Ficção cristã ganha holofotes na Bienal do Livro e quer furar bolha além da religião

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Muita gente já leu ficção cristã sem nem saber que era”, afirmou a autora Gabriela Fernandes nesta quarta-feira na Bienal do Livro de São Paulo. Em encontro com as também escritoras Becca Mackenzie, Camila Antunes e Sara Gusella, a conversa elaborou o que é a ficção cristã para quem não conhece o gênero.

A denominação ainda é recente no mercado brasileiro, mas o gênero já é conhecido pelo público, segundo elas, e tem ganhado espaço inédito na Bienal. O exemplo mais famoso é a série “As Crônicas de Nárnia”, do irlândes C.S. Lewis. Na saga, o leão Aslan, criador daquele mundo, é uma alegoria de Deus.

Gusella, autora de “Os Clãs da Lua”, afirmou que foi introduzida ao gênero por um dos livros da série. “Eu li com 11 anos sem saber que era ficção cristã, mas carreguei a vontade de escrever histórias que compartilhassem o meu processo de conhecer a Deus.”

Fernandes, que teve “Star Wars” como principal referência de seu livro “As Andorinhas de um Continente em Chamas”, contou que nunca pesquisa temáticas religiosas para escrever -a fé faz parte de sua vida e aparece de forma orgânica em suas histórias.

Uma ficção cristã não é uma história de pregação em que os personagens são pessoas perfeitas e vivem vidas imaculadas. Sua diferença “é que os conflitos vão ser solucionados em Cristo”, explicou Antunes, autora da comédia romântica “Deixa Nevar”.

As quatro autoras escrevem gêneros diversos dentro da ficção cristã, que engloba romances, fantasias, distopias, quadrinhos e além. Como diz Mackenzie, o nome “ficção cristã” é uma classificação comercial, uma forma de ser honesto com o leitor sobre histórias que contém princípios do Evangelho.

A autora de “Se Pudesse Contar as Estrelas”, livro que foi publicado primeiro no Wattpad, completou dizendo que, se a história for boa “mesmo quem não for cristão vai ter uma boa leitura, e quem for vai aproveitar as lições”.

A denominação cristã engloba católicos e protestantes, mas o selo Thomas Nelson, no qual as autoras publicam, trabalha só com produções evangélicas. O diretor editorial Samuel Coto aponta que, pelo que se vê no mercado, católicos leem produções protestantes como a das autoras presentes, mas o contrário não acontece.

O selo Thomas Nelson, da HarperCollins, já tem longa história com a ficção cristã nos Estados Unidos, mas no Brasil começou a dar certo agora, por uma comunhão de fatores. O gênero começou a crescer após a pandemia, quando as pessoas começaram a buscar mais “histórias que curam”, como disse Gabriela Fernandes.

Ao ser questionado sobre a unanimidade feminina no palco e também a maioria na plateia, Coto diz que o gênero não é exclusivamente produzido por ou vendido para mulheres, “mas segue o mercado editorial, onde o maior público consumidor de livros são mulheres”.

Além da preocupação expressada pelas autoras de “furar a bolha” cristã e produzir boas histórias para todos os públicos, também há vontade de combater o preconceito dentro da própria religião.

Fernandes diz que muitos cristãos têm preconceito com a ficção por ser mentira, mas aponta que as histórias, na verdade, “são um meio de comunicar uma mensagem verdadeira em um contexto inventado”.

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