SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Apesar de o mundo estar em um processo de desinflação, o trabalho de combate à inflação ainda não terminou, avalia Paulo Picchetti, diretor de relações internacionais e risco corporativo do Banco Central.
“Estamos vivendo uma desinflação, e ao mesmo tempo temos o diagnóstico que você não chegou lá ainda, então falta o último quilômetro da corrida”, disse o diretor a jornalistas, nesta quinta-feira (29), em São Paulo, durante o encontro do G20.
Picchetti foi indicado ao BC pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que crítica o atual patamar da taxa de juros.
O Brasil foi um dos primeiros países a subir juros e agora também está na frente no processo de redução, com cortes de 0,5 ponto percentual a cada reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). Hoje, a Selic está 11,25% ao ano.
Em sua fala, ao final do encontro, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) disse que há um consenso dos países do G20 em relação à força da queda da inflação. “O mundo reconhece que o processo desinflacionário é real e consistente”, disse em entrevista a jornalistas após o fim das reuniões.
O ministro também disse esperar que os juros nos países desenvolvidos baixem em breve. “Juros altos machucam muito o mundo todo”, disse Haddad, citando o aumento no custo da dívida.
Segundo Picchetti, do BC, os aumentos nas taxas de juros mundo afora nos últimos anos estão sendo bem-sucedidos no combate ao aumento de preços, mas a estabilidade macroeconômica ainda não foi alcançada.
No Brasil e nos Estados Unidos, a inflação ainda não está dentro da meta.
No caso brasileiro, o IPCA acumula alta de 4,51% em 12 meses, ante uma meta de 3%. Nos EUA, o índice equivalente CPI acumulou 3,1% de janeiro de 2023 a janeiro de 2024, enquanto a meta é de 2%.
“Inicialmente, as pessoas acreditaram que estavam ali combatendo só choques de oferta, mas ao longo do tempo foi todo mundo foi entendendo que os programas de transferência que garantiram a existência de pessoas e de empresas criaram também um aumento de procura”, disse Picchetti.
De acordo com o diretor do BC, a combate à inflação foi tema de diversos debates durante o G20.
“Existe uma disposição de tratar com muita atenção essa trajetória final para garantir que a inflação seja efetivamente dominada e a gente não tome a corrida como vencida antes do último trecho.”
Investidores especulam quando os Bancos Centrais de países desenvolvidos vão começar a cortar juros. As autoridades monetárias, porém, não sinalizam que já seria possível reduzir as taxas, dado a resiliência nos preços.
Quando perguntado sobre a resiliência da inflação que não considera itens voláteis, como energia, Picchetti diz que essa é uma preocupação do Banco Central. “Vamos continuar acompanhando os dados.”