ONU acusa Israel de violação por uso de métodos de guerra na Cisjordânia

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O porta-voz do escritório de direitos humanos da ONU, Thameen Al-Kheetan, expressou nesta sexta-feira (24) preocupação com a possibilidade de que a operação militar lançada por Israel na Cisjordânia ocupada esteja violando o direito internacional.

Segundo ele, as ações têm incluído bombardeios e ataques a tiros “aparentemente aleatórios, contra residentes desarmados que tentam fugir ou buscar segurança”.

Elas “levantam sérias preocupações sobre o uso desnecessário ou desproporcional da força, incluindo métodos de guerra que violam a lei internacional de direitos humanos”, prosseguiu o porta-voz ao falar a jornalistas em Genebra.

Kheetan ainda disse temer que a operação ameace a trégua entre Tel Aviv e o Hamas. “É imperativo que o cessar-fogo em Gaza seja mantido”, disse.

A ação, concentrada no campo de refugiados de Jenin, teve início nesta terça (21), dias depois de a trégua entre o Estado judeu e o grupo terrorista entrar em vigor e interromper os enfrentamentos na Faixa de Gaza.

Desde então, 12 habitantes da região foram mortos e outros 40, feridos, pelas forças israelenses, segundo Kheetan. Além disso, centenas de residentes fugiram à medida que suas casas começaram a ser demolidas pelo Exército de Tel Aviv.

Os militares afirmam que a operação, de “duração indeterminada”, tem como alvo terroristas —a cidade que eles invadiram serve de base para o Jihad Islâmico, uma facção aliada do Hamas.

Mas líderes locais afirmam que o verdadeiro objetivo dela é expulsar os palestinos da região e abrir caminho para estabelecer lá mais assentamentos, considerados ilegais pela maior parte da comunidade internacional.

Kheetan afirmou que desde o anúncio do cessar-fogo, colonos ainda vêm atacando vilarejos palestinos na área, incendiando casas e veículos e ferindo vários habitantes.

“Estamos preocupados com os reiterados comentários de algumas autoridades israelenses sobre planos de expandir ainda mais os assentamentos. Reafirmamos que a transferência, por Israel, de sua própria população civil para territórios que ocupa também constitui um crime de guerra”, completou.

Israel ocupa a Cisjordânia desde 1967, quando venceu a Guerra dos Seis Dias. Em 1993, ao assinar os Acordos de Oslo, o país concordou em devolver o território no futuro, quando um acordo de paz definitivo fosse selado.

Isso não só jamais aconteceu, como nos últimos anos os assentamentos têm se expandido cada vez mais sob o incentivo da ultradireita, que integra a coalizão do premiê Binyamin Netanyahu no poder.

Desde que o primeiro-ministro voltou a comandar o país, aliás, a quantidade de aprovações de unidades habitacionais na Cisjordânia atingiu um recorde. Segundo a ONG Peace Now, que monitora a expansão dos assentamentos, o governo aprovou a construção de cerca de 12,4 mil delas —em 2024, foram quase 9.900.

Mais de 500 mil colonos de Israel vivem nos assentamentos, enquanto os habitantes palestinos da Cisjordânia somam cerca de 2,7 milhões.

O incentivo aos assentamentos se dá por meio da estatização de áreas da região. Segundo a legislação israelenses, terrenos sob sua propriedade ali não podem pertencer ou ser ocupados por palestinos, mas podem ser arrendados por israelenses uma vez que estes obtenham alvarás do governo.

Alguns desses lugares se assemelham a pequenas cidades ou a subúrbios de grandes municípios de países desenvolvidos. Embora muitos sejam ocupados por sionistas religiosos que acreditam que seu direito de viver na região venha dos textos bíblicos, outros tantos judeus seculares se mudaram para os assentamentos devido aos preços mais baixos em comparação com terrenos em Israel.

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