CURITIBA, PR (FOLHAPRESS0 – Adversários no segundo turno da corrida à Prefeitura de Curitiba, Eduardo Pimentel (PSD) e Cristina Graeml (PMB), ambos do campo da direita, já dão pistas de quais estratégias vão adotar nas campanhas a partir de agora. A incógnita, porém, continua sendo a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na eleição da cidade.
O ex-mandatário não foi figura presente na campanha de Pimentel, embora o PL esteja formalmente na coligação do candidato do PSD. Enquanto isso, a candidata do PMB deve aproveitar para seguir explorando o apoio informal que Bolsonaro parece dar a ela.
Em um vídeo publicado por Cristina na tarde de sábado (5), Bolsonaro fala que não pode abrir o voto, mas que torce por ela. A campanha de Pimentel tentou reagir, minimizando o peso das discussões nacionais e seus atores sobre as questões locais.
“A gente fica discutindo na internet estas teses de esquerda e direita, questões nacionais, impeachment de Alexandre de Moraes, como se isso fosse mudar a vida de quem mora em Curitiba no dia a dia”, disse o governador Ratinho Junior (PSD) à imprensa, ao votar neste domingo (6).
Principal cabo eleitoral de Pimentel, junto com o prefeito Rafael Greca (PSD), o governador disse que é preciso pensar “na dona Maria, na criança que precisa de uma boa escola, de uma boa merenda, as ruas estarem pavimentadas, num bom transporte público”.
Cristina entrou na disputa sem direito a tempo de propaganda na televisão, mas é ativa nas redes sociais e engajada em pautas do bolsonarismo, como impeachment de ministro do Supremo Tribunal Federal.
Até a última semana da campanha, o bolsonarismo não tinha aparecido com destaque nas mensagens dos candidatos.
Cristina tinha apenas 5% das intenções de voto nas pesquisas Quaest em agosto e em setembro. Seu nome só surgiu entre os primeiros colocados na véspera do pleito, no sábado (5), quando a terceira pesquisa da Quaest mostrou a candidata já com 21%, em empate técnico com Pimentel (26%). Nas urnas de domingo, Pimentel saiu com 33,51%, ante 31,17% de Cristina.
Agora, no segundo turno, Cristina terá o mesmo tempo de TV de Pimentel, cuja aliança reúne oito partidos. Na propaganda eleitoral, ela deve se colocar como a candidata que está brigando contra o “candidato do sistema”, amparado pela máquina municipal e estadual, além de repetir que é ela a verdadeira representante da direita e do conservadorismo, e não o rival.
Também deve seguir explorando as alianças informais. Além do recado de Bolsonaro, Cristina já levou para suas redes sociais um vídeo de Pablo Marçal defendendo o voto na curitibana. Marçal, que ficou fora do segundo turno na corrida à Prefeitura de São Paulo, está filiado ao PRTB, que também integra a coligação de Pimentel.
Já a campanha de Pimentel, além de tentar puxar o debate para as questões locais, na tentativa de escapar de pautas bolsonaristas, também deve destacar a falta de experiência de Cristina na administração pública. Formada em jornalismo, Cristina construiu carreira de repórter de televisão.
Outro ponto que a campanha de Pimentel deve explorar é uma eventual fragilidade na relação com a Câmara Municipal -o PMB de Cristina conseguiu eleger apenas um vereador no domingo, entre 38 assentos. Já o PSD saiu das urnas mantendo a maior bancada na Casa, com seis vereadores.
Tanto Cristina quanto Pimentel também devem buscar o apoio do casal Moro e do deputado estadual Ney Leprevost (União Brasil), derrotados neste domingo. Rosângela Moro (União Brasil), que é deputada federal por São Paulo, foi candidata a vice-prefeita na chapa encabeçada por Leprevost.
A dupla acabou em quarto lugar, com 6,49% dos votos, enfraquecendo os planos do senador Sergio Moro (União Brasil), que ensaia disputar o governo do Paraná em 2026, possivelmente contra um nome do grupo de Ratinho Junior.
Na tarde da segunda (7), o casal Moro afirmou que ainda não tem uma posição sobre o segundo turno e que vai se manifestar “no momento oportuno”.
Já a principal candidatura de esquerda na corrida, do deputado federal Luciano Ducci (PSB), apoiado por PDT e PT, deve se reunir nesta quinta-feira (10) para definir qual posição terão no segundo turno. O PSB, contudo, já antecipou nesta terça-feira (8) que vai defender a neutralidade.
Na véspera da votação, quando as campanhas começaram a identificar o crescimento de Cristina, Ducci fez um apelo ao eleitorado de esquerda pelo “voto útil”, para evitar “um segundo turno entre a direita [Pimentel] e a extrema direita [Cristina]”.
O eleitorado de esquerda tinha outras opções de candidatos, como a professora Andrea Caldas (PSOL) e o ex-governador Roberto Requião (Mobiliza), mas Ducci aparecia nas pesquisas com mais chance na corrida. Nas urnas, fez 19,44% dos votos, ficando em terceiro lugar. Requião acabou com 1,83% e Andrea com 0,86%.