SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Silvio” estreia nos cinemas nesta quinta-feira com o ator e apresentador Rodrigo Faro interpretando Silvio Santos. Ator, diretor e produtores afirmam que tentaram levar às telas um Silvio humano, que ninguém nunca viu. Para mostrar a pessoa, Senor Abravanel, em vez do apresentador e dono do SBT, escolheram um momento de sua vida do qual ninguém sabe realmente tudo o que aconteceu.
O período escolhido, no dia 30 de abril de 2001, cobre as quase oito horas que Silvio passou sob a mira de uma arma em sua casa, em São Paulo. Quem a empunhava era o rapaz que, dias antes, manteve sua filha Patricia Abravanel sequestrada durante uma semana, até o pagamento de resgate de R$ 500 mil.
Dois dias após a libertação de Patricia, o criminoso, Fernando Dutra Pinto, foi encontrado num flat por policiais. Conseguiu fugir, deixando ali quase R$ 460 mil. Na fuga, ele matou dois policiais. Ferido e com medo de ser morto, o sequestrador invadiu a residência do apresentador, e os dois ficaram ali, cercados pela polícia e pela mídia. O sequestro só terminou com a presença do então governador Geraldo Alckmin, que deu garantia de proteção a Dutra, que se entregou.
A questão que “Silvio” suscita é: o quanto aquilo que é mostrado na tela chega perto do que realmente aconteceu? Os diálogos do filme reproduzem muito do que foi realmente dito por Silvio e os policiais quando tratavam da negociação para que Dutra se entregasse. Mas as conversas dentro da cozinha da casa, entre sequestrado e sequestrador, isto é, o grande recheio do filme, nasceram no roteiro.
E o que foi dito ali não tem mais como ser averiguado. Silvio Santos nunca deu detalhes do sequestro e morreu no último 17 de agosto. Dutra morreu na cadeia, cinco meses após sua prisão. A política diz que a morte foi causada por uma parada cardíaca, enquanto ONGs que defendem os direitos humanos afirmam que ele morreu por ferimentos de tortura e negligência médica, sem comprovação.
Alguns episódios da vida de Silvio, desde garoto, são contados em flashbacks. Outros atores personificam Silvio criança e jovem, e Rodrigo Faro tem, em algumas dessas voltas ao passado, a chance de interpretar Silvio em ação, no palco, com seu vocabulário característico e frases que acabaram se tornando bordões. Mas o desafio do ator estava nas cenas tensas na cozinha, durante o sequestro, ele diz.
“Fiz o trabalho inverso do que normalmente um ator faz. A gente partiu do exagero e foi diminuindo, tirando a caricatura, até chegar a uma prosódia natural”, diz Faro. “Não tinha sentido algum fazer o Silvio com aquela maneira de falar na TV, aquele Silvio que todo mundo gosta de imitar. Durante o sequestro, é um Silvio acuado, com medo, preocupado com a vida dele, com a família dele.”
Segundo o ator, quem teve oportunidade de conversar com ele fora das câmeras sabe que, no dia a dia, seu modo de falar era um pouco diferente. “Tive essa honra e esse prazer de bater papo com ele no camarim, quando fui pedir a permissão para fazer o filme. A pontuação ao falar talvez seja a mesma, mas o volume e a projeção da voz são outros.”
Durante as filmagens, Faro precisou se concentrar em separar o que ele chama de “pessoa jurídica”, que é o apresentador de televisão, e a “pessoa física”, o empresário Senor Abravanel. “No set, em alguns momentos, Marcelo precisava insistir comigo e berrar: Menos Silvio! Mais Senor!. Foi um grande desafio.”
O episódio do sequestro de Silvio trouxe uma situação inédita para os negociadores do Gate, o Grupo de Ações Táticas Especiais, da Polícia Militar de São Paulo. Pela primeira vez, uma negociação para o desfecho do caso foi travada com o sequestrado, não com o sequestrador, porque Silvio ganhou a confiança do criminoso. “Daí vem a genialidade, a inteligência emocional, a sabedoria, o poder de persuasão desse cara que transforma a situação”, diz Faro.
Para chegar a esse ponto, o filme avança na ficção e vai construindo uma suposta relação em que o sequestrador reconhece empatia em Silvio, que exerce uma influência quase paternal sobre o criminoso, interpretado por Johnnas Oliva.
Além de visitar o bairro onde o rapaz morava, o culto evangélico e outros lugares que Dutra frequentava, o ator conseguiu comprar em um sebo uma biografia do sequestrador, de tiragem esgotada. “Ele é um desses meninos que não têm chance à educação, à cultura, a uma empatia, a um olhar afetuoso. Ele era querido, um galãzinho para as meninas que o adoravam. E era muito educado, tanto que no filme a gente não usa termos como mano e palavras ligadas à bandidagem.”
Oliva lembra que, depois de ter a ideia de sequestrar a filha de um ricaço para pedir dinheiro, Dutra comprou uma biografia de Silvio Santos numa banca de jornal. Depois de ler, decidiu que a vítima seria a filha dele.
Para tentar potencializar a tensão na relação entre Silvio e Dutra, Faro e Oliva decidiram passar todo o período de filmagem separados um do outro. A ideia foi que eles se encontrassem apenas nos momentos de gravação. “Até almoçávamos separados. A gente só se encontrava já assumindo os personagens. Foi ótimo para aumentar a tensão. Depois das filmagens, nos tornamos amigos”, conta Oliva.
A morte recente de Silvio deve aumentar o potencial de bilheteria do filme, que já tinha data de lançamento marcada há meses. “Tudo o que aconteceu nessas últimas semanas fez com que esse filme ganhasse uma atmosfera de emoção, de saudade. Era inicialmente uma homenagem para ser feita em vida, mas Deus não quis assim”, diz Faro.
Silvio
Quando Estreia nesta quinta-feira (12)
Onde Nos cinemas
Classificação 14 anos
Elenco Rodrigo Faro, Johnnas Oliva, Vinícius Ricci, Fellipe Castro e Marjorie Gerardi
Direção Marcelo Antunez