SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar e a Bolsa abriram a semana em estabilidade após três dias sem negociações em virtude do feriado da Proclamação da República na última sexta-feira (15), mas a moeda americana inverteu e fechou em queda firme diante de rumores de que o corte de gastos terá um impacto de R$ 70 bilhões nas contas públicas.
A moeda americana fechou em queda de 0,67%, nesta segunda-feira (18), cotada a R$ 5,748. Já a Bolsa terminou a sessão do dia com estabilidade, registrando uma variação negativa de 0,01%, a 127.768 pontos.
Os investidores estiveram atentos ao anúncio de prometidas medidas fiscais pelo governo brasileiro e monitoraram a reunião do G20, com os líderes das principais economias globais, no Rio de Janeiro. Expectativas para a inflação e a taxa de juros também pesaram na sessão do dia.
O feriado do Dia da Consciência Negra, nesta quarta-feira (20), deve impactar a movimentação do mercado, como ocorreu na última semana.
O mercado seguiu na expectativa pela divulgação das medidas de contenção de despesas do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), entrando agora na quarta semana de discussões.
Em falas na quarta-feira (13), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o pacote já está pronto e que o anúncio depende do presidente Lula.
O pacote de medidas de contenção de gastos, elaborado por Haddad, deve ter um impacto de cerca de R$ 70 bilhões nas contas públicas nos primeiros dois anos.
A economia é estimada por integrantes do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em R$ 25 bilhões a R$ 30 bilhões em 2025. Já em 2026, o alívio é calculado em R$ 40 bilhões.
O anúncio das ações que compõem o pacote ocorrerá após a Cúpula do G20, que acontece no Rio de Janeiro na segunda (18) e na terça-feira (19).
Segundo Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, apesar da demora na divulgação do corte, a expectativa do mercado é boa. “Se ele realmente cumprir o que está dizendo, isso será bem positivo”, disse.
Com ele concorda Cristiane Quartaroli economista chefe do Ouribank.
“O mercado está antecipando possíveis impactos desse pacote, o que contribui para a queda do dólar. No entanto, caso o pacote não atenda às expectativas ou traga algo muito diferente do esperado, isso pode gerar ajustes futuros no câmbio”, afirmou.
Para André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, além do forte otimismo do mercado em relação ao corte de gastos, a queda do dólar nesta segunda está relacionado a um ajuste após semanas de valorização da moeda.
“Nas últimas semanas, observamos uma valorização acentuada do dólar, especialmente após a vitória do candidato republicano nas eleições dos Estados Unidos. Foi uma das valorizações semanais mais fortes desde meados de 2023. Agora, o mercado está ajustando essa tendência, e o dólar tem perdido valor”, afirmou.
A SPE (Secretaria de Política Econômica) do Ministério da Fazenda revisou suas projeções para o crescimento econômico do Brasil em 2024, elevando a estimativa de 3,2% para 3,3%. Essa revisão reflete a expectativa de maior expansão no terceiro trimestre, cuja previsão passou de 0,6% para 0,7%.
Para 2025, a projeção de alta do PIB (Produto Interno Bruto) foi mantida em 2,5%, apesar da expectativa de aumento na taxa básica de juros, que deve ser compensada por melhores perspectivas para a safra de grãos e a produção extrativa.
Em relação à inflação, a SPE revisou para cima as projeções para 2024 e 2025, refletindo pressões recentes sobre os preços. A previsão para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em 2024 subiu de 4,25% para 4,40%, enquanto a de 2025 foi ajustada de 3,4% para 3,6%.
Esses números estão acima da meta de inflação do Banco Central, de 3%, e colocam a projeção para 2024 próxima ao teto da meta, de 4,5%.
No campo da política monetária, o Banco Central elevou a taxa básica de juros (Selic) para 11,25% ao ano em outubro, com o mercado projetando um novo aumento de 50 pontos percentuais na próxima reunião.
Já na cena internacional, os investidores estão precificando os possíveis efeitos das propostas de Donald Trump para a economia.
O republicano promete aumentar tarifas entre 10% e 20% sobre praticamente todas as importações norte-americanas, incluindo as que vêm de países aliados. Para os produtos chineses, o aumento prometido é de pelo menos 60%.
As tarifas inibem o comércio global, reduzem o crescimento dos exportadores e pesam sobre as finanças públicas de todas as partes envolvidas. É provável que elas aumentem a inflação nos Estados Unidos, forçando o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) a agir com juros altos por mais tempo -o que fortalece o dólar.
As projeções das propostas de Trump na economia têm ajustado posições de investimentos nos mercados globais. O movimento é chamado de “Trump Trade”, que tenta prever quais serão os ativos mais favorecidos pela política econômica do republicano.