Gabigol ‘rouba’ holofotes em título do Flamengo ao anunciar saída

RIO DE JANEIRO, RJ, E BELO HORIZONTE, MG (UOL/FOLHAPRESS) – Instantes depois do título da Copa do Brasil, o presidente do Flamengo passou por repórteres na Arena MRV com um intuito claro:

“Hoje eu vou falar da vitória do Flamengo. (..) Os outros problemas eu vou discutir depois. ”

Como “problemas”, Rodolfo Landim se referia a outra notícia paralela que inundou a festa pela conquista da Copa do Brasil: Gabigol confirmou que não fica no Flamengo em 2025.

A cerca de um mês e meio do fim do contrato, o atacante esteve bem longe de cumprir os desejos editoriais de Landim. Tão logo veio a pergunta sobre o futuro, ele desta vez não deu rodeios e deu o recado direto. Foi como se o título tivesse virado “notícia velha”.

Gabigol já disse que não gosta de dar entrevistas. Mas veio ao longo dos últimos dias dando dicas de que, de fato, esta seria sua “last dance” pelo Flamengo. A última final.

O PACOTE DO ADEUS

Com o protagonismo do jogo de ida, no qual fez dois dos três gols do Flamengo sobre o Atlético-MG, e a confirmação do título, o alinhamento perfeito para sair por cima.

Alfinetou a diretoria, criticou a forma com a qual era tratado por Tite e confirmou o adeus. Fim de uma relação de seis temporadas. Ele não parou por aí.

O pacote de despedida de Gabigol contou com um vídeo publicado nas redes sociais dele. Um Gabigol de animação posava diante de todas as taças conquistadas pelo Flamengo, entre quadros brancos que apontavam os feitos e números dele pelo clube.

A trilha sonora? Tim Maia. “Me dê motivo”. A música tem trechos destinados a uma mulher que cabem para a relação entre Gabigol e Flamengo:

“Estou indo embora, não faz sentido

Ficar contigo, melhor assim”

Sem contar a camisa personalizada com o número 99 —que ressaltava o primeiro 9— e a célebre frase de Adriano Imperador, que serve como indireta: “Que Deus perdoe essas pessoas ruins”.

“O Gabigol sempre soube usar as declarações a seu favor. Seja para fazer do Maracanã um ‘inferno’, seja para anunciar o fim do seu ciclo no Flamengo no momento de euforia com a conquista da Copa do Brasil, após ele ter feito dois gols decisivos. Ele tem o timing perfeito para colocar suas frases de efeito no momento que é o foco das câmeras. Certamente ele já entrou em campo com essa declaração em mente”, analisou Bernardo Pontes, fundador e CEO da Alob Sports, empresa de marketing esportivo.

SURPRESA DOS COMPANHEIROS

O anúncio de Gabigol ainda no gramado do palco da decisão gerou reações inusitadas e com surpresa por parte dos jogadores do Fla.

Nem o media trainning, comum aos dias atuais do futebol, segurou as caras de espanto. Wesley, Gerson, David Luiz… vários até tiveram dificuldades de falar sobre o assunto.

“Vou absorver e depois te respondo”, disse David Luiz.

O vice de futebol, Marcos Braz, que sairá do Flamengo ao mesmo tempo que Gabigol, tentou normalizar o fim da relação:

“Vejo com maior naturalidade do mundo ele buscar novos ares e que tenha boa sorte na carreira. Eu era sabedor desde sempre, até porque eu conheço o mercado, que tinham alguns clubes. Como teve o Palmeiras, podem até não confirmar, mas como teve o Palmeiras, o Corinthians lá atrás, e agora teve o Cruzeiro”.

Braz, inclusive, já brigou com Gabigol, puniu jogador, mas era entusiasta da continuidade dele no clube. Embora tenha sido citado pelo próprio jogador como parte dos que “apertaram a mão dele e da família” no acordo sobre renovação por cinco anos, que ao fim das contas não vingou. O Fla só ofereceu um ano, e o jogador recusou.

Trazer à tona parte relevante do próprio destino em 2025 ainda fugiu à lógica recente que os clubes têm em relação às contratações do quilate de Gabigol.

“A contratação de ídolos deve ter toda a narrativa sendo conduzida pelo time contratante, é a hora que o departamento de marketing consegue buscar a conexão com os fãs da forma mais intensa possível. Inclusive, é um momento ímpar para criar uma apresentação diferente para uma marca patrocinadora, e até mesmo, criar uma série de produtos oficiais licenciados para lançar no calor do momento. Mas para isso acontecer com toda sincronia necessária, precisa existir o sigilo de todas as partes e antes de tudo um alinhamento estratégico muito grande das áreas de marketing e futebol”, analisou Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em marketing esportivo.

Mas Gabigol, como já mostrou ao longo dos anos, tem uma lógica própria.

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