Collant de Rebeca Andrade ganha destaque no Museu Olímpico, na Suíça

LAUSANNE, SUÍÇA (FOLHAPRESS) – Na entrada principal da estação central de trem, uma frase chama a atenção: “Lausanne, capital olímpica”.

Não é à toa. Desde 1915, a cidade suíça abriga a sede do COI (Comitê Olímpico Internacional). E à beira do lago Léman, conhecido como lago Genebra, fica o Museu Olímpico, que tem a maior coleção do planeta sobre os Jogos, com mais de 90 mil itens. Dentre eles, a peça de maior destaque no momento é da ginasta Rebeca Andrade.

O collant amarelo usado pela brasileira na conquista da prata na prova do individual geral em Paris-2024 está em exibição bem na entrada do museu. A maior medalhista olímpica da história do Brasil, com seis pódios, sendo dois ouros, doou a peça depois dos Jogos da capital francesa.

“Rebeca é uma inspiração para meninas na América do Sul e ao redor do mundo e queremos contar no museu olímpico histórias como a dela, que representam os valores olímpicos de excelência, respeito e amizade”, disse a diretora associada do museu Yasmin Meichtry, à Folha.

Segundo Yasmin, o primeiro contato com Rebeca foi nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2021, quando a brasileira ganhou o ouro no salto.

“Quase quatro anos e uma edição dos Jogos depois, o momento mágico aconteceu quando Rebeca decidiu doar o collant amarelo. Estamos muito honrados por ela ter feito isso, e mais ainda de mostrá-lo para nossos visitantes”, disse.

A diretora explicou que, assim que foi recebido em Lausanne, o collant foi catalogado, fotografado e, assim como os outros itens, colocado em exposição em temperatura e posição ideais de acordo com peso e fragilidade.

O museu tem 15 objetos usados ou autografados por atletas brasileiros. Entre eles, uma bola assinada por Pelé e outra autografada pela seleção feminina de vôlei, campeã olímpica em Londres-2012; o biquíni de Jaqueline Silva, que conquistou com Sandra Pires o primeiro ouro olímpico do Brasil no vôlei de praia, em Atlanta-1996; os uniformes do ginasta Arthur Zanetti e do boxeador Robson Conceição, campeões olímpicos em 2012 e 2016, respectivamente.

Entre os objetos recentes de medalhistas de Tóquio estão o skate de Rayssa Leal e uma camiseta autografada pelo surfista Italo Ferreira. De Paris, além do collant de Rebeca, fazem parte da coleção o uniforme de Duda, ouro no vôlei de praia ao lado de Ana Patrícia, e uma bola autografada pela dupla.

Sabe qual foi a primeira medalha do atletismo brasileiro na história dos Jogos Olímpicos? O bronze de José Telles da Conceição no salto em altura, nos Jogos de Helsinque em 1952. Seu uniforme também faz parte do acervo.

Há outras menções ao Brasil espalhadas pelo museu. Na escadaria principal do lado de fora está gravado o nome do maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima, que foi bronze em Atenas-2004 e acendeu a pira dos Jogos do Rio, em 2016. A mascote e a tocha da edição brasileira também estão expostas.

Passear pelo museu é fazer uma viagem no tempo e mergulhar na história dos Jogos Olímpicos através de 58 mil horas de imagens e 1,5 km de documentos raros.

A visita começa por uma área dedicada aos Jogos Olímpicos da antiguidade, em Olímpia, na Grécia. O início do evento coincidia com festivais religiosos e o culto a Zeus, e só homens podiam participar.

Em seguida, a exibição retrata como Pierre de Coubertin planejou os primeiros Jogos da Era Moderna, em Atenas, em 1896. Coubertin acreditava no esporte como ferramenta de transformação, criou o símbolo dos anéis olímpicos, representando as cinco regiões do planeta, e presidiu o COI. Quando morreu, em 1937, teve atendido o desejo de ter o corpo enterrado em Lausanne, e o coração, em Olímpia.

Um longo mural no museu lembra datas icônicas, como a primeira participação de mulheres, em 1900, e a criação da equipe de refugiados, em 2016.

Há partes dedicadas ao revezamento da tocha, às mascotes, à ligação da moda com os Jogos e às transformações urbanísticas de cidades para sediar o evento. Existe também um espaço dedicado à evolução da cobertura da imprensa: de fotos em preto e branco nos jornais no século 19 às mais de mil câmeras de alta definição hoje em dia.

O visitante também pode assistir a trechos das cerimônias de abertura exibidas em um telão. Aprender como esportes são incluídos ou saem do programa olímpico. Ver de perto as sapatilhas usadas por Jesse Owens, que levou quatro ouros no atletismo nos Jogos de 1936, na Alemanha nazista; a bola de basquete autografada pelo Dream Team, a equipe norte-americana ouro em Barcelona-1992; o par de tênis de Rafael Nadal e a camiseta de Usain Bolt, campeões olímpicos em Pequim-2008.

Dá para continuar a visita no prédio ao lado, onde fica o Centro de Estudos Olímpicos. Aberto ao público, possui 40 mil artigos e livros, 400 jornais acadêmicos, dossiês de cidades candidatas -como Brasília, que tentou sediar os Jogos do ano 2000, além de documentos raros de edições olímpicas desde 1896.

O local tem parceria com 75 instituições de ensino e centros de pesquisa ao redor do mundo, incluindo quatro universidades no Brasil, para troca de experiências e conhecimento.

“Quando os Jogos Olímpicos acabam, eles entram para a história e continuam relevantes para todos os tipos de pesquisa” disse Maria Bogner, chefe do Centro de Estudos Olímpicos.

“Nosso objetivo é apoiar a educação e os estudos sobre os Jogos e compartilhar conhecimento. A história olímpica nunca morre e precisa ser preservada e estar disponível para as futuras gerações.”

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