RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O Governo do estado do Rio de Janeiro estuda o uso de GPS para acompanhar a localização em tempo real dos ônibus da capital fluminense, e traçar estratégias de segurança para passageiros e motoristas.
A Secretaria de Estado de Segurança Pública afirmou estar em tratativas com a Polícia Militar e empresários do setor de transportes para avaliar o tipo de monitoramento que as companhias possuem.
O debate ocorre depois dos recentes episódios de violência envolvendo os coletivos na cidade.
Na quarta-feira (16), suspeitos usaram nove ônibus para obstruir a estrada do Itanhangá, nas comunidades Muzema e Tijuquinha, zona oeste, para dificultar uma operação policial do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais).
O objetivo da ação era evitar um confronto entre milicianos e traficantes do Comando Vermelho. Não houve feridos, nem prisões durante a operação.
Na quinta (17), mais cinco ônibus foram usados como barricadas na Muzema e nos bairros da Pavuna e Costa Barros, na zona norte.
O Rio Ônibus, sindicato das empresas de ônibus da capital fluminense, disse que utiliza um sistema de notificação de assaltos e vandalismo. No caso dos assaltos, os motoristas são treinados para informar em que ponto os assaltantes subiram e desceram, e em que trecho da linha houve a ocorrência.
À Folha, o porta-voz do sindicato, Paulo Valente disse que essas informações podem ser repassadas à polícia “para a realização da mancha criminal”.
“Quando a polícia chega à comunidade para operação, nós mandamos inspetores e fiscais ficarem nas proximidades para verificar que tipo de ação os bandidos podem empreender. Identificando o movimento, a gente pode parar o ônibus, ou desviar a rota da linha. Mas é tudo muito rápido”, afirmou o porta-voz do Rio Ônibus.
“Às vezes, desvia-se dois quarteirões. Às vezes, desvia-se dez quilômetros do itinerário normal para chegar ao destino”, completou.
Como resposta imediata aos últimos ataques, o governo do estado determinou o reforço do policiamento na região do Itanhangá, a partir desta sexta (18). Foram empenhados 48 policiais, 10 viaturas e 16 motocicletas do Batalhão Tático de Motociclistas.
Além disso, segundo o governo, a área de inteligência da Polícia Militar continuará monitorando possíveis movimentações de criminosos.
Segundo responsáveis pelas linhas de ônibus, os suspeitos, nessas ações, obrigam o motorista a atravessar o veículo na via e retiram a chave e a bateria.
O Rio Ônibus contabiliza 101 coletivos sequestrados e usados como barricada neste ano. As zonas norte e oeste são as regiões que mais registraram crimes desse tipo.
Na noite de quarta, o governador Cláudio Castro (PL) publicou um vídeo no Instagram contestando o uso da palavra sequestro para os casos.
“Para criar uma cortina de fumaça, os criminosos entraram em três ônibus e subtraíram as chaves de três ônibus. Não houve sequestro, Não houve nada disso que a imprensa está colocando. Em outros três ônibus, os motoristas ficaram com medo e saíram, deixando os ônibus à deriva. Não houve sequestro algum”, disse o governador nas redes sociais.
Paulo Valente, porta-voz do Rio Ônibus, disse que Castro quis “contornar a situação com uma questão semântica”.
“Se o governador acha, então quem subtraiu as chaves do ônibus subtraiu também o direito de ir e vir da população, subtraiu milhões de reais da economia da cidade, porque as pessoas não puderam fazer suas compras, ir aos seus compromissos, ir à escola. Subtraiu ainda uma boa parte da imagem que a cidade precisa ter para atrair investimentos”, afirmou à reportagem.
“O fato é que, em vez de se discutir a questão semântica, tinha que se discutir a questão prática, para que isso não aconteça de novo, seja um sequestro, seja uma subtração”, completou.
Um levantamento do Rio Ônibus mostrou que, nos últimos 12 meses, 132 veículos foram sequestrados por criminosos e usados como barricadas.
Outros oito foram incendiados criminalmente e 1.750 foram vandalizados. O prejuízo com a danificação dos ônibus foi avaliado em R$ 22,6 milhões, segundo o Rio Ônibus.
Há um ano, ao menos 35 ônibus e um trem foram incendiados no mesmo dia no Rio. Os ataques aos veículos foram uma resposta à morte de Matheus da Silva Rezende, o Faustão, um dos líderes da maior milícia do estado.