Filme ‘Thelma e Louise’ e violência contra a mulher inspiram peça de teatro

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A história real de uma manicure que fugiu de casa carregando apenas uma bolsa faz parte da lista de inspirações da peça “Eu sou Thelma e Ela é Minha Louise”, criada e encenada pelas atrizes Rita Batata e Mariana Leme, do grupo Rima Coletiva.

O caso foi ouvido por Mariana durante uma viagem, quando parou para fazer as unhas —a manicure havia sido agredida pelo marido e, para escapar, entrou em um ônibus, desceu em uma cidade desconhecida e recomeçou a vida.

Outra inspiração do espetáculo em cartaz no Sesc Santo Amaro, em São Paulo, é, obviamente, o filme “Thelma e Louise”, de 1991, estrelado por Geena Davis, que interpreta Thelma, e Susan Sarandon, que vive Louise, um roteiro ideal para as duas amigas que tinham o desejo de abordar, no teatro, a parceria entre mulheres, o protagonismo feminino e a violência de gênero.

“A amizade é uma coisa que importa falar. Mulheres não são rivais. Juntas, somos muito mais potentes”, diz Rita.

A ideia não foi adaptar o filme para o palco e sim aproveitar os motes que a dupla considera interessantes na obra para criar uma dramaturgia própria. Elas analisaram a produção cinematográfica, pesquisaram temas relacionados às mulheres e incorporaram questões pessoais no processo de criação da peça, escrita por Rita e dirigida por Mariana.

Para criar o espetáculo, também ouviram depoimentos —como o da manicure e de mulheres de outras gerações, incluindo a mãe de Mariana.

A trama acompanha a amizade entre as personagens Vera e Madu, que se conhecem nos anos 1990. Uma violência sexual muda o rumo da vida das duas e, com o passar o tempo, a história mostra as trajetórias das filhas das amigas, Teresa e Luísa, até chegar aos dias atuais.

Outro desejo das duas atrizes foi o de abordar a hereditariedade, as memórias e as trocas de experiências entre gerações. Como um símbolo disso, peças de roupas antigas receberam uma técnica de reutilização criativa e ganharam estética moderna.

As roupas ficam penduradas no cenário, assim como outros objetos, e são acessadas pelas artistas ao longo do espetáculo.

“Thelma e Louise” é a principal âncora da peça, mas existem outras referências, como Medeia, da mitologia grega, e pinturas que retratam Judite, mostrada na bíblia como uma mulher heroica. Em uma viagem que fizeram juntas pela Europa, Rita e Mariana viram vários quadros que mostram Judite decapitando o general Holofernes para livrar o seu povo do tirano. Na tela de Caravaggio, por exemplo, a imagem é de uma mulher destemida.

A montagem tem uma equipe 100% feminina e dá continuidade às pesquisas da Rima Coletiva sobre as múltiplas linguagens da cena teatral contemporânea.

Na dinâmica em cena, há diálogos típicos do teatro dramático, relação direta com o público, como no teatro épico, corpos expressivos do teatro físico e, também, a utilização de dados reais que remetem ao teatro documental.

“E, por fim, há a linguagem contemporânea atual, que utiliza a fragmentação e o aglutinamento do discurso cênico”, afirma Mariana.

As duas, amigas há 18 anos, permanecem o tempo todo em cena, em uma continuidade que extrapola as questões temporais e reafirma a violência de gênero como algo que permanece, apesar dos avanços sociais e legais. Elas contam uma história que começa no contexto do filme hollywoodiano, transita pela ficção e é complementada por nuances biográficas.

Como em “Thelma e Louise”, planejam ir para a estrada e levar a peça a outras cidades, após dois anos de pesquisas, com apoio do Programa Laboratório da Cena. “Tenho um fusquinha, cabe tudo lá dentro”, brinca Rita. “É uma peça chiclete, dá para esticar para cá, diminuir para lá”.

O espetáculo é o terceiro da Rima Coletiva, companhia criada há sete anos pelas amigas. A estreia foi com a peça “Pequenas Certezas”, escrita pela mexicana Bárbara Colio e dirigida por Fernanda D’Umbra, reinaugurando a sala Ademar Guerra, do Centro Cultural São Paulo.

A dramaturgia de “Eu Sou Thelma e Ela é Minha Louise” foi lançada em livro, pela editora Patuá. A amiga Mariana assina a orelha da obra. “É um retrato íntimo de uma amizade que atravessa o tempo. É também uma festa cheia de movimento, uma celebração da nossa parceria”, escreveu.

Eu Sou Thelma e Ela é minha Louise

Quando Sextas, às 20h; sábados e domingos, às 18h30

Onde Sesc Santo Amaro – r. Amador Bueno, 505, São Paulo

Preço R$ 50

Autoria Rita Batata

Elenco Mariana Leme e Rita Batata

Direção Mariana Leme

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