SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os irlandeses votam nesta sexta-feira (29) em eleições legislativas acirradas, nas quais os três principais partidos disputam a preferência dos eleitores após uma campanha relâmpago dominada pela crise da habitação e pelo custo de vida.
O primeiro-ministro da Irlanda, Simon Harris, do partido Fine Gael (centro-direita), convocou eleições depois da aprovação de um orçamento de 10,5 bilhões (R$ 66 bilhões) que começou a colocar dinheiro nos bolsos dos eleitores durante a campanha, algo possibilitado por bilhões de euros de receitas fiscais de multinacionais estrangeiras instaladas em solo irlandês.
Uma pesquisa de opinião na quarta (27) colocou o Fine Gael com 20%, empatado com o Sinn Féin (braço político do antigo IRA, o Exército Republicano Irlandês (IRA), que lutava contra o Reino Unido) e logo atrás de seu principal parceiro de coalizão, o Fianna Fail, com 21%.
Um resultado semelhante em 2020 levou os dois partidos de centro-direita a governar sem os centro-esquerdistas do Sinn Féin, e eles reforçaram a promessa de fazê-lo novamente desta vez. O Sinn Féin nunca governou a Irlanda.
Sinn Fein é o ex-braço político do grupo paramilitar IRA, que lutou contra os britânicos na Irlanda do Norte até o acordo de paz de 1998. A legenda nunca governou a República da Irlanda. Fianna Fail e Fine Gael se sucederam no poder desde a independência do país do Reino Unido, em 1921.
Os eleitores começaram a votar às 7h (4h de Brasília) para definir os 174 deputados da Dail, a câmara baixa do Parlamento deste país membro da União Europeia, de 5,4 milhões de habitantes.
Após as eleições de 2020, nas quais o Sinn Féin foi o mais votado, os dois partidos centristas formaram uma coalizão de governo com os Verdes.
A votação prosseguirá até 22h (19h de Brasília), quando serão publicadas as pesquisas de boca de urna.
A apuração dos votos, no entanto, começará apenas na manhã de sábado, mas pode demorar vários dias devido ao sistema eleitoral complexo na Irlanda.
Uma campanha cheia de erros, culminando no último fim de semana com um vídeo viral de Harris se afastando de uma trabalhadora exasperada, custou ao Fine Gael um quarto de seu apoio desde o início da campanha, mostrou pesquisa na segunda (25).
“O Sinn Féin teria que se sair muito melhor do que as pesquisas sugerem ,e o Fine Gael teria que se sair muito pior para que as coisas mudassem significativamente”, disse Theresa Reidy, professora sênior de política na University College Cork.
Isso não é impossível, ela afirma, mas o Sinn Féin teria que superar os 25% que conquistaram em 2020. O apoio à sigla foi abalado pelo mau resultado nas eleições municipais de julho, e uma das causas apontadas foi a insatisfação de eleitores de classe média e trabalhadora com a falta de clareza do Sinn Féin em relação à política de imigração.
Em novembro do ano passado, um ataque a faca que feriu 5 pessoas, realizado por um imigrante cuja nacionalidade não foi divulgada, motivou uma onda de protestos anti-imigração. O carioca Caio Benício, 43, que trabalhava como entregador em Dublin, foi o responsável por conter o homem que esfaqueou três crianças e dois adultos na porta de uma escola no centro da cidade.
Um levantamento realizado pela Embaixada do Brasil em Dublin neste ano estimou em 58,5 mil o número de brasileiros hoje em situação regular na Irlanda, dos quais cerca de 36 mil moram na capital há outros pelo menos 3.600 em situação irregular.