Eu quero uma casa no campo

A partir de 2020, a  emergência da pandemia da Covid motivou  milhares de brasileiros a se afastarem  das cidades, passando   a residirem  em zonas periurbanas, na busca por  espaço, verde, liberdade  e tranqüilidade. 

Esse é o modo de viver  em  muitas das  comunidades rurais  na zona serrana do Espírito Santo onde também são  elevados os  padrões de vida de suas  populações.

Para isso, concorre uma economia agrícola  diversificada com destaque para cafeicultura, fruticultura, avicultura e  horticultura, além da produção de leite e proteína animal. Também contribui para a qualidade de vida no campo, o fato de todos  os municípios do  interior capixaba  estarem conectados  â Capital por asfalto além da malha viária proporcionada pelo programa Caminhos do Campo, a eletrificação rural e as facilidades de comunicação  por meio dos celulares.

Tudo isso,  faz lembrar o cotidiano  em Vitória quando muitas das residências tinham quintais,  algumas tendo   chácaras.  Nesses ambientes,  crianças, expostas ao sol,  tinham contato com a terra, criavam seus bichos de estimação – cães, gatos, coelhos, cobaias, aves etc  – e por isso não eram acometidas por  ansiedade e muito menos por  depressão. Quanto aos adultos, não eram poucos os que  cultivavam hortas nos fundos de suas  casas, tendo assim acesso a alimentos saudáveis e nutritivos, o que reduzia a despesa  com a cesta básica, proporcionando   saúde e  bem estar  – físico  e emocional.

Atualmente, esse estilo de vida tem forte tendência  de expansão   como  alternativa à vida urbana que integra no mesmo pacote  trânsito congestionado, poluição do ar, excesso de ruídos, o restrito espaço dos apartamentos,  e a insegurança decorrente da violência urbana. E só não há  mais capixabas com casa no campo à falta de loteamentos, devidamente infraestruturados,  de custo mais atrativo e com acesso fácil e rápido à uma cidade mais próxima.

Esse anseio pelo  retorno à uma vida mais saudável e de reconexão com a natureza foi traduzido de forma perfeita  em canção interpretada por Elis Regina:

“Eu quero uma casa no campo. Onde eu possa ficar do tamanho da paz. E tenha somente a certeza  dos limites do corpo e nada mais.

Eu quero carneiros e cabras, pastando solenes no meu jardim.

Eu quero o silêncio das línguas cansadas. Eu quero a esperança de óculos. E meu filho de cuca legal. Eu quero plantar e colher com a mão, a  pimenta e o sal.

Eu quero uma casa no campo. Onde tenha somente a certeza dos amigos do peito e nada mais.”

No jornal O Estado de Minas, na edição de 19/02/2024, se encontra  matéria intitulada “O preço da felicidade” que informa sobre o aumento de 36% no comércio de antidepressivos e estabilizantes do humor no Brasil. As vendas passaram de 82,6 milhões  de comprimidos para 112,7 milhões  de 2019  a 2022 sinalizando  que as disfunções emocionais estão assumindo caráter epidemiológico. 

A causa é o  estresse urbano que   pode ser revertido pelo retorno à uma  existência com alegria e prazer e não apenas para pagar contas. Afinal era essa  a forma de se  viver  até início da  década de 1960 quando inexistiam a televisão, o celular e eram poucas e raras  as estradas asfaltadas. Se nessa época  os capixabas eram felizes,  muito  mais  felicidade   terão   numa casa de campo,  com a possibilidade do home office, o   acesso rápido às comodidades da  cidade e  as  facilidades de informação  e comunicação.

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