SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Por volta das 15h de sexta-feira (24), o meteorologista da Defesa Civil do Estado de São Paulo Cleber Souza identificou uma instabilidade se formando na região de Jundiaí, a cerca de 60 km da capital paulista. A chuva era intensa e, com os ventos soprando de leste para oeste, avançava em direção à Grande São Paulo.
“Eu estava monitorando aqui [região de Jundiaí, a noroeste da capital] e observei que estava chovendo muito nessas cidades. Depois, outra instabilidade começou a se formar aqui na parte norte [da cidade de São Paulo]”, conta, enquanto aponta imagens de satélite e modelos meteorológicos exibidos em duas telas a sua frente. Cerca de 40 minutos depois, o temporal chegou à capital.
Souza alertou a equipe técnica da Defesa Civil, que confirmou a necessidade de emitir o alerta severo via cell broadcast tecnologia de envio de mensagens para celulares em áreas específicas, sem cadastro prévio pela primeira vez na cidade.
É o meteorologista de plantão quem fica responsável por selecionar as áreas que vão receber o aviso e disparar o recado por meio da Interface de Divulgação de Alertas Públicos (Idap).
Outros três alertas via SMS tinham sido enviados entre 15h10 e 15h40. Esse tipo de aviso é emitido quando o volume de chuva em uma região ultrapassa os 40 mm. A diferença é que, ao contrário do cell broadcast, apenas pessoas cadastradas no sistema da Defesa Civil o recebem.
Às 16h, os paulistanos começaram a receber mensagens e avisos sonoros nos celulares. “Chuva forte se espalhando pela capital paulista com rajadas de vento e risco de alagamento. Mantenha-se em local seguro”, dizia a notificação.
No domingo (2), a reportagem acompanhou os trabalho no gabinete de crise do Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), instalado no Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, zona sul de São Paulo.
A equipe, formada por hidrólogos, meteorologistas e bombeiros, foi montada para tentar fornecer pronta resposta à população em casos de emergências causadas pela atuação da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), que tem causado pancadas de chuva no estado.
“Nosso grande desafio é prever com antecedência o que vai acontecer”, afirma o coronel Henguel Pereira, coordenador estadual da Defesa Civil.
Na frente da sala do gabinete, voltado para as mesas dos profissionais, um telão exibe imagens dos radares em tempo real. O dispositivo ocupa toda a parede.
Em janeiro deste ano, o governo do estado anunciou a criação do Cepram (Centro Paulista de Radares e Alertas Meteorológicos), que unifica informações de sete radares instalados no estado, incluindo os da iniciativa privada, além de dados de outros instrumentos de previsão do tempo.
Quando a formação climática é detectada, o órgão tem de uma a duas horas para emitir o alerta. No estado, é utilizado o modelo de previsão de chuva horária, que antecipa a precipitação esperada nas próximas horas e tende a ser mais preciso do que as previsões a longo prazo em especial no verão, quando os eventos climáticos podem se formar rapidamente.
“É um trabalho de toda a equipe, que tem como objetivo proteger as pessoas. E, quando falo disso, incluo a minha própria proteção e a dos meus familiares. A responsabilidade é nossa também, porque moramos e vivemos aqui em São Paulo”, diz o coronel
Ele conta que, antes dos alertas, equipes de bombeiros, geólogos e engenheiros das unidades municipais da Defesa Civil são acionadas para realizar vistorias e intervenções nas áreas de risco mapeadas.
“Quando a gente manda o alerta, o sistema da Defesa Civil já está operando faz tempo. São mais de 5,4 mil agentes em campo, em praticamente todos os municípios do estado. É um sistema em que todo mundo se conecta”, explica.
Neste fim de semana, a equipe do gabinete de crise trabalhava a todo o vapor. A cabo Carla Zimmermann, que recebeu a reportagem, menciona que o dia estava bastante agitado. Além das atividades operacionais, ela tinha de gravar vídeos para as redes sociais da Defesa Civil, que servem como mais uma forma de divulgar alertas à população.
De acordo com a major Tatiana Rocha, diretora da Defesa Civil de São Paulo, os alarmes ajudam a população a saber como agir e evitar enfrentar a chuva. Na sexta-feira da ocorrência, ela conta que o trânsito mudou após a emissão do alerta.
“As pessoas saíram do trabalho mais tarde. A ideia é criar uma cultura de autocuidado, semelhante ao que ocorre no Japão, onde os cidadãos adotam uma postura responsável e preventiva em situações de emergência”, diz.
A expectativa, segundo a major, é que o serviço contribua para reduzir cada vez mais os óbitos causados por eventos extremos.