SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O candidato Guilherme Boulos (PSOL) decidiu apostar na reta final da campanha eleitoral na exposição de episódio em que a mulher de Ricardo Nunes (MDB) fez um boletim de ocorrência por violência doméstica contra o prefeito de São Paulo.
Peça de campanha do psolista que foi ao ar nesta quinta-feira (19) entrevista pessoas na rua sobre o episódio, explorando contradições de Nunes sobre o assunto. O material mostra declarações contraditórias de Nunes sobre o tema.
O prefeito e o deputado federal estão empatados tecnicamente na disputa eleitoral, segundo pesquisa Datafolha, mas Nunes tem ampla vantagem na simulação de segundo turno entre eles.
Em entrevistas na rua em formato que lembra o jornalismo televisivo, pessoas são questionadas se votariam numa pessoa que tem na ficha um boletim de ocorrência desse tipo. “Nunca”, responde um dos entrevistados.
Em outra peça, voltada a políticas contra feminicídio, Nunes também é citado como alguém que tem uma experiência pessoal com a lei Maria da Penha.
Nunes já chegou a ser confrontado em sabatinas e debates com o episódio e sempre demonstra irritação e nega a veracidade do que consta do boletim.
O caso foi revelado em 2020 pela Folha de S.Paulo. À época, Nunes era vereador e disputava a eleição como vice de Bruno Covas (PSDB).
Em 18 de fevereiro de 2011, Regina Carnovale registrou boletim de ocorrência contra o então vereador na 6ª Delegacia da Mulher, em Santo Amaro, zona sul de São Paulo.
Na ocasião, ela afirmou aos policiais que havia vivido em união estável por 12 anos com Nunes e que eles tinham se separado sete meses “devido ao ciúmes excessivo” dele.
“Inconformado com a separação, [Nunes] não lhe dá paz, vem efetuando ligações proferindo ameaças, envia mensagens ameaçadoras todos os dias e vai em sua casa onde faz escândalos e a ofende com palavrões. Afirma a vítima que diante da conduta de Ricardo está com medo dele”, diz um dos trechos do boletim de ocorrência registrado por Regina.
A reportagem também teve acesso a registros de publicações em redes sociais nas contas de Regina. Os posts em seu nome relatam brigas por pensão alimentícia, chamam o político de bandido e dizem que tem provas de que sofreu agressões.
Nunes sempre negou qualquer agressão e disse que o boletim de ocorrência foi feito em um período em que Regina estava abalada e falou coisas que não aconteceram. Em 2020, à Folha de S.Paulo, Regina também enviou uma nota, assinada de próprio punho, negando as agressões.
“Sobre o boletim, eu estava em um momento difícil, muito sensível e acabei dizendo coisas que não são reais, tanto é que estamos juntos há mais de 20 anos, sendo que esse boletim foi feito em 2011, 9 anos atrás. Amo meu marido e vivemos com nossos filhos em perfeita harmonia”, diz ela.
Sobre as publicações no Facebook, ela afirmou que o site foi hackeado e que não fez as publicações, que teriam sido para prejudicar o marido.
Um mês após a reportagem da Folha de S.Paulo, publicada em outubro de 2020, Regina mudou sua versão sobre denúncia contra o marido e disse não se lembrar de ter feito um boletim de ocorrência policial sobre o tema.
Posteriormente, em 2021, quando Nunes já era prefeito, ele afirmou no programa Roda Viva que a esposa afirmou nunca ter registrado o boletim, sendo confrontado pela apresentadora Vera Magalhães.
“Ela diz que nunca ocorreu. Ela fez a contratação de um advogado para solicitar na delegacia esse documento, que não existe. O provimento diz que tem que ficar 20 anos arquivado, que não tem”, disse Nunes.
Em julho passado, ao ser questionado sobre o tema durante sabatina Folha/UOL, o prefeito afirmou que o boletim foi “forjado”, afirmação rebatida no mesmo dia pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.
Posteriormente Nunes deturpou em vídeo o que ele mesmo havia dito sobre o boletim de ocorrência de violência doméstica. “Em nenhum momento afirmei que aquele BO é falso como documento. O que eu disse na entrevista é que o seu conteúdo tem informação que não corresponde à realidade.”