PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – O economista Oliver Kim, 29, nascido de pais coreanos em Hong Kong e que acaba de concluir seu PhD pela Universidade da Califórnia em Berkeley, pesquisa as estratégias adotadas por Japão, os chamados tigres asiáticos e a China que levaram ao rápido crescimento na segunda metade do século 20.
Afirma que apresentam lições, inclusive para o Brasil. Em relação a Coreia do Sul e Taiwan, por exemplo, sublinha que a política industrial evitou o mal maior do protecionismo -a falta de concorrência- com o estado forçando as empresas favorecidas a exportar e, com isso, competir com estrangeiras.
A dinâmica foi semelhante no Japão, mas um pouco diferente na China. Nesta, a redução do controle estatal a partir do final dos anos 1970 levou à formação de um sem-número de empresas locais, concorrendo entre si e resultando, à sua maneira, em ganho de produtividade.
“Eram uma espécie de produto espontâneo da iniciativa individual local, mas também uma espécie de órgão das administrações locais”, diz. “Pelo menos neste período inicial de crescimento, a maior inovação e redução da pobreza estavam ocorrendo nestas empresas de cidades e vilas, que não faziam parte dos planos.”
Posteriormente, já com empresas privadas e bolsas de valores, também a China embarcou em política industrial. “Economistas ainda não têm um conjunto claro de respostas sobre como ela funciona, estamos desenvolvendo algumas melhores”, reconhece Kim, apontando “grande variedade de políticas diferentes”.
Sublinha duas: “Uma tradicional é que ela é como o protecionismo, você aumenta tarifas para apoiar suas indústrias nascentes. Outra é que você subsidia o capital para certas indústrias de que gosta. No caso da Coreia, isso significou basicamente oferecer taxas de juros extremamente baixas”.
Ele sugere que a América Latina evite repetir o erro histórico da Argentina, que cresceu em cima da demanda por commodities na Europa que se industrializava –assim como, nas últimas décadas, toda a região vem crescendo com a demanda por commodities na China.
“Até certo ponto, seu destino econômico é moldado por fatores fora do seu controle”, diz. “Para a Argentina do século 19, ser um exportador de commodities era uma estratégia muito boa, como foi para a América Latina depois que a China começou a decolar e você teve um boom global” desse tipo de produto.
Mas com o tempo, “conforme a China desacelera, isso indica a importância de revisitar estratégias e como tirar um pouco do peso desses ciclos”. Ou seja, como estimular a sua própria manufatura, daí a utilidade que vê nas experiências do Leste Asiático.
“Se você espera fazer a mesma coisa e ter os mesmos resultados, ficará desapontado”, alerta. “Por causa de tendências como a automação, há poucas pessoas nas fábricas hoje. A Ásia tinha custo baixo de mão de obra, mas agora isso não é mais uma vantagem a ser explorada por um país em desenvolvimento.”
A lição geral que julga útil, do Japão à China, “é que ficou muito claro que o estado se envolveu na definição, na tentativa de fazer os países crescerem em certas direções”. É o que vale revisitar, “tentando descobrir oportunidades no século 21 que podem acelerar o crescimento”.
Neste século, o país que está seguindo de perto esse caminho é o Vietnã, “onde é fácil ver que o modelo é similar a China, Taiwan e Coreia”, inclusive quanto à orientação para exportações e à trajetória da indústria, começando leve, com tecidos, e aos poucos subindo na cadeia de valor.
Kim acrescenta que a nova estrela do desenvolvimento acelerado fica ao lado da China. “O Vietnã também tem um legado confuciano, em termos de instituições históricas”, descreve, ressalvando que questões culturais são de difícil quantificação econômica.
“O Leste Asiático é culturalmente muito distinto”, diz. “Japão, China são alguns dos estados mais antigos do mundo, e coisas como política industrial, política agrícola são administradas pelo estado. Na tradição confuciana, há também uma longa história de servidores públicos baseados em mérito.”
Sua tese de PhD se concentrou nas reformas agrárias de Taiwan, nos anos 1950 e 60, e China, no final dos anos 1970, nas quais também identifica ensinamentos. O primeiro é de que, pelos dados locais e de satélite que levantou, elas não explicam o aumento de produtividade rural ou o crescimento.
“Essa é a visão tradicional do que aconteceu no Japão, depois em Taiwan, Coreia do Sul e China. Minha pesquisa começa a questioná-la. Os lugares onde a terra foi redistribuída tiveram mais crescimento da produtividade agrícola? Não o suficiente para explicar a tendência no período.”
Mas a reforma estabilizou politicamente as sociedades, então pobres, com maioria de camponeses. “Reforma agrária é também reforma política”, diz Kim. E na China ela veio acompanhada de uma política geral de preços mais elevados, perto do que seria o mercado, “encorajando, aí sim, maior produtividade agrícola”.