SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A percepção de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, é que o governo Lula irá cortar gastos para se adequar às metas fiscais para os próximos anos.
“O próprio arcabouço força uma diminuição de gasto fiscal. O quanto [será cortado] não nos arriscamos a colocar, mas entendemos que haverá uma desaceleração de gastos. E isso já está nas nossas projeções”, disse o economista durante palestra em evento do Safra nesta terça-feira (24).
Na ata da última reunião do Copom, divulgada nesta quarta, o comitê disse que espera um efeito positivo da desaceleração de gastos no combate à inflação.
Segundo Campos Neto, as expectativas para a alta de preços acima da meta do BC –a chamada desancoragem das expectativas–, causam desconforto. Além disso, ele disse julgar como exagerada a precificação de juros futuros.
A taxa para janeiro de 2026 está a 12,25% ao ano e a taxa para dez anos, em 12,36%.
“Mas nossa função não é julgar os preços de mercado e sim entender o que eles significam. E parece haver dúvidas em relação à qualidade e transparência dos dados [sobre gastos do governo], o que gera ruídos no longo prazo”, disse o presidente do BC.
“Há muitas discussões sobre novos gastos e programas [do governo], que geram incertezas quanto aos próximos anos, não só aqui, mas também em outros países. Poucos países têm um resultado primário positivo”
Campos Neto também afirmou que há uma relação histórica entre melhora fiscal e cortes de juros. Com a piora na inflação e nas expectativas, o BC subiu a Selic em 0,5 ponto percentual na semana passada, para 10,75% ao ano.
“Nas últimas reuniões do Copom tivemos um voto muito coeso e uma percepção unânime de que precisávamos comunicar de forma eficiente o que estávamos fazendo”, disse Campos Neto.