. Nikolas Ferreira foi a principal personalidade afetada, com 561 anúncios utilizando sua imagem, 70% deles veiculados após a revogação da norma pela Receita Federal.

Os deepfakes alteravam declarações de políticos e autoridades para sugerir, por exemplo, a criação de novos benefícios financeiros ou a possibilidade de reembolsos de compras no cartão de crédito. Essas manipulações tornavam os golpes ainda mais convincentes e difíceis de serem identificados pelos usuários.

Falta de controle e prejuízo bilionário

Estudos anteriores já haviam apontado a gravidade das fraudes digitais no Brasil. Um levantamento do Instituto Datafolha revelou que golpes envolvendo Pix e boletos bancários são responsáveis por perdas anuais de R$ 25,5 bilhões. Outra pesquisa, realizada pela Silverguard em 2024, mostrou que 79,3% dos golpes financeiros denunciados na plataforma SOS Golpe se iniciaram em redes da Meta, sendo 39% no WhatsApp, 22,6% no Instagram e 17,7% no Facebook. Em comparação, apenas 7,3% tiveram origem no Telegram e 5% em plataformas do Google, como o YouTube e o sistema de busca.

A Meta, por sua vez, nega conivência e afirma em nota que anúncios com intenção de enganar, fraudar ou explorar terceiros não são permitidos em suas plataformas. “Estamos sempre aprimorando a nossa tecnologia para combater atividades suspeitas. Também recomendamos que as pessoas denunciem quaisquer conteúdos que acreditem ir contra os Padrões da Comunidade do Facebook, as Diretrizes da Comunidade do Instagram e os Padrões de Publicidade da Meta através dos próprios aplicativos”, afirmou a empresa.

Risco ampliado com mudanças na moderação

Os pesquisadores do NetLab também manifestaram preocupação com as recentes mudanças anunciadas por Mark Zuckerberg sobre a moderação de conteúdo no Facebook e Instagram. Entre as alterações, está o encerramento do programa de checagem de fatos, o que pode facilitar ainda mais a disseminação de golpes online. “A ausência de menção específica à moderação de conteúdo publicitário por Zuckerberg em sua fala não deixa claro se as mudanças impactam a circulação de anúncios fraudulentos”, alerta o estudo.

Diante desse cenário, especialistas recomendam que os usuários se informem por fontes confiáveis antes de clicar em qualquer link promovido em redes sociais e desconfiem de ofertas que prometem benefícios financeiros fáceis. O estudo reforça a necessidade de regulação mais rigorosa para a veiculação de anúncios pagos e maior transparência nas ferramentas de publicidade digital utilizadas por grandes plataformas.

 

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