Caminhos de cura: perspectivas atuais e futuras no tratamento do Borderline

Viver com o transtorno de personalidade Borderline é estar em um estado limítrofe constante. Imagine andar sobre uma corda bamba situada acima de um abismo. A corda, por si só, já seria um desafio, mas situá-la em um espaço vazio torna tudo ainda mais desafiador. Frequentemente, ouço relatos de pacientes que se sentem assim: imersos em um vazio imenso, que consome cada segundo de suas vidas e permeia todas as suas ações. Eles vivem sem rede de segurança, caindo em um buraco negro, sem saber quem realmente são, como se estivessem em carne viva.

As pessoas com este transtorno enfrentam grandes dificuldades para se definir e, consequentemente, para se constituir como indivíduos. Todos nós temos uma identidade derivada do ego; sem ela, não conseguimos distinguir entre o eu e o outro. Por isso, é comum que essas pessoas relatem a sensação de se fundir com os outros ou até mesmo de serem invadidas por eles. No caso do Borderline, a constituição do ego deixa lacunas por onde os fantasmas assombram. Essa fragilidade psíquica faz com que situações cotidianas simples para muitos se tornem extremamente perturbadoras para eles.

Todos nós podemos experimentar algo similar, não como uma patologia, mas ter momentos de loucura é, de certa forma, o novo normal. Arrisco dizer que o terapeuta deve ser capaz de mergulhar na loucura do paciente, porque é somente dentro dela que encontramos possibilidades de compreensão mútua. O terapeuta recebe os conteúdos psíquicos do paciente, transforma-os em si e os devolve de forma traduzida, amenizada e humanizada, permitindo que o paciente os enfrente.  

Muitos processos terapêuticos são conduzidos de forma leviana. O paciente é convidado a mergulhar em si mesmo, mas, ao retornar à superfície, se vê sozinho, tendo que lidar não apenas com seus próprios fragmentos, mas também com a ferida do abandono, agora agravada pela pessoa em quem confiava. A temida fantasia do abandono, tão comum em Borders, então se torna realidade.

No surto, a experiência não pode ser contida, pois no Borderline não há continente. Por isso, o outro se torna uma ilha segura, um lugar sagrado para eles. Em toda esta complexidade, temos que estar atentos para não cometermos erros de julgamento, pois uma boa anamnese é capaz de guiar um terapeuta atento, enquanto uma má anamnese pode cegar o despreparado. É claro que o diagnóstico é apenas o começo. Cada paciente traz uma história única, tornando o tratamento um caminho personalizado.

Uma pessoa Borderline é simultaneamente filósofo e poeta. Encorajar nosso paciente a sentir sua dor é o único caminho, pois, sem isso, ele nem se reconheceria. A dor faz parte dele, assim como faz parte dos poetas e filósofos. O desafio de medicar sem adormecer essa sensibilidade, sem colocar o filósofo para dormir, é imenso, dada a limitação da nossa medicina atual.

Um ajuste químico é extremamente importante, e deve ser complementado pelo processo terapêutico, onde paciente e terapeuta constroem juntos um caminho. A terapia é um convite para uma jornada onde existe alguém que não te pega no colo, mas que te dá a mão, pois os passos em direção a si mesmo só podem ser dados com os próprios pés. Contudo, é fundamental lembrar que a recuperação é um caminho, por vezes longo, mas que caminho não é?

Em minha prática, vejo que a combinação de medicamentos e terapia proporciona um equilíbrio essencial. A cannabis medicinal, especificamente, tem mostrado resultados promissores no manejo de sintomas como ansiedade, insônia e instabilidade emocional, comuns em pacientes Borderline. No entanto, é crucial que este tratamento seja cuidadosamente monitorado e integrado a um plano terapêutico mais amplo.

Para muitos pacientes, a jornada de tratamento do transtorno de personalidade Borderline é complexa e repleta de desafios. Mas, com o apoio adequado e um tratamento personalizado, é possível encontrar um caminho de esperança e bem estar. Continuo dedicada a encontrar as melhores soluções para cada um de meus pacientes, ajudando-os a navegar nesta jornada com empatia, compreensão e disciplina.

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