SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O homem que dopou a esposa ao longo de uma década para que dezenas de desconhecidos pudessem estuprá-la teria feito ao menos um discípulo na França, segundo o jornal britânico The Guardian. Investigadores dizem que Jean Pierre, 63, um dos réus no caso, copiou as técnicas de Dominique Pélicot, 73, para que a própria mulher fosse violentada.
Pierre, ex-motorista de caminhão, teria tido contato com Pélicot primeiro em uma sala de bate-papo na internet. Eles conversaram sobre sedativos e depois se encontraram pessoalmente.
Procuradores afirmam que Pélicot forneceu ansiolíticos para que Pierre dopasse a esposa. O tutor teria inclusive viajado para violentar a mulher. Pelo menos 12 estupros teriam ocorrido de 2015 a 2020.
O investigador Stephan Gal afirmou que Pierre pediu a Pélicot que fosse à sua casa para orientá-lo nos primeiros abusos. Outros detalhes dos crimes ainda não estão claros, mas Pierre admitiu culpa no tribunal, em audiência que ocorreu na quarta-feira (10), ainda segundo a publicação britânica.
O julgamento ocorre em Avignon, no sul da França, e deve se estender pelo menos até dezembro. São réus 51 homens com idades de 26 a 74 anos, incluindo Pierre e Pélicot. Todos são acusados de estupro de vulnerável e podem pegar até 20 anos de prisão.
O caso veio à tona depois da captura de Pélicot, em 2020. Ele foi flagrado em um shopping filmando as partes íntimas de uma mulher, por baixo de sua saia. Nos dias que se seguiram à prisão, os investigadores encontraram em seus computadores cerca de 4.000 fotos e vídeos de sua esposa inconsciente e sendo estuprada por dezenas de homens.
Ainda segundo a polícia, o marido da vítima fazia a mulher ingerir um ansiolítico forte antes dos estupros. Ele orientava os outros homens, encontrados em um site de relacionamento e também réus no caso, que não a acordassem.
Pelicot não poderá depor, pelo menos, até a próxima segunda-feira (16). A justificativa é a de que ele tem problemas de saúde. “Sua condição de saúde piorou […]. Ele estará incapacitado de comparecer na quinta e na sexta-feira. Acredito que será hospitalizado”, afirmou Roger Arata, o presidente do tribunal.
O homem foi levado ao tribunal na quarta. Jornalistas da agência de notícias AFP disseram que ele parecia fraco quando chegou ao banco de réus, apoiado em uma bengala. Na ocasião, psiquiatras e psicólogos discorreram sobre seu perfil.
Segundo os profissionais, o principal réu do caso não tem “anomalia mental”, mas foi consumido por “fantasias obsessivas” que se aproximam da necrofilia (atração sexual por cadáveres).
A vítima Gisèle Pelicot, 71, disse em audiência na semana passada que seu “mundo está desabando”. Embora sua família inicialmente tivesse solicitado que seu sobrenome não fosse revelado, os advogados autorizaram a divulgação porque “mais do que nunca [seus filhos] estão orgulhosos da mãe”. Ela diz esperar que a visibilidade do caso estimule outras mulheres a denunciar agressores.
A mulher de Jean Pierre teve a identidade preservada.