Materiais apreendidos pela Polícia Federal (PF) na residência do general da reserva Mário Fernandes, ex-número dois da Secretaria-Geral da Presidência no governo Jair Bolsonaro, indicam estratégias para desviar a responsabilidade dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Um dos principais objetivos era atribuir ao governo Lula a culpa pela tentativa de golpe. O relatório, até então sigiloso, foi divulgado nesta terça-feira (26) por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Documentos revelam plano contra o governo e o STF
Produzido em maio de 2023, enquanto Mário Fernandes atuava como assessor do deputado General Pazuello, o material continha “ideias-forças” para orientar a oposição na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigava os ataques. A estratégia visava enfraquecer o governo Lula, retirar a responsabilidade do grupo investigado e fomentar um processo de impeachment contra o presidente.
Entre as táticas documentadas, destacam-se ações para desacreditar o STF e o ministro Alexandre de Moraes, a quem os golpistas acusavam de liderar uma “ditadura da toga”. O plano também previa a anulação das prisões de mais de 1.500 envolvidos nos atos antidemocráticos, referidos no documento como “patriotas”. Um dos trechos comparava as detenções aos crimes do nazismo durante a Segunda Guerra Mundial.
Narrativa contra Flávio Dino e coação à Polícia Federal
Além das articulações contra o STF, as anotações incluíam ataques ao então ministro da Justiça, Flávio Dino, tentando responsabilizá-lo por uma suposta omissão na contenção dos atos golpistas em Brasília. Também havia sugestões para intimidar a Polícia Federal, acusando o órgão de abusos nas investigações e prisões relacionadas ao caso.
Impacto e desdobramentos
As revelações do relatório da PF intensificam as discussões sobre as estratégias de desinformação e manipulação política usadas por grupos ligados ao governo Bolsonaro. A exposição dos planos reforça o papel central do STF e da PF na contenção de ataques à democracia e amplia a pressão sobre a CPMI e os órgãos de investigação.
As informações desvendadas colocam em evidência os riscos à estabilidade institucional e destacam os esforços contínuos para garantir que os responsáveis pelos atos golpistas sejam devidamente responsabilizados.