A polêmica proposta de concessão do Parque Estadual Paulo César Vinha, em Setiba, Guarapari, mobilizou ambientalistas, moradores e lideranças políticas durante audiência pública realizada na última quarta-feira (28). O encontro, promovido pela Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa do Espírito Santo, evidenciou a forte rejeição da comunidade local ao plano estadual, que prevê a gestão privada de áreas protegidas, incluindo o parque em questão.
Lotação e Indignação
A audiência, realizada na Escola Municipal Professor José Antônio de Miranda, em Santa Mônica, atraiu um público diverso, com moradores, professores, biólogos e ativistas ambientais. A principal crítica levantada foi a transformação do parque em um espaço voltado para o turismo de massa, com infraestrutura que inclui bangalôs, tirolesas, restaurantes e estacionamento para mil veículos.
“O Parque Paulo César Vinha não pode virar um Parque do China”, criticou Walter Luiz Oliveira Có, biólogo do Movimento em Defesa das Unidades de Conservação do Espírito Santo, ao alertar sobre o impacto ambiental das mudanças. Segundo ele, o aumento do turismo pode comprometer espécies raras e ameaçadas, além de descaracterizar a função de preservação do parque.
Concessão ou Privatização?
Para os presentes, a concessão seria uma forma velada de privatização. Hugo Cavaca, também biólogo, destacou que o programa fere legislações federais e estaduais de conservação ambiental. Ele apontou a necessidade de priorizar a biodiversidade e não o desenvolvimento econômico como objetivo central do parque.
O subsecretário de Recursos Hídricos e Qualidade Ambiental da Seama, Robson Monteiro, rebateu as críticas: “Concessão não é privatização. É como confundir um contrato de locação com um de compra e venda”. Segundo ele, o plano está sendo desenvolvido com transparência e passará por refinamento antes de sua apresentação final.
Memória de Paulo César Vinha
O nome do parque também foi um tema central. Paulo César Vinha, biólogo e ativista assassinado em defesa do meio ambiente, foi lembrado como símbolo da luta contra a degradação ambiental. “Demos o nome dele ao parque para preservar a vida. Transformá-lo em um espaço comercial seria uma afronta”, declarou Adriano Albertino, professor local.
Caminhos para o Debate
Enquanto o governo estadual afirma que as concessões são necessárias para a sustentabilidade das unidades de conservação, os críticos pedem o cancelamento do programa e maior investimento público nas áreas protegidas. A deputada Iriny Lopes classificou o Peduc como “mal conduzido” e apontou interesses econômicos na proposta.
A próxima audiência pública será realizada em Alegre, sul do estado, envolvendo outra unidade de conservação prevista no programa. Além de Paulo César Vinha, os parques Pedra Azul, Forno Grande, Cachoeira da Fumaça e Mata das Flores também estão na lista de concessões planejadas.