Fed corta juros nos EUA em 0,50 ponto, na primeira redução desde 2020

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Fed (Federal Reserve, o banco central americano) cortou as taxas de juros nos Estados Unidos em 0,50 ponto percentual, para a faixa entre 4,75% e 5,0%, nesta quarta-feira (18), iniciando o que se espera ser um ciclo de alívio constante da política monetária. Foi a primeira redução nas taxas desde 2020.

“O comitê ganhou maior confiança de que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção a [meta de] 2% e julga que os riscos para alcançar metas de emprego e inflação estão aproximadamente equilibrados”, disseram diretores do Fomc (comitê de política monetária dos EUA) em comunicado.

Dados de emprego mais fracos últimos meses levantaram dúvidas sobre se o banco havia demorado demais para reduzir as taxas. Após o anúncio, o presidente do Fed, Jerome Powell, negou que instituição tenha esperado muito tempo. “Não achamos que estamos atrasados. Mas essa mudança pode ser tomada como um sinal do nosso compromisso de não ficar para trás”, disse em coletiva de imprensa.

O corte de 0,50 ponto percentual é maior do que o ritmo mais habitual de 0,25 ponto do Fed e sugere que o banco está preocupado com as perspectivas de uma economia enfraquecida, após mais de um ano mantendo as taxas no nível mais alto desde 2001.

As novas estimativas econômicas desta quarta indicam que, até o fim deste ano, os diretores veem a taxa de referência caindo 0,50 ponto percentual, mais 1 ponto percentual em 2025 e, enfim, mais 0,50 ponto percentual em 2026, terminando o ciclo numa faixa de 2,75% a 3%.

Powell afirmou que as projeções dessa trajetória de cortes não implicam um processo urgente. “Não há nada que sugira que o Fomc esteja com pressa para fazer isso”, disse em referência à velocidade com que o banco provavelmente reduzirá os juros. Ele acrescentou que os dados orientarão as escolhas e que as reduções serão mais rápidas ou mais lentas conforme necessário.

A autoridade monetária também fez uma leve atualização, de 2,8% para 2,9%, na taxa básica de longo prazo, considerada uma postura “neutra”, que nem incentiva nem desencoraja a atividade econômica.

Embora a inflação “permaneça um pouco elevada”, o comunicado do Fed disse que os diretores optaram por cortar os juros “à luz do progresso na inflação e do equilíbrio dos riscos”.

Atualmente, a inflação americana está cerca de 0,50 ponto percentual acima da meta de 2% do Fed. As novas projeções mostram, agora, a taxa anual caindo para 2,3% até o final de 2024 e para 2,1% até o final de 2025.

Powell afirmou que mesmo diante de pressões inflacionárias claramente reduzidas, ele ainda não está pronto para dizer que a pressão sobre preços definitivamente arrefeceu.

“Não estamos dizendo que a missão está cumprida ou algo parecido”, quando se trata de levar a inflação de volta a 2%, “mas devo dizer que estamos animados com o progresso que fizemos” para alcançar a meta, disse o presidente do banco.

O comunicado dos diretores diz ainda que o Fed “estaria preparado para ajustar a postura da política monetária de forma apropriada se surgirem riscos que possam impedir a obtenção dos objetivos do comitê”, com atenção “a ambos os lados de seu duplo mandato” de preços estáveis e máximo emprego.

A projeção para a taxa de desemprego ao final do ano é de 4,4%, acima dos atuais 4,2%, e permanecendo dessa forma até 2025. O crescimento econômico é projetado para 2,1% até 2024 e 2% no próximo ano, o mesmo que na última rodada de projeções emitidas em junho.

Os dados do mercado de trabalho nos EUA estão no centro de preocupações recentes sobre a economia do país. O crescimento de empregos esfriou nos últimos meses e outras medidas de demanda, como vagas, também desaceleraram, embora o número de solicitações de benefícios de desemprego permaneça baixo.

O relatório de empregos em julho registrou o quarto aumento mensal consecutivo na taxa de desemprego -número que alarmou os mercados para uma possível recessão. Em agosto, o desemprego caiu, mas a criação de vagas continuou abaixo do esperado.

O presidente do Fed admitiu nesta quarta que o banco poderia ter reduzido as taxas de juros no final de julho se tivesse visto antes o relatório de empregos do mês, divulgado dias depois da reunião.

O Fed manteve a taxa de juros na faixa de 5,25% a 5,50% desde julho de 2023. Após a divulgação do corte, o dólar despencou no Brasil e passou a registrar queda de mais de 1%, cotado a R$ 5,41.

O presidente dos EUA, Joe Biden, também se manifestou sobre a mudança. “Acabamos de alcançar um momento importante: a inflação e as taxas de juros estão caindo enquanto a economia permanece forte”, disse em uma postagem no X (ex-Twitter). O assunto deve ser abordado novamente por Biden nesta quinta-feira (19).

Esta foi a última reunião do banco antes das eleições presidenciais. A queda nos custos de empréstimos será um benefício para a candidata democrata Kamala Harris, cuja campanha tem sido atormentada pelo descontentamento dos eleitores com os altos custos de vida.

A decisão desta quarta, no entanto, não foi unânime: a diretora Michelle Bowman defendeu um corte menor, de 0,25 ponto percentual. Ela foi a única a discordar e se tornou a primeira pessoa da diretoria a votar contra uma decisão de política monetária desde 2005.

Antes de 1995, as divergências dos diretores do Fed não eram raras. Desde então, foram os presidentes que representaram a maioria das mais de 90 dissidências nesse período. Em geral, os presidentes buscam consenso para evitar discordâncias que poderiam prejudicar a credibilidade da instituição.

Os dissidentes “sugerem claramente que eles não estão sofrendo de ‘pensamento de grupo'”, disse James Knightley, economista do ING, antes da reunião. “Há muitos riscos a serem equilibrados e [a discordância] sugere que estão sendo realizadas discussões difíceis.”

Bowman tem como prática divergir publicamente da maioria do conselho do Fed em relação a questões regulatórias, com apelos frequentes e repetidos por uma mão mais leve nos bancos.

No último ano, ela também se tornou uma das vozes mais agressivas do Fed em relação à política monetária, apoiando uma taxa de juros mais alta por mais tempo do que a maioria de seus pares, a fim de garantir o controle total da inflação.

A discordância de Bowman foi a primeira de um diretor do Fed a favor de uma política monetária mais rígida, em vez de mais frouxa, em quase 30 anos.

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