Mexer na previdência militar atrasa pacote de corte de gastos de Fernando Haddad (PT)

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Mexer na previdência militar atrasa pacote de corte de gastos de Fernando Haddad (PT). Debates sobre o fim da escala 6×1 rendem greve na PepsiCo, Huawei quer tête à tête com a Apple e Macy’s decepciona o mercado antes do Natal e outras notícias do mercado nesta quarta-feira (27).

CUTUCANDO O VESPEIRO

O ministro Fernando Haddad (Fazenda) planeja um pacote de corte de gastos para o governo no próximo ano. Já repetimos essa afirmação algumas vezes nesta newsletter, mas, por enquanto, nada das tais medidas saírem.

Segundo fontes ouvidas pela Folha de S.Paulo, as negociações para reestruturação da carreira militar estão atrasando o anúncio.

Qual o impacto dessa reestruturação? Ele não deve ser muito grande nas contas públicas, mas as mudanças na previdência militar contribuem para atrair apoio ao ajuste.

↳ A visão é de que, se houver contribuição dos militares na contenção de gastos (grupo visto como antagonista do atual governo), todos conseguem abrir mão de algo.

↳ As medidas já estariam alinhadas entre os ministérios da Fazenda e da Defesa, pastas mais atingidas.

Quais são as regras hoje? Não há idade mínima para o integrante das Forças Armadas passar à reserva. Ele precisa cumprir 35 anos de serviço militar.

O tempo de serviço pode ser menor caso o militar tenha passado mais tempo em “guarnições especiais”, definidas como locais distantes dos grandes centros e de difícil permanência (floresta, fronteiras, navios, entre outros).

↳ Estar na reserva é uma espécie de aposentadoria dos militares. Tecnicamente, eles nunca se aposentam, pois podem ser convocados ao serviço em situações excepcionais –por isso o nome.

Atualmente, quando um militar morre, ele deixa uma pensão equivalente à sua remuneração para beneficiários (em geral, familiares). No caso de militares inativos, o valor é igual ao que ele recebia em vida.

↳ Até morrer, o militar contribui com 10,5% do salário para compor a pensão.

Caso um militar da ativa morra, a família recebe uma pensão de 20 vezes a contribuição que ele dava. No caso de morte no trabalho, a quantia sobe para 25 vezes.

Essa pensão pode ser transferida quando o beneficiário morre ou tem o direito de recebê-la revogado –os valores, então, vão para a próxima pessoa na ordem de prioridade.

O que pode mudar? A entrada na reserva passaria a ter a idade mínima de 55 anos, se as vontades da Fazenda fossem realizadas.

As famílias dos “mortos fictícios” parariam de receber uma pensão e passariam a ter acesso ao “auxílio-reclusão”, assim como acontece no caso de prisão de servidores públicos civis.

↳ ☠️ “Morto fictício” é nome dado para quem é expulso do Exército por condenações no Judiciário que somam mais de dois anos de reclusão. Eles custam R$ 20 milhões por ano às Forças Armadas, pois suas famílias recebem uma pensão específica.

As transferências de pensão também seriam limitadas. No caso de um beneficiário de primeira ordem (cônjuges e filhos) parar de recebê-la, ela não poderia ser transferida para um beneficiário de segunda ordem.

↳ Não é esperado corte em investimentos das Forças Armadas.

Por que não anda? Porque os militares ainda não encontraram soluções para mudanças que possam advir dos cortes.

Um dos problemas a serem resolvidos é o fluxo da carreira militar. Com uma idade mínima para a reserva, líderes temem que muitas pessoas cheguem ao topo da carreira e permaneçam lá por mais tempo do que o ideal.

GUERRA DAS JORNADAS CONTINUA

A ideia de acabar com a jornada 6×1 não sumiu –continua ganhando adeptos depois da explosão de popularidade do movimento no início de novembro.

Relembre: a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) redigiu uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que pretende extinguir a jornada de trabalho com seis dias de expediente e um descanso semanal.

↳ Em 13 de novembro, a parlamentar afirmou que a proposta atingiu o número de assinaturas necessárias para tramitar, ou seja, ser votada primeiro pela Câmara dos Deputados, e depois pelo Senado.

Ela precisava de 171 assinaturas dentre os 513 deputados.

↳ A PEC ainda não foi protocolada.

Greve na PepsiCo. Funcionários das fábricas da empresa em Sorocaba e em Itaquera (bairro da zona leste de São Paulo) estão em greve desde as 22 horas do domingo (24) pedindo o fim da escala 6×1.

↳ As negociações pela retomada das atividades estão acontecendo entre representantes da empresa e do Stilasp (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Laticínios e Alimentação de São Paulo).

José Carlos da Rocha Junior, membro da diretoria do sindicato, disse à Folha que as primeiras conversas com a PepsiCo para a mudança de jornada começaram em junho de 2024.

“Essas jornadas são exaustivas e sufocantes”, disse.

A companhia apresentou uma nova proposta de jornada que não foi aceita pelos trabalhadores.

↳ A ideia era que em dois sábados seguidos, os funcionários trabalhassem por 12 horas, conquistando uma folga no sábado seguinte. A cada três semanas, teriam uma escala 5×2.

As duas partes da história divergem sobre a adesão ao movimento. O Stilasp diz que 100% dos funcionários estão paralisados, enquanto a empresa diz que uma parte está impedida de continuar suas atividades –o que o sindicato nega.

Quem é a PepsiCo: dona de marcas como Pepsi, Doritos e Toddy, a empresa diz ter 12 mil funcionários diretos e 44 mil indiretos no Brasil. Não detalhou, porém, quantos trabalham nas fábricas em greve.

Ela disse que “permanece aberta ao diálogo com seus colaboradores e representantes sindicais em busca de soluções equilibradas para todas as partes”.

“Inútil ao empresariado”. Michel Temer, ex-presidente da República, disse em evento que o Brasil “não está preparado para uma jornada 4×3″.

“Nem acho que os trabalhadores andam preocupados com isso. Até porque, se acontecer isso [aprovação da jornada], a sensação que eu tenho é que, nos outros três dias, o trabalhador vai arrumar outro emprego”, afirmou.

BATENDO DE FRENTE

Mate 70 é o nome da nova linha de smartphones apresentada pela Huawei nesta terça-feira (26).

Além dos celulares, a marca também apresentou smartwatch, tablet, aparelhos domésticos e até carro elétrico, em um evento em Shenzhen, na China.

Nenhum desses itens era o mais aguardado da celebração, no entanto. O chip que vai dentro deles é o verdadeiro protagonista.

Sem detalhes. A fabricante dos chips, a também chinesa SMIC, não deu informações minuciosas sobre o processador.

O presidente da área de negócios da Huawei, Yu Chengdong, se limitou a dizer que o aparelho é o “Mate mais potente da história”, 40% superior ao Mate 60.

Os novos celulares estarão a venda no dia 4 de dezembro e devem custar entre 5.499 yuans e 15.999 yuans (R$ 4,4 mil e R$ 12,8 mil).

Ocidente de fora. Os novos celulares aceitam apenas o sistema operacional criado pela Huawei, o HarmonyOS Next.

Isso significa que eles não mais acessarão os aplicativos Android, do sistema desenvolvido pela Google, como outros modelos da marca. Se não acessam o Android, muito menos o iOS, da Apple.

↳ Durante a apresentação, Chengdong comparou o resultado do uso da inteligência artificial na linha Mate 70 com resultados atribuídos à Xiaomi e à Apple –com ênfase na última.

Do lado de lá. Na véspera, o CEO da maçã, Tim Cook, aterrissou na China.

Em transmissão na rede social do canal de televisão estatal, a CCTV, destacou o papel importante dos fornecedores chineses da marca –sem os quais, teria muita dificuldade em produzir os iPhones, iMacs e outros produtos.

Essa é a terceira visita do executivo à China neste ano.

Por que importa: a Apple está perdendo mercado entre os chineses. O iPhone saiu do ranking dos cinco smartphones mais vendidos no primeiro trimestre, dando lugar a smartphones da Huawei, Xioami e outros com sistema Android.

↳ Em comparação com as concorrentes, a americana tem menos recursos de inteligência artificial.

🐭 Gato e rato. Como muitas outras coisas acontecendo no mundo agora, o episódio vem na esteira da guerra comercial entre China e Estados Unidos –um capítulo a parte que ganhou nome próprio, “guerra dos chips”.

↳ A Huawei ficou fora do mercado americano até 2023, quando o país criou restrições à venda de tecnologia chinesa e para a China.

⏰ Não por muito tempo. Fontes em Washington afirmam que uma nova lista de sanções à indústria chinesa de chips poderia surgir nesta semana, logo após o anúncio da linha de celulares.

PIOR QUE A ENCOMENDA

A Macy’s, gigante do varejo americano, adiou a divulgação do seu balanço trimestral depois da descoberta de uma fraude fiscal que pode ter causado um rombo de até US$ 154 milhões (R$ 891,27 milhões).

O dinheiro foi declarado de forma incorreta como despesas com entregas nos últimos anos.

Você lembra de algo semelhante que tenha acontecido no Brasil?

Ela mesma, a Lojas Americanas. Não são situações idênticas, mas é uma boa base para que você entenda o que está acontecendo com a americana.

Consequências. Segundo a Macy’s, a fraude não afetou o fluxo de caixa ou o pagamento aos fornecedores.

No Brasil, a Americanas não tiveram a mesma sorte. Está em um processo de recuperação judicial que envolve pagar o que deve aos fornecedores.

🎁 Por que importa? O faturamento da varejista americana é um termômetro de como andam as compras na temporada de fim de ano nos Estados Unidos.

Natal, Ação de Graças e Black Friday são datas que carregam a expectativa de render altas vendas aos lojistas, e a Macy’s é uma das lojas que mais fatura nesse período.

A loja disse que descobriu o “erro contábil” –nas palavras da própria– enquanto preparava seus resultados para o trimestre, que terminou em 2 de novembro.

O balanço, que devia ser publicado nesta terça-feira (26), ficou para o dia 11 de dezembro.

E agora? Uma investigação foi aberta e o funcionário foi demitido. A apuração da empresa não apontou que outros funcionários estivessem envolvidos.

📉 Pior que a encomenda. O resultado já não agradaria o mercado, ainda que o rombo não tivesse sido descoberto.

No relatório resumido que a varejista publicou na segunda-feira, ela informou que as vendas caíram 2,4% no terceiro trimestre, ficando abaixo das expectativas dos analistas.

A queda afetou tanto as vendas em lojas físicas, quanto no comércio digital.

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