SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A francesa Engie foi a maior vencedora do último leilão de linhas de transmissão de 2024, realizado nesta sexta-feira (27), na sede da B3, a Bolsa de Valores de São Paulo. A empresa venceu o principal lote em disputa, que deve gerar cerca de R$ 3 bilhões de investimentos nos próximos cinco anos.
Ao todo, foram leiloados três lotes. Inicialmente, o Ministério de Minas e Energia previa quatro, mas um deles foi suspenso ainda em julho. A ideia inicial era que o certame contemplasse um empreendimento no Rio Grande do Sul, mas as chuvas e inundações de maio no estado afetaram a região onde seriam instaladas uma subestação e linhas de transmissão.
A Engie arrematou o primeiro lote do certame, que concentra 87% dos R$ 3,35 bilhões de investimentos previstos com construções e ajustes em linhas e subestações. Ao todo, serão construídos 780 quilômetros em linhas entre Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, Paraná e Santa Catarina, além de três novas subestações.
A empresa ofereceu uma receita anual de R$ 252,45 milhões para prestar os serviços previstos no lote, 48,14% a menos do que a receita de referência estipulada pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).
Nesse tipo de leilão, a empresa que oferecer o maior desconto ao preço de referência estipulado pela agência vence a disputa. Outras cinco empresas e consórcios manifestaram interesse em adquirir o lote, mas com propostas bem mais baixas que a da Engie.
O primeiro lote foi dividido em dois sublotes, sendo que o primeiro prevê construções de linhas em MG, SP, PR e SC, além de um empreendimento de transmissão existente entre Minas e o Espírito Santo, mas que está hoje em fim de concessão.
Já o segundo sublote prevê a construção de uma linha entre Santa Catarina e Paraná, além de uma subestação nova no primeiro estado e outras duas já existentes no segundo. A Aneel estima que as obras referentes ao primeiro lote gerarão 5.866 empregos. A Engie terá 60 meses para finalizar as obras, mas segundo o CEO da Engie Brasil, Eduardo Sattamini, a empresa deve terminar antes ele não detalhou quando.
“A gente tem uma solução de engenharia que reduz muito o peso das torres, reduz o traçado, mesmo considerando que a gente tem que lidar com situações climáticas mais adversas ali, que é uma região com ciclones”, disse após o leilão, se referindo às linhas que serão construídas em Santa Catarina e no Paraná.
“Agora, a gente espera que o governo cumpra a parte dele; não podemos ter o Ibama sendo um gargalo para licenciamento”, acrescentou. O órgão ambiental chegou a contestar outro empreendimento da empresa na região há quatro anos.
O lote foi dividido em dois para caso alguma empresa se interessasse mais por um dos sublotes, possibilitando ofertas para um especificamente. Na prática, porém, a Engie ofereceu o menor valor em ambos os casos. A empresa tem foco em geração de energia, mas pretende tornar a transmissão cerca de 30% de seus ativos (hoje é cerca de 20% da receita).
Como o segundo lote seria aquele reservado para linhas e subestações no Rio Grande do Sul, o certame seguiu para os lances do terceiro lote, que prevê a construção de uma subestação em São Paulo para atender a região de Jaú. O lote foi arrematado pela Taesa por uma receita anual de R$ 17,76 milhões, 53,45% a menos do que a referência da Aneel.
O terceiro lote foi o mais concorrido do certame. Ao todo, dez empresas ofereceram propostas. Como três delas (CPFL, EDP e Taesa) ofereceram valores iniciais com diferença menor do que 5% entre elas, o certame foi para a fase de viva-voz, quando representantes das proponentes, de forma presencial, abaixam suas ofertas a partir do lance dos concorrentes como em um leilão tradicional. Neste caso, o viva-voz durou dez lances.
A Taesa, cujos maiores acionistas são a Cemig e a colombiana Isa Cteep, precisará encerrar as obras em até 42 meses.
Já o último lote foi arrematado pela Cox Brasil, com receita anual de R$ 12,6 milhões, 55,56% a menos do que o preço de referência da Aneel. A empresa precisará concluir as obras em até 51 meses.
No total, os empreendimentos leiloados custarão anualmente aos consumidores de energia R$ 282,6 milhões. O valor é 48,9% menor do que o preço de referência estipulado pela Aneel e segue a previsão do mercado antes desta sexta. A forte concorrência também já era esperada, uma vez que empreendimentos de transmissão de energia têm baixo risco e preveem receita fixa às empresas.
Apesar da projeção bilionária de investimentos, o leilão desta sexta é menor do que os anteriores. O governo previa arrecadar, por exemplo, R$ 18,2 bilhões com o certame de março, que contemplava linhas e subestações em todas as regiões do país.