Militar preso pela PF usou dados de vítima para planejar golpe de Estado

Foto: Marcelo Camargo/ABr

Tenente-coronel teria fraudado documentos após acidente para habilitar linha telefônica usada no esquema

A Polícia Federal (PF) revelou, nesta terça-feira (19), novos detalhes da Operação Contragolpe, que investiga uma tentativa de golpe de Estado em 2022. Um dos principais alvos, o tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira, é acusado de utilizar documentos de terceiros para habilitar uma linha telefônica usada em trocas de mensagens com outros envolvidos no esquema. A prática, segundo a PF, integra táticas de anonimização previstas na doutrina de Forças Especiais do Exército, visando ocultar a verdadeira identidade do usuário.

Fraude com documentos de vítima de acidente

A investigação apontou que Oliveira obteve os documentos de um engenheiro mecânico após um acidente de trânsito ocorrido em novembro de 2022, na rodovia BR-060, entre Brasília e Goiânia. Na ocasião, Lafaiete Teixeira Caitano, que colidiu com o veículo alugado pelo militar, forneceu cópias de seus documentos para acionar a seguradora. Esses mesmos documentos foram utilizados por Oliveira para habilitar uma linha telefônica posteriormente vinculada ao planejamento do golpe, conforme a PF.

“Eu disponibilizei os documentos para fazermos todo o trâmite junto à seguradora”, explicou Caitano. Ao ser informado sobre o caso, o engenheiro mostrou surpresa e indignação: “Estou em choque. Nunca imaginei que algo assim pudesse acontecer comigo. Ele agiu de má fé”.

Conexão com tentativa de golpe

A PF associou Oliveira ao codinome “teixeiralafaiete230”, utilizado em um aplicativo de mensagens instantâneas para dialogar com outros investigados. A análise de celulares apreendidos revelou que o militar monitorava ilegalmente o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e planejava, junto a outros oficiais de alta patente, impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente.

Além do caso envolvendo Caitano, a PF identificou que Oliveira habilitou, em junho de 2022, outra linha telefônica usando dados de um terceiro, Luis Henrique Silva do Nascimento, residente em Belo Horizonte. As linhas eram ativadas no mesmo aparelho celular, que recebeu mais de 1.400 números telefônicos em sete meses, evidenciando o uso de métodos sofisticados para dificultar o rastreamento.

Repercussão e desdobramentos

A operação desvendou um esquema meticuloso de anonimização com raízes em doutrinas militares. Até o momento, a defesa dos investigados não se pronunciou sobre as acusações. A PF segue aprofundando as investigações, que têm como foco desarticular redes que possam comprometer a democracia no país.

 

Print de conversa do Tenente-Coronel Rafael Martins de Oliveira com Lafaiete Teixeira Caitano, que teve seus documentos usados indevidamente.  Agência Brasil/Divulgação
Fonte: ABr

Compartilhe: