CAIRO – Sob forte esquema de segurança, os egípcios votam nesta terça-feira o projeto de uma nova Constituição, criado com respaldo pelos militares após a destituição do presidente Mohamed Mursi, há seis meses. Resistindo à repressão do Exército, partidários de Mursi foram às ruas protestar nas primeiras horas da manhã, o que provocou confrontos com as forças de segurança, deixando ao menos nove mortos.
As autoridades lançaram uma grande operação de segurança para proteger os locais de votação e eleitores contra possíveis ataques de militantes leais ao ex-presidente islâmico. Mahmoud Sayed Gomaa, de 25 anos, foi morto durante um protesto contra o referendo perto de um centro eleitoral na província de Bani Suef, ao sul do Cairo.
Pouco antes da abertura dos locais de votação, uma bomba explodiu em frente a um tribunal no Cairo, danificando a fachada do edifício, sem deixar vítimas. Em outras cidades, a polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar uma marcha. Manifestantes tentaram parar o trânsito e dificultar o trabalho nos centros de votação. Há relatos de pessoas detidas.
A votação de dois dias representa um golpe para a Irmandade Muçulmana – grupo ao qual Mursi pertence – e abre o caminho para que o general Abdel Fatah al-Sissi, chefe das Forças Armadas, concorra à Presidência do país. Na fila, eleitores entoavam canções como “não ao terrorismo” ou “al-Sisi será presidente”.
A nova Constituição foi elaborada por uma comissão de 50 especialistas eleitos pelo novo regime. No total, 52 milhões de pessoas foram convocadas às urnas. Há 30.317 colégios eleitorais habilitados, e o Exército enviou 16 mil soldados para protegê-los.
Esta é a terceira consulta constitucional desde 2011. Em março daquele ano, após a queda do regime de Hosni Mubarak, os egípcios votaram a favor de uma série de emendas constitucionais que pavimentaram o caminho para a democracia, com a participação de 41% da população.
Mais tarde, a Irmandade Muçulmana ganhou várias eleições e elaborou uma nova Constituição, que foi eleita nas urnas com uma presença de 33% dos egípcios. Agora, os militares e o governo interino esperam uma participação em massa para legitimar o golpe de Estado, o banimento da Irmandade Muçulmana e as mudanças impostas nos últimos meses. Nos últimos seis meses, centenas de pessoas morreram em várias operações militares contra sucessivos protestos islâmicos.