Um novo relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) revela dados alarmantes sobre o impacto dos desastres climáticos nos deslocamentos forçados. Segundo o documento “Sem Escapatória: Na Linha de Frente das Mudanças Climáticas, Conflitos e Deslocamento Forçado”, divulgado nesta terça-feira (12) na COP29, em Baku, no Azerbaijão, 220 milhões de pessoas foram obrigadas a deixar suas casas devido a desastres climáticos nos últimos dez anos – uma média de 60 mil deslocamentos por dia.
O relatório destaca que 90 milhões dos atuais 123 milhões de deslocados à força vivem em regiões com alta ou extrema suscetibilidade a riscos climáticos. Este número aumentou cerca de 5 milhões entre 2023 e 2024, evidenciando o agravamento da situação.
A conexão entre conflitos e desastres climáticos é ressaltada no documento, com países como Sudão, Síria, Haiti, República Democrática do Congo, Líbano, Mianmar, Etiópia, Iêmen e Somália exemplificando como as mudanças climáticas potencializam contextos de violência. Em 2022, mais de um quarto dos deslocamentos ocorreu em regiões afetadas tanto por desastres climáticos quanto por conflitos armados.
As projeções para o futuro também são sombrias. Especialistas preveem que, até 2040, o número de países sob riscos climáticos extremos aumentará de três para 65, sendo a maioria deles anfitriões de grandes populações de refugiados. A temperatura em áreas onde estão situados campos de refugiados deve aumentar drasticamente, resultando em dias mais quentes e colocando os moradores em risco ainda maior até 2050.
Além disso, os países em situação de extrema fragilidade recebem apenas US$ 2,10 per capita por ano em financiamento para adaptação climática. Dos 166 compromissos assumidos pelas nações para reduzir emissões de gases do efeito estufa, apenas 25 abordam o deslocamento relacionado a mudanças climáticas e desastres naturais.
A análise do Acnur, realizada em parceria com entidades como Alp Analytica e o Instituto Norueguês de Assuntos Internacionais, reforça a necessidade de ações urgentes para enfrentar a crise. O cenário projetado evidencia que os desafios climáticos e os conflitos geopolíticos continuarão impactando milhões de pessoas em todo o mundo, exigindo uma resposta global robusta e coordenada.