PARATY, RJ (FOLHAPRESS) – A escritora sul-coreana Han Kang venceu o prêmio Nobel de Literatura de 2024.
Sua vitória foi anunciada na manhã desta quinta-feira pela Academia Sueca, comitê responsável pela seleção do maior reconhecimento literário do mundo.
É a primeira escritora da Coreia do Sul a vencer o maior prêmio literário do mundo e a segunda pessoa do país a vencer o Nobel o outro foi o ex-presidente Kim Dae-jung, que ganhou o Nobel da Paz após chefiar o Executivo de 1998 a 2003.
Kang é publicada no Brasil pela Todavia, que também havia apostado corretamente na vencedora de 2018, Olga Tokarczuk.
Seu livro mais conhecido é “A Vegetariana”, que explora até as últimas consequências o desequilíbrio na vida de uma mulher que decide deixar de comer carne. A obra alçou uma carreira de sucesso pelo mundo após vencer o prêmio Booker Internacional, em 2016, e se tornou a primeira publicação da autora no Brasil.
A escritora de 53 anos também lançou por aqui “Atos Humanos”, sobre as consequências de um ato brutal de violência do Exército contra um levante estudantil em Gwangju, e o autobiográfico “O Livro Branco”, sobre uma irmã morta ainda bebê, antes de a futura escritora nascer.
A Todavia prepara ainda, para 2025, uma publicação inédita da mais nova Nobel, cujo título em inglês é “We Do Not Part” a história de uma jovem que recebe de uma amiga a missão de socorrer seu pássaro de estimação. O livro sai na Coreia em 2021 e já vendeu mais de 200 mil exemplares.
Se o anúncio é feito agora durante uma Flip extemporânea em outubro, vale lembrar que Kang participou da festa literária virtualmente em 2021, quando o tema era a relação da literatura com as plantas sua fala, ao lado da brasileira Adriana Lisboa, girou principalmente em torno de “A Vegetariana”.
A Academia Sueca ressaltou que o reconhecimento de Kang foi por sua “percepção única das conexões entre corpo e alma, entre os vivos e os mortos, e por seu estilo poético e experimental, que se tornou inovador na prosa contemporânea”. Sua prosa poética, apontou o Nobel, “confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana”.
O prêmio não selecionava um vencedor da Ásia havia sete anos, desde Kazuo Ishiguro, escritor japonês que fez carreira no Reino Unido. Antes do popular autor de “Não me Abandone Jamais”, o último asiático premiado tinha sido o chinês Mo Yan, em 2012, que nunca conquistou leitorado significativo por aqui.
O Nobel de Literatura costuma priorizar autores europeus, como é o caso dos vencedores dos últimos dois anos, o norueguês Jon Fosse e a francesa Annie Ernaux. Antes, foi reconhecido o tanzaniano Abdulrazak Gurnah e a americana Louise Glück.
Kang nasceu na cidade de Gwangju, filha de um pai também escritor, e se mudou para a capital Seul ainda menina, aos dez anos. Publicou seu primeiro livro aos 25 anos, em 1995. Fez sua carreira em seu país, estudando literatura coreana na Universidade Yonsei e, depois, dando aulas de escrita criativa. Ela também é música e artista visual.
Anders Olsson, o presidente do comitê literário, disse que a autora tinha terminado de jantar com o filho quando foi comunicada, por telefone, sobre o prêmio. “Ela estava tendo um dia normal”, disse Mats Malm, secretário permanente da Academia, “não estava preparada para isso”.
De fato, Kang nem passava perto das bolsas de apostas para o prêmio, que tinham suspeitos de sempre como a chinesa Can Xue a mais forte candidata da Ásia até há pouco, o romeno Mircea Cartarescu, o queniano Ngugi wa Thiong’o e a canadense Anne Carson.