BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Defesa Civil vem alertando outros órgãos da Prefeitura de São Paulo há pelo menos um ano sobre a falta de pessoal para responder após o horário comercial a vendavais como o do último dia 11.
Um novo aviso à gestão de Ricardo Nunes (MDB) foi dado horas antes da tempestade que deixou mais de 1,3 milhão de pessoas sem energia elétrica na capital paulista.
“Com o nosso pessoal em campo e mais o pessoal do DZU (Departamento de Zeladoria Urbana) e ainda os Bombeiros, não é o suficiente. Todos os anos a gente bate na mesma tecla de que temos que rever esses contratos, mas até agora nada foi mudado”, disse o coordenador da Defesa Civil, Ailton Rodrigues de Oliveira, em reunião de trabalho na manhã da sexta-feira (11), dia do vendaval.
Procurada, a prefeitura disse que “as operações de emergência de poda e remoção de árvores são feitas a qualquer hora, durante os finais de semana ou feriados, e com esquema de plantão diante dos eventos climáticos severos” e afirmou que “refuta veementemente esse comentário sem base em dados reais”.
A fala de Oliveira aconteceu em encontro que reuniu o grupo de trabalho do Plano Preventivo de Chuvas de Verão (PPCV) da prefeitura, que precisa apresentar um plano de ação para vigorar a partir de novembro.
Na ata da reunião, obtida pela Folha, não há registro de que as declarações do coordenador da Defesa Civil tenham sido rebatidas durante o encontro
Oliveira fazia referência às contratações de equipes de manejo arbóreo, sob a responsabilidade das subprefeituras. Havia 144 equipes atuando na cidade em março, mas os contratos limitam a atuação delas ao horário comercial.
Uma extensão deles para depois do horário habitual de chuvas fortes havia sido pedida pela Defesa Civil como “pendência para fechar o PPCV” antes do verão passado, o que não foi atendido. O mesmo texto voltou a aparecer na lista de pendências para PPCV do próximo verão.
“Normalmente, nos contratos da subprefeitura o pessoal trabalha até às 16h, mas nós sabemos que durante as chuvas de verão as coisas acontecem após 16h. Não é que não tenha equipes. As equipes do DZU fazem o possível e impossível para atender a demanda, mas, mesmo assim, não é o suficiente, porque por vezes nós temos muitas ocorrências”, disse ainda Oliveira na reunião.
Dados da própria Defesa Civil mostram que o pico de ligações para o 199 acontece entre 17h e 18h e que a maior parte das ocorrências é relacionada a corte de árvores.
“Então, se as equipes encerram às 16h, elas vão praticamente fazer o trabalho do problema daquele dia no dia seguinte, não é? “, questionou o coordenador da Defesa Civil durante a reunião.
Ao menos 380 árvores caíram na noite da sexta-feira 11 de outubro em São Paulo.
Os contratos de manejo arbóreo da prefeitura de São Paulo têm por padrão uma rotina de 44 horas semanais, que inclui atuação no sábado das 7h às 11h, com descanso aos domingos.
O representante da Defesa Civil apresentou outros gargalos na reunião.
Um deles, a falta de equipe. Pelo organograma apresentado pela Defesa Civil, além de uma Divisão Resposta, de primeiro atendimento, com nove equipes 24 horas, há uma “equipe de resposta de comando” com um único diretor em regime de plantão das 19h às 7h em dias comuns e em feriados e finais de semana.
A falta de pessoal foi confirmada, em ofício, pela divisão de Defesa Civil do Ipiranga. Em resposta a um requerimento, na terça-feira (15), o setor disse que “está desprovido de efetivo e equipamento de seguranças (EPIs) para realizar o atendimento de ocorrências de árvores”.
Haviam sido 32 quedas de árvore desde 11 de outubro naquela subprefeitura, encaminhadas à Unidade de Áreas Verdes da Subprefeitura.
Nesta quinta-feira (17), após questionamento da Folha sobre a falta de EPIs, a prefeitura abriu um processo de compra de equipamentos como capacete e protetores diversos. Recentemente a Defesa Civil realizou pregão eletrônico para compra de botas e de uniformes para as equipes. A última “aquisição significativa” de uniformes havia acontecido em 2019, segundo o órgão.
Em nota, a gestão Ricardo Nunes disse que “todos os agentes da Defesa Civil possuem equipamentos de proteção individual (EPIs) para o atendimento das ocorrências, como capacetes de policarbonato, luvas de couro, botas de couro e cano alto apropriadas e aparelhagens de motosserra e motopodas”.