SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As guerras no Oriente Médio e no Leste europeu foram protagonistas no que deve ser uma das últimas viagens de Joe Biden ao exterior como presidente dos Estados Unidos. A visita à Alemanha ocorre em um momento crítico para esses dois conflitos -enquanto as eleições americanas podem jogar na incerteza o apoio de Washington à Ucrânia, na Faixa de Gaza o último líder do Hamas no território acaba de ser morto por Israel.
Antes de conversar a portas fechadas com o aliado Olaf Scholz, primeiro-ministro da Alemanha, em Berlim, Biden afirmou a jornalistas que discutiria esforços para aumentar o apoio militar à Ucrânia e fortalecer sua infraestrutura energética civil usando ativos da Rússia congelados após a invasão de Moscou ao país vizinho, em fevereiro de 2022.
Em um comunicado, o presidente americano disse ainda que a Ucrânia deve enfrentar um inverno difícil devido aos ataques contra a rede de energia do país, e por isso o Ocidente deveria manter seu apoio a Kiev. “Eu sei que o custo é alto, mas não se enganem, ele não se compara ao custo de viver em um mundo onde a agressão prevalece, onde grandes estados atacam e intimidam os menores simplesmente porque podem”, afirmou.
As declarações acontecem às vésperas das eleições presidenciais americanas do início de novembro, que podem levar Donald Trump, um crítico da ajuda à Ucrânia, de volta à Casa Branca. O republicano, que em pesquisas eleitorais aparece empatado com sua adversária, a vice-presidente Kamala Harris, já afirmou que pretende acabar rapidamente com a Guerra da Ucrânia se eleito, levantando suspeitas de um plano que envolveria muitas concessões a Moscou.
Apesar do aceno a Kiev, Biden afirmou a jornalistas antes de partir, durante a tarde, que não há consenso sobre o fornecimento de armas de longo alcance à Ucrânia -algo que o presidente Volodimir Zelenski vem solicitando há meses para realizar ataques mais profundos na Rússia e que foi reforçado em seu “Plano de Vitória”, apresentado nesta semana.
Após a reunião na capital alemã, Biden, Scholz, o presidente francês, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, reiteraram em um comunicado conjunto o apoio à Ucrânia “em seus esforços para conseguir uma paz justa e duradoura” e “baseada no direito internacional”.
Na nota, os quatro dirigentes ocidentais afirmaram também que a morte do líder do Hamas, Yahya Sinwar, em uma operação militar de Israel na Faixa de Gaza, nesta quinta (17), implica “a necessidade imediata” de libertar os reféns ainda cativos e finalizar a guerra em Gaza.
Sinwar era considerado o arquiteto do 7 de Outubro, quando o Hamas matou 1.170 pessoas e sequestrou 251 no sul de Israel. Desde então, a ofensiva de Tel Aviv no território palestino matou mais de 42 mil pessoas e deixou quase 100 mil feridos.
Após a reunião, Starmer disse a jornalistas que a necessidade de um cessar-fogo em Gaza e a libertação dos reféns israelenses também foi tema da reunião.”O mundo não tolerará mais desculpas sobre assistência humanitária”, disse. Segundo a ONU, nos próximos meses quase 345 mil pessoas enfrentarão níveis catastróficos de insegurança alimentar em Gaza, que teve a ajuda humanitária limitada por Israel após o início do conflito.
Anteriormente, ainda nesta sexta, o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, participou de uma cerimônia para conceder a Biden a mais alta ordem de mérito do país.
“Apenas alguns anos atrás, a distância havia se tornado tão grande que quase nos perdemos”, disse o presidente alemão sobre a Europa e os EUA durante o primeiro mandato de Trump, de 2017 a 2021. “Quando você foi eleito presidente, você restaurou a esperança da Europa na aliança transatlântica literalmente da noite para o dia.”