SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os estudantes da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) gravados chamando alunos da USP (Universidade de São Paulo) de ”cotistas” e “pobres” estavam revidando xingamentos, afirma à reportagem uma das envolvidas. Ela pediu para não ser identificada.
Segundo ela, a confusão nos Jogos Jurídicos estaduais, no último sábado (16), começou quando a torcida da Faculdade de Direito da USP explodiu fogos de artifício dentro no ginásio. Os representantes da PUC teriam reclamado, e uma troca de ofensas iniciada.
Os alunos da USP, relata a estudante, primeiro miraram as mulheres, gritaram termos como “putinha” e “vadia” e fizeram menções de cunho sexual aos seios delas. Depois, teriam começado a chamar os alunos da PUC de burros, insinuando que eles não tiveram capacidade de conseguir aprovação na Fuvest.
Foi quando os alunos da PUC, conforme a envolvida, responderam ser fácil conseguir uma vaga por meio de cotas e que os adversários são pobres. Somente essa parte foi gravada.
A Faculdade de Direito da PUC instaurou nesta segunda-feira (18) uma comissão para decidir pela expulsão ou não dos estudantes gravados ofendendo alunos da USP. O processo deve ser encerrado em 40 dias.
Os fatos, para a gestão da faculdade, são graves. Porém, todos os envolvidos poderão apresentar ampla defesa, disse seu diretor, Vidal Serrano Nunes Júnior.
A unidade, em nota, se comprometeu a responsabilizar os envolvidos de maneira “justa e exemplar”. “Essas manifestações são absolutamente inadmissíveis e vão de encontro aos valores democráticos e humanistas historicamente defendidos por nossa instituição”, disse o texto.
A Faculdade de Direito da USP também abriu sindicância sobre a ocorrência.
Vídeo do momento de provocação mostra algumas pessoas na torcida do direito da PUC gritando os termos, enquanto fazem gestos remetendo a contagem de dinheiro e proferem xingamentos. O mesmo vídeo, publicado em rede social pela Bancada Feminista do PSOL na Câmara Municipal de São Paulo, também mostra a reprovação de estudantes do Largo São Francisco.
O centro acadêmico XI de Agosto, do direito da USP, classificou as provocações como racistas e aporofóbicas (termo que indica aversão a pessoas pobres) e exigiu que a organização dos Jogos Jurídicos Estaduais puna o ato e as pessoas diretamente envolvidas.
“É nas academias de direito que se formam os profissionais que deveriam operar contra as injustiças, injúrias e preconceitos de classe e raciais”, ressaltou o centro acadêmico. “Atos como esses explicitam a violência que estudantes cotistas enfrentam ao ocupar espaços que historicamente lhes foram negados.”
A Associação Atlética Acadêmica 22 de Agosto, da PUC, também veio a público para repudiar o caso. A entidade afirma que ajudou a identificar os estudantes que fizeram as ofensas, e os proibiu de acessar tanto partidas quanto festas dos Jogos Jurídicos. Ela também se comprometeu a “comunicar o ocorrido e solicitar que sejam tomadas as providências cabíveis no âmbito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo”.
Quatro estudantes gravados proferindo os xingamentos aos adversários da USP foram demitidos de seus empregos em escritórios de advocacia. As informações são da coluna Mônica Bergamo, que, até a publicação, não conseguiu falar com os envolvidos.
O Ministério Público e a Polícia Civil de São Paulo analisam o caso.
Na Promotoria, a ocorrência foi apresentada pela vereadora Luana Alves e a deputada federal Sâmia Bomfim, ambas do PSOL-SP.
Elas afirmam que as ofensas proferidas transcendem o ambiente de rivalidade esportiva e configuram um comportamento discriminatório que associa a condição socioeconômica e racial de estudantes cotistas a uma suposta inferioridade. “O ato de ridicularizar os atletas universitários, utilizando referências às cotas e à pobreza, como se tais elementos fossem motivo de escárnio, tem como objetivo reforçar hierarquias raciais.”