SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar voltou a abrir em queda nesta quarta-feira (25), com os investidores analisando os dados do IPCA-15 de setembro, divulgado nesta manhã, e observavam uma moeda norte-americana mais forte no exterior com a dissipação do impulso gerado pelo estímulo econômico na China.
Às 9h05, a moeda norte-americana apresentava desvalorização de 0,31%, cotada a R$ 5,4447. Na terça-feira (24), o dólar fechou em forte queda de 1,34%, a R$ 5,460, e a Bolsa disparou 1,21%, aos 132.155 pontos.
A sessão de terça-feira foi pautada pelo maior pacote de estímulos econômicos anunciado na China desde a pandemia e, na cena doméstica, pela divulgação da ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central).
O governo chinês anunciou um conjunto de medidas para tirar a economia do atual estado deflacionário e voltar a atingir a meta de crescimento.
O presidente do Banco Central do país, Pan Gongsheng, disse que irá reduzir a quantia de dinheiro que os bancos mantêm de reserva, cortar algumas taxas de juros para injetar mais liquidez na economia e abaixar os custos de empréstimos. Também foram anunciadas medidas voltadas para impulsionar a compra de ações e o setor imobiliário.
Ainda que o governo não tenha divulgado quando as medidas vão entrar em vigor, o movimento marca a mais recente tentativa das autoridades de restaurar a confiança na segunda maior economia do mundo, depois que uma série de dados decepcionantes levantou preocupações sobre uma desaceleração estrutural prolongada.
O pacote provocou uma melhora na percepção global sobre o consumo na China, maior importador de matérias-primas do planeta, impulsionando ativos em diversos mercados, incluindo ações e moedas de países com relações comerciais profundas com o gigante asiático –caso do Brasil e outros emergentes exportadores de commodities.
“O pacote da China surpreendeu todo o mercado. O país é um grande consumidor de commodities, e o Brasil tem, entre os principais produtos exportados, justamente as commodities, como minério de ferro e petróleo”, diz Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.
Os ativos brasileiros ainda tiveram impulso com a divulgação da ata da última reunião do Copom, realizada na quarta-feira passada (18).
Ao decidir elevar a Selic de forma unânime em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, o comitê optou por não dar indicações sobre os próximos passos da política monetária do país diante de um conjunto de incertezas no horizonte.
O colegiado considera que o aumento das projeções de inflação de médio prazo tornou o cenário à frente mais desafiador e que o forte ritmo de crescimento da atividade econômica torna mais difícil o processo de convergência da inflação à meta.
O alvo perseguido pelo BC é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).
No cenário de referência do Copom, a projeção de inflação para o primeiro trimestre de 2026 situa-se em 3,5% (era de 3,4% em julho). Esse é o prazo trabalhado hoje pelo BC para a convergência do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
Além disso, a ata trouxe uma avaliação um pouco mais dura quanto à política fiscal, classificada pelo BC como expansionista. No entanto, disse ter incorporado em seus cenários uma desaceleração no ritmo de crescimento dos gastos públicos ao longo do tempo.
Em falas durante evento no Banco Safra nesta manhã, Roberto Campos Neto reforçou as pontuações da ata sobre os gastos públicos.
A percepção dele é que o governo Lula (PT) terá de conter as despesas para se adequar às metas fiscais para os próximos anos. “O próprio arcabouço força uma diminuição de gasto fiscal. O quanto [será cortado] não nos arriscamos a colocar, mas entendemos que haverá uma desaceleração de gastos. E isso já está nas nossas projeções”, disse.
Na análise da equipe macroeconômica do Itaú, a ata do comitê “deixou clara a mensagem de coesão entre os membros do comitê em relação ao início gradual do ciclo de aperto e outros aspectos do cenário” e que a meta de inflação em 3% será integralmente perseguida, “indicando que não há inclinação para utilizar as bandas de tolerância”.
A previsão do banco é que o próximo movimento do Copom seja de um aumento de 0,50 ponto percentual.