Percival Everett vence National Book Award com releitura de Mark Twain

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O escritor americano Percival Everett ganhou o prêmio National Book Award de ficção, o reconhecimento literário mais prestigiado dos Estados Unidos, por “James”, sua releitura de um dos clássicos de Mark Twain, “As Aventuras de Huckleberry Finn”.

O escritor de 67 anos também foi finalista do Booker Prize deste ano com o mesmo livro, que foca em Jim, personagem escravizado que é coadjuvante no livro sobre Finn.

Everett, cujo romance “Erasure” (apagamento, em tradução livre) foi adaptado para o filme “Ficção Americana”, vencedor do Oscar, ganhou na mesma categoria em que concorriam os livros “De Quatro”, de Miranda July, “Martyr!” (mártir!), de Kaveh Akbar, “Ghostroots” (raízes fantasmas), de Pemi Aguda, e “My Friends” (meus amigos), de Hisham Matar.

Ao receber o prêmio, na noite de quarta (20) em Nova York, o autor do recente “As Árvores” fez alusão ao resultado das eleições nos Estados Unidos, quando Donald Trump foi reeleito.

“Duas semanas atrás, eu estava me sentindo bem desanimado e, para ser sincero, ainda me sinto. Mas, ao olhar para isso —tanta empolgação em torno dos livros— devo dizer que sinto um pouco de esperança.”

Além de ficção, o National Book Award tem outras quatro categorias —não ficção, poesia, literatura traduzida e literatura para jovens adultos. Todos os vencedores levaram 10 mil dólares, o equivalente a 58 mil reais.

Jason De León venceu na categoria de não ficção por seu livro “Soldiers and Kings: Survival and Hope in the World of Human Smuggling” (soldados e reis: sobrevivência e esperança no mundo do tráfico humano). De León competiu contra Salman Rushdie, indicado por “Faca”, livro em que lembra o atentado que sofreu em 2022.

Já a palestino-americana Lena Khalaf Tuffaha venceu a categoria de poesia por sua coletânea “Something About Living” (algo sobre viver). Em seu discurso de agradecimento ela falou sobre seu pai, nascido na Palestina em 1938 e afirmou que “estamos vivendo o segundo novembro do genocídio financiado pelos Estados Unidos na Palestina”. “Espero que cada um de nós possa se amar o suficiente para se levantar e fazer isso parar.”

Essas declarações vêm um ano após patrocinadores retirarem seu apoio ao prêmio devido a uma declaração conjunta dos finalistas pedindo um cessar-fogo em Gaza. Muitos vencedores deste ano usaram seus discursos para pedir paz no Oriente Médio.

“Isso não é mais ficção histórica, nosso trabalho não terminou em 2020. A desumanização de árabes e a islamofobia aumentaram mais do que nunca neste último ano para justificar um genocídio contra o povo palestino”, disse Shifa Saltagi Safadi, que venceu a categoria de literatura para jovens pelo romance “Kareem Between”.

Seu livro narra a história de um garoto sírio-americano cuja mãe está presa na Síria devido ao veto migratório imposto por Trump em 2017 e revogado por Joe Biden em 2021. Antes de ser reeleito, Trump afirmou que restauraria a proibição, que atingiu principalmente países de maioria muçulmana.

O prêmio de literatura traduzida foi concedido a Yang Shuang-zi por “Taiwan Travelogue” (diário de viagem em Taiwan), e a Lin King, que traduziu o livro do mandarim para o inglês.

O editor W. Paul Coates recebeu o prêmio Literarian, reconhecimento por uma vida de realizações a favor da comunidade literária. Coates fundou a Black Classic Press em 1978, em Baltimore, no porão de sua casa e, atualmente, ela é uma das editoras independentes de propriedade negra mais antigas dos Estados Unidos.

E Barbara Kingsolver foi reconhecida por sua contribuição às letras americanas, um prêmio conquistado antes por nomes como Toni Morrison e Isabel Allende. Autora de nove romances, incluindo “A Bíblia Envenenada” e “A Lacuna”, Kingsolver também escreveu obras de não ficção, poesia e divulgação científica.

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