SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Seguidores do influenciador Pablo Marçal (PRTB), candidato à Prefeitura de São Paulo, inundaram as redes sociais do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) no último fim de semana, fazendo eco ao apelido pejorativo de “goiabinha” cunhado pelo autointitulado ex-coach.
Depois da última pesquisa Datafolha, de quinta-feira (19), que mostrou estagnação de Marçal e crescimento de sua rejeição, Tarcísio afirmou ao lado do prefeito Ricardo Nunes (MDB), seu candidato, que o influenciador está “derretendo”.
O empresário reagiu e fez ao menos três publicações contra o governador em suas redes. Marçal se referiu a Tarcísio como “goiabinha” -verde por fora e vermelho por dentro. É a mesma lógica adotada pelos bolsonaristas que passaram a chamar os militares de “melancia” depois da derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2022.
Ou seja, com isso Marçal sugere que no exterior Tarcísio é um patriota (adjetivo associado à cor verde), mas que, por dentro, está alinhado à esquerda (associada à cor vermelha).
“Eu falei para ele, 100% das vezes em que tocar no meu nome eu vou devolver energia. Como ele falou pro Nunes que eu estou derretendo, vou deixar aqui, carinhosamente, provisoriamente, um apelido para ele”, afirmou o influenciador em vídeo publicado no Instagram.
“Ele é o ‘goiabinha’. A dupla bananinha [apelido pelo qual Marçal costuma se referir a Nunes] e ‘goiabinha’. Espero que não pegue, Tarcísio, espero que eu remova, consiga sem maiores danos tirar esse apelido até o final da eleição da sua pessoa”, completou.
Especialmente depois da publicação deste vídeo, seguidores de Marçal inundaram de comentários negativos as redes do governador, em ação simultânea. Além de terem feito coro ao apelido adotado pelo influenciador, criticaram Tarcísio pelo apoio ao prefeito, a quem muitos chamam de “comunista” e “esquerdista”.
A mobilização dos seguidores de Marçal ocorreu ainda antes da confusão no debate do Flow Podcast, encerrado na noite desta segunda (23) após expulsão do influenciador e da agressão de um auxiliar dele ao marqueteiro de Nunes, Duda Lima.
Procurado via assessoria, Tarcísio não quis se manifestar sobre o apelido ou sobre as críticas que tem recebido de eleitores de direita por atuar como o principal cabo eleitoral pela reeleição de Nunes.
Na madrugada desta terça (24), o governador fez postagem criticando “tanta baixaria” nos debates, mas sem citar Marçal. “Não dá mais pra tolerar o que está acontecendo nessa campanha. Onde está o respeito ao eleitor que todo candidato precisa ter?”
Em reunião com pastores na tarde desta segunda-feira, Marçal voltou a criticar o governador, dizendo que é “terrível” vê-lo sentado ao lado do ex-presidente Michel Temer (MDB) e do secretário de Governo Gilberto Kassab (PSD) para fechar aliança “contra um garoto”, em referência a si próprio.
Desde a pré-campanha, Tarcísio vem atuando com afinco para estancar o crescimento do autodenominado ex-coach. A animosidade entre o governador e Marçal cresceu no início do mês, depois que Tarcísio citou o influenciador em depoimento exibido pela campanha do prefeito.
Na gravação, o governador afirmou que “Marçal é a porta de entrada para Boulos”. “Eu não quero que a esquerda ganhe. Eu não quero o Boulos”, disse Tarcísio.
Marçal reagiu e escalou o conflito, afirmando durante sabatina Folha/UOL que o governador enterra sua carreira política. “Sua decisão de tocar no meu nome é errada porque isso vai manchar sua carreira política.”
O influenciador se referiu ao governador como uma “criatura feita pela transmissão de votos” de Bolsonaro e disse que Tarcísio terá “um problema [eleitoral] muito sério” em 2026 se continuar a atacá-lo. “Eu tenho representado essa frente do conservadorismo. Sou um representante forte aqui em São Paulo.”
Quando abre fogo contra o governador, Marçal tenta atingi-lo não apenas como cabo eleitoral de Nunes, mas como liderança da direita cotada para a disputa presidencial em 2026.
Marçal disse ainda na sabatina que, se o presidente Lula (PT) morrer até 2026 e Bolsonaro estiver inelegível, ele se candidatará à Presidência. “Nem Tarcísio vai dar conta, porque apoiou o cara errado, Bolsonaro vai estar inelegível, e eu quero servir ao Brasil”, afirmou.
Apesar do conflito entre Marçal e Tarcísio, o Datafolha mais recente indicou que 37% dos eleitores do governador em 2022 planejam votar no influenciador em outubro, frente a 43% que manifestam voto em Nunes.
Principal fiador da campanha do prefeito, Tarcísio se manteve ao lado de Nunes mesmo quando as pesquisas indicavam a ascensão de Marçal, especialmente entre o eleitor bolsonarista.
Tarcísio afirmou a pessoas próximas ter sido aconselhado por Bolsonaro a tomar cuidado com a associação excessiva de sua imagem a de Nunes. O argumento do ex-presidente é de que, caso a campanha do prefeito afunde, o governador poderia ser prejudicado.
Ainda assim, Tarcísio reforçou as agendas ao lado do emedebista, tem tido sua imagem explorada nas peças publicitárias do prefeito e vem publicando nas redes conteúdos em que endossa a reeleição de Nunes.
Em evento de campanha nesta segunda-feira (23) com o governador e caciques partidários, o prefeito elogiou a lealdade de Tarcísio. “Tarcísio tem me acompanhado, tem sido uma pessoa de uma lealdade fora do comum, de uma parceria impressionante, que é difícil se ver na política. E, quando a gente tem isso, é preciso destacar”, afirmou.