Brasil reduz emissões de gases do efeito estufa em 12% em 2023; queda no desmatamento da Amazônia é principal fator

Foto: Jader Souza/ALRO

O Brasil registrou uma significativa redução de 12% nas emissões de gases do efeito estufa em 2023, comparado ao ano anterior, de acordo com dados do Observatório do Clima divulgados nesta quinta-feira (7). Essa foi a maior queda percentual desde 2009, impulsionada pela diminuição expressiva no desmatamento da Amazônia, que reduziu as emissões de 1,074 bilhão para 687 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente.

Em 2023, as emissões totais de gases no Brasil somaram 2,3 bilhões de toneladas, uma queda em relação às 2,6 bilhões emitidas em 2022. A redução das emissões de desmatamento na Amazônia foi um avanço importante para as metas climáticas nacionais, mas especialistas apontam desafios com o aumento da degradação em outros biomas, como o Cerrado e o Pantanal.

Impacto da redução do desmatamento e desafios em outros biomas

O desmatamento na Amazônia teve um papel central na diminuição das emissões, porém os dados mostram um aumento significativo em outros biomas: as emissões por desmatamento e queima de biomassa subiram 23% no Cerrado, 11% na Caatinga, 4% na Mata Atlântica e 86% no Pantanal. Apenas o Pampa, com uma queda de 15%, registrou uma diminuição, mas ainda representa apenas 1% do total das emissões do Brasil.

“O combate ao desmatamento na Amazônia tem mostrado resultados, mas há um ‘vazamento’ para outros biomas. Isso precisa ser solucionado urgentemente para que o Brasil consiga alcançar suas metas de mitigação”, afirma Bárbara Zimbres, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Agropecuária e uso da terra: principais fontes de emissões

As mudanças de uso da terra e a agropecuária foram os principais setores emissores em 2023. O setor agrícola registrou o quarto recorde consecutivo de emissões, respondendo por 28% das emissões totais do Brasil, impulsionado pela expansão do rebanho bovino. A maior parte das emissões agrícolas advém da fermentação entérica (arroto do gado), que gerou 405 milhões de toneladas de CO2e, mais do que a emissão total de países como a Itália.

Gabriel Quintana, analista do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), ressalta que o crescimento das emissões agrícolas está ligado ao aumento do rebanho e ao uso de insumos agrícolas, como calcário e fertilizantes nitrogenados. “O desafio do setor é alinhar a redução de emissões com a produtividade, especialmente diminuindo o metano e adotando práticas que sequestram carbono no solo”, afirma Quintana.

Setores de resíduos, energia e o impacto das queimadas

Nos setores de resíduos e energia, as emissões cresceram ligeiramente, 1% e 1,1%, respectivamente, em razão do aumento do consumo de combustíveis fósseis, como óleo diesel e gasolina. Esse crescimento compensou a redução nas emissões energéticas advindas da diminuição de 8% na geração de energia por termelétricas fósseis.

Já as emissões resultantes de queimadas de pasto e vegetação nativa caíram 38% e 7%, respectivamente, mas o Observatório do Clima alerta que, devido às mudanças climáticas, essas emissões podem se tornar uma ameaça maior no futuro.

Metas e próximos passos do Brasil para a NDC

David Tsai, coordenador do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), destaca que a redução em 2023 é positiva, mas reforça a necessidade de uma descarbonização mais abrangente. O Brasil deve submeter sua nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) até fevereiro de 2025, com metas alinhadas ao Balanço Global do Acordo de Paris, encerrado este ano na COP28, em Dubai.

“A queda nas emissões é uma boa notícia, mas dependemos excessivamente do que ocorre na Amazônia. O Brasil precisa de um plano de descarbonização consistente que promova transformações na economia e contemple também os demais biomas”, conclui Tsai.

A redução nas emissões de 2023 marca um avanço, mas deixa evidente o desafio de equilibrar preservação ambiental e crescimento econômico sustentável em todo o território nacional.

Fonte: ABr

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