No primeiro dia do julgamento de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, acusados do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, familiares das vítimas prestaram depoimento, refletindo sobre os impactos profundos e duradouros das mortes, ocorridas em 14 de março de 2018.
Entre os depoentes estavam Marinete Silva, mãe de Marielle; Mônica Benício, viúva da vereadora; e Ágatha Arnaus, viúva de Anderson. As três compartilharam como a violência afetou suas vidas nos últimos seis anos e sete meses.
Os réus enfrentam acusações de duplo homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio contra Fernanda Chaves, assessora de Marielle, e receptação do veículo utilizado no crime. Lessa e Queiroz acompanharam os depoimentos por videoconferência, cada um de suas respectivas unidades prisionais.
Depoimentos Relevantes
O primeiro testemunho foi de Fernanda Chaves, que estava no carro com Marielle e Anderson no momento do assassinato. Após ela, Marinete, Mônica e Ágatha compartilharam suas experiências.
Marinete Silva descreveu o assassinato de sua filha como uma “crueldade” e expressou seu desejo por uma “condenação justa”. Ela recordou o esforço investido na criação de Marielle e mencionou a preocupação que tinha sobre a carreira política da filha: “Eu fui contra. Mas quem era eu para contrariar uma mulher de quase 38 anos?”.
Mônica Benício, emocionada, revelou que ainda busca tratamento psicológico devido à perda. Ela destacou a atuação de Marielle em causas sociais, enfatizando a importância do direito à moradia digna e a defesa das comunidades marginalizadas. “Marielle estava no momento mais feliz da vida dela. Seu assassinato interrompeu uma trajetória política em ascensão”, afirmou.
Em relação ao julgamento, Mônica expressou que, embora a justiça ideal fosse ter Marielle e Anderson vivos, espera que as condenações ocorram para que exemplos sejam dados e que crimes semelhantes não se repitam.
Impacto na Vida Familiar
Ágatha Arnaus, por sua vez, compartilhou a dor pessoal e os desafios enfrentados desde a morte do marido. Ela contou que o filho Arthur, então com um ano e oito meses, sofreu atrasos de desenvolvimento devido à ausência do pai. “O Arthur passava mal nos dias 13 e 14 do mês, quando a dor da perda se tornava mais presente”, relatou, enfatizando o peso emocional que a perda trouxe para a família.
Ela também revelou o desespero que sentiu quando Arthur necessitou de uma cirurgia, temendo por sua vida sem o apoio de Anderson. “Espero que as pessoas que me tiraram o Anderson paguem pelo que fizeram”, concluiu Ágatha.
Expectativas e Justiça
O julgamento segue com a expectativa de mais testemunhas, enquanto os familiares aguardam por justiça em um caso que simboliza a luta por direitos humanos e a necessidade de responsabilização em casos de violência política. A sociedade observa, na esperança de que o processo não apenas traga justiça para as vítimas, mas também sirva como um alerta contra a impunidade.