BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Para tentar conter uma onda de violência e extorsões por parte do crime organizado, o governo da presidente Dina Boluarte decidiu proibir que motos circulem com mais de uma pessoa em Lima e seu entorno.
A restrição passou a valer na segunda-feira (14) e vai durar até o dia 17 de maio, segundo o documento oficial, e não traz exceções em que seja permitida a circulação de mais uma pessoa em uma mesma moto.
Durante este período, a PNP (Polícia Nacional do Peru), com o apoio das Forças Armadas, exercerá o controle para impedir o tráfego de motociclistas acompanhados.
Esta regra também proíbe o motociclista de usar acessórios presos ao capacete que impeçam ou limitem a identificação do seu rosto.
Em um pronunciamento na TV, Boluarte defendeu o veto, argumentando se tratar de uma medida de segurança pública. “Infelizmente, os criminosos usam esses veículos como meio para cometer atos criminosos e fugir impunemente. Isso acabou.”
Após a decisão do governo, organizações de motociclistas têm pedido que o Estado crie brechas para que as motos possam circular com um carona, como um cadastro especial a ser feito por meio de aplicativos.
No Brasil, a preocupação com o tema também encontra eco, conforme aponta uma pesquisa Datafolha divulgada no último sábado (12). De acordo com o instituto, oito em cada dez brasileiros relatam sentir medo de assalto quando veem motocicletas se aproximarem na rua, e 55% disseram sentir muito medo nesse tipo de situação.
O governo peruano passou a aplicar essa medida mais dura ao prorrogar, por mais 30 dias, o estado de emergência que vigora desde março na capital e na província de Callao.
Em março, o Peru declarou estado de emergência na região, que concentra cerca de um terço da população do país, após um tiroteio que terminou com a morte do artista de cumbia Paul Flores.
O ônibus que transportava Flores e os demais integrantes da banda Armonía 10 foi alvo de tiros por parte de um grupo. As autoridades prenderam quatro suspeitos integrantes de uma quadrilha.
Na ocasião, os membros da banda relataram que vinham recebendo ameaças e eram alvo de tentativa de extorsão havia meses. Eles chegaram a sofrer um atentado no ano passado, em que não houve vítimas.
A morte do artista levou a uma série de manifestações de figuras públicas do país e pedidos nas redes sociais pela renúncia do ministro do Interior, Juan José Santiváñez.
De acordo com a Defensoria Pública do país, o estado de emergência não conseguiu frear o aumento da criminalidade.
Além do impedimento a motos com garupa, a Defensoria pede que a circulação delas, mesmo só com o condutor, não seja permitida das 18h às 6h do dia seguinte.
“Estamos conscientes de que estas medidas só podem ser viáveis no contexto da grave crise de insegurança que temos vindo a sofrer dia após dia enquanto sociedade. No entanto, consideramos que são necessárias”, diz a entidade, em nota.
A violência no Peru por parte de grupos do crime organizado não é recente. No fim do ano passado, trabalhadores de transporte e comerciantes fizeram uma paralisação para exigir uma ação do governo contra uma crescente onda de extorsão e assassinatos.
De acordo com um levantamento de março, do Observatorio del Crimen y la Violencia, 21% dos peruanos disseram ter sofrido ou conhecem alguém que recebeu ameaças ou extorsões nos últimos três meses. Em Lima, são 27%. Além disso, 23% disseram ter presenciado ou que conhecem alguém que esteve perto de um tiroteio.
Segundo dados do Latinobarômetro de 2024, o Peru é o terceiro país da região onde seus cidadãos mais perceberam uma piora na segurança no último ano (atrás de Chile e Costa Rica): 92% afirmam que a criminalidade aumentou, enquanto 3% dizem que diminuiu.