Como as ondas do terremoto no Chile viajaram 2.200 km para chegar a São Paulo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O chão tremeu em vários bairros da capital paulista na noite desta quinta-feira (18), após um terremoto de magnitude 7,4 ser registrado a 2.200 km de distância, na região da pequena cidade de San Pedro do Atacama, no Chile. O tremor também foi sentido em ao menos outras 14 cidades do estado de São Paulo.

O exemplo mais comum para explicar como funciona a viagem da vibração dos terremotos é o de jogar uma pedrinha em uma poça d’água. As ondas produzidas se propagam em círculos e vão perdendo forma (e força) quanto mais distantes estiverem do centro.

Para entender o sacolejo em solo paulista é necessário imaginar uma quantidade de energia maior do que a da pedra na água. Aproximadamente a de 32 bombas atômicas como a lançada pelos EUA em Hiroshima, no Japão, na Segunda Guerra Mundial. Essa vibração se propagou pela crosta, camada da superfície terrestre com até 100 km de profundidade onde pisam os chilenos e brasileiros que sentiram o tremor.

O evento da noite de quinta ocorreu, segundo o SGB (Serviço Geológico do Brasil), a 116 km de profundidade, já no manto, a camada que fica abaixo da crosta.

A onda primária de vibração causada pelo sismo neste ponto costuma viajar a uma velocidade média estimada de 7,5 km por segundo, de acordo com George Sand, físico e professor titular do Departamento de Geofísica do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP.

A velocidade é estimada porque as superfícies pelas quais as ondas passam não são lineares nem regulares, diz o pesquisador, e ela é reduzida na crosta. Se considerada a velocidade da onda no manto, ela levaria cinco minutos para viajar de San Pedro do Atacama a São Paulo.

O tremor ocorreu em uma região de contato entre a placa tectônica Sul-Americana -sobre a qual o Brasil e seus vizinhos estão assentados- e a de Nazca, na região do oceano Pacífico.

O fenômeno que causou o terremoto é chamado de subducção. Significa que a placa de Nazca, oceânica e mais densa, está subductando -mergulhando- sob a Sul-Americana, continental e menos densa, nesta zona limítrofe.

“Quando elas entram em contato, essa energia acumula e é liberada”, diz Marcos Ferreira, geofísico do Serviço Geológico do Brasil (SGB). “Esse movimento de subducção ocorre em toda essa costa, do sul da Argentina e do Chile até a Colômbia.

De acordo com o Centro de Sismologia da USP, a placa de Nazca se move para baixo da Sul-Americana a uma velocidade de 74 milímetros por ano.

Por estar na parte central de uma placa tectônica, o Brasil é mais suscetível a marolas sísmicas do que ao tipo de tremor que ocorreu no Chile. “Não se pode dizer ‘nunca’, mas a possibilidade é muito remota, porque tremores maiores, com magnitude acima de 7, ocorrem nos limites das placas”, afirma Sand.

Um dos tremores no Brasil que chegaram perto em intensidade aconteceu em 1955. Com magnitude 6,2, o epicentro foi registrado 370 km ao norte de Cuiabá, em Mato Grosso, segundo o SGB. Já em 1980, a população de praticamente todo o Nordeste sentiu um tremor de magnitude 5,2, que danificou casas em Pacajus, no Ceará.

O Acre registrou tremores em janeiro deste ano e em 2022, com magnitudes, respectivamente, de 6,6 e 6,5, ainda que sem danos. Em 2019, segundo o SGB, um terremoto de magnitude 6,8 foi registrado em Tarauacá, a 381 km da capital, Rio Branco.

Em São Paulo, moradores de prédios, especialmente os que vivem em andares mais altos, podem ter sentido mais o tremor. A vibração perto do solo é mais fraca, e nos edifícios é amplificada e transmitida até as extremidades.

“Quando um corpo parado começa a vibrar embaixo, a parte de cima também vibra”, diz Ferreira, do SGB. “Nos prédios, as pessoas nos andares superiores sentem mais a vibração porque ela é um pouco maior, e o efeito se torna um pouco mais evidente.”

Ainda de acordo com o Centro de Sismologia da USP, algumas partes de cidades como São Paulo e de outras regiões do estado e do Brasil estão sobre bacias sedimentares, que acumulam sedimentos de diferentes tipos de rocha ao longo de milhões de anos e facilitam a propagação de ondas sísmicas.

Assim, mesmo que a onda chegue fraca, é amplificada pela bacia. No caso da cidade de São Paulo, essas áreas estão, por exemplo, sob a avenida Paulista. É por isso, segundo, Sand, da USP, que algumas regiões da cidade registraram tremores, e outras, não.

Apesar de as chances de um terremoto como o do Chile atingir o Brasil serem extremamente baixas, a Defesa Civil de São Paulo recomenda que, em caso de tremores, o ideal é que a pessoa se abaixe, proteja cabeça e pescoço com os braços e se segure até que o fenômeno pare.

Na falta de abrigo, como mesa ou móvel resistente, a pessoa pode ficar nesta posição junto a uma parede interna.

Durante os tremores e logo depois deles as pessoas também não devem usar elevadores. Após um tremor é importante usar sempre as escadas para deixar o local e seguir as demais instruções de segurança.

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