Um impasse envolvendo cerca de 50 famílias do município de Conceição da Barra, no norte do Espírito Santo, foi discutido na manhã desta terça-feira (15) durante uma reunião realizada na Assembleia Legislativa (Ales). O conflito gira em torno da posse de um terreno ocupado por agricultores da comunidade Nova Conquista desde 2006. O caso ganhou destaque após a Suzano, uma das maiores produtoras de celulose do Brasil, obter uma decisão judicial determinando a reintegração da posse da área.
Oposição dos agricultores
Os trabalhadores rurais contestam a ação judicial e afirmam que a medida ameaça a continuidade de suas atividades. De acordo com Wilian Souza dos Santos, presidente da Associação de Pequenos Agricultores Pró-Desenvolvimento Nova Conquista, as famílias cultivam a terra há mais de 15 anos, produzindo alimentos essenciais como pimenta-do-reino, café e outros produtos da agricultura familiar. Ele destaca que os agricultores fazem parte do projeto da Casa dos Municípios da Ales e do Arranjo Produtivo Local, iniciativas que fomentam o desenvolvimento sustentável no campo.
“Somos 49 famílias que vivem da agricultura, que plantam, colhem e levam alimento para as cidades e para toda a região. Estamos aqui para garantir o direito de trabalhar com dignidade na terra”, afirmou Wilian, enfatizando a importância da permanência na área para a segurança alimentar das famílias.
Ele também destacou que a comunidade, que conta com 38 crianças, é formada por moradores que, em muitos casos, nasceram na região. “Gostaríamos apenas de ter a dignidade de trabalhar com a terra e garantir um futuro melhor para nossos filhos, que possam crescer e continuar no campo, trabalhando com alegria e respeito ao nosso ofício”, ressaltou.
Posicionamento da deputada Janete de Sá
A deputada Janete de Sá (PSB), que recebeu os agricultores na Ales, afirmou que a situação é preocupante e se comprometeu a buscar uma solução. Ela anunciou que pretende envolver o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) na resolução do impasse, com o objetivo de buscar uma solução negociada. “Vamos acionar o Incra, pois é essencial que as famílias que moram na região desde 2006 possam continuar em suas terras”, declarou.
Janete de Sá também reforçou que o debate não se trata de uma invasão de terra, mas sim de uma luta pela permanência e pela garantia de direitos daqueles que historicamente ocupam a área. “Essas pessoas não são invasoras. Elas são nativas da região e precisam da terra para garantir o sustento das suas famílias. O que queremos é que essas famílias possam continuar vivendo com dignidade e trabalhando na agricultura familiar”, explicou.
A parlamentar destacou ainda que a empresa Suzano possui vastas extensões de terras na região e que, portanto, seria possível encontrar uma solução conciliatória. “Estamos discutindo a contestação da propriedade dessa terra, e vamos trabalhar para que essas famílias possam manter suas atividades e garantir a segurança alimentar das suas comunidades”, concluiu.
Possíveis desdobramentos
A reunião na Ales é apenas o primeiro passo em busca de uma solução para o impasse que afeta diretamente as famílias agricultoras de Nova Conquista. A expectativa agora é que, com a intervenção do Incra e o apoio da Ales, uma solução negociada seja alcançada, garantindo que os agricultores possam continuar com suas atividades produtivas sem a ameaça de despejo.
Enquanto o debate segue, as famílias de Nova Conquista aguardam por uma definição que assegure a continuidade de seu sustento e permita que a agricultura familiar da região continue a prosperar.