SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A sede da ONU, em Nova York, foi palco de mais uma rusga entre Brasil e Israel nesta sexta-feira (27), quando a delegação do governo Lula aderiu a um boicote a Tel Aviv, assim como a maioria dos representantes dos países que estão na cidade para a Assembleia-Geral das Nações Unidas.
O representante brasileiro deixou o plenário antes de o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, começar sua fala e retornou para assistir ao discurso seguinte. O movimento é um protesto à Guerra Israel-Hamas na Faixa de Gaza, que já deixou mais de 41 mil mortos no território palestino, a maioria civis, segundo autoridades ligadas à facção.
Relembre os principais atritos entre os governos brasileiro e israelense desde o início do conflito a seguir.
MENÇÃO AO HAMAS
No mesmo dia do ataque de 7 de outubro do ano passado contra o sul de Israel, que deu início à guerra, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) classificou de terrorista o ato que matou 1.200 pessoas, segundo Tel Aviv, mas não citou o Hamas, que havia reivindicado o atentado.
“Fiquei chocado com os ataques terroristas realizados hoje contra civis em Israel, que causaram numerosas vítimas. Ao expressar minhas condolências aos familiares das vítimas, reafirmo meu repúdio ao terrorismo em qualquer de suas formas”, afirmou. A ausência de uma menção à facção, porém, foi criticada na época.
CRÍTICAS A NETANYAHU
Em dezembro do ano passado, quando viajou ao Oriente Médio, Lula criticou o premiê israelense por sua condução da guerra. “Como governante, ele [Netanyahu] é uma pessoa muito extremista, de extrema direita e com sensibilidade baixa em relação aos problemas do povo palestino”, disse. “Ele pensa que os palestinos são pessoas de terceira ou quarta classe”, completou.
COMPARAÇÃO COM HOLOCAUSTO
Lula já chamou a guerra em Gaza de genocídio diversas vezes incluindo na última viagem à Nova York. Em uma delas, em fevereiro deste ano, fez um paralelo com o Holocausto, extermínio de judeus promovido por Adolf Hitler na Segunda Guerra Mundial.
“O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”, afirmou o petista durante uma visita à Etiópia.
Após a declaração, o governo israelense convocou o embaixador brasileiro em Tel Aviv para prestar esclarecimentos, e Netanyahu afirmou que o comentário de Lula foi “vergonhoso” e “cruzou a linha vermelha”.
PERSONA NON GRATA E EMBAIXADOR RETIRADO
A reprimenda à fala de Lula sobre o Holocausto escalou a crise entre os dois países.
Após a declaração, o chanceler israelense, Israel Katz, convocou o embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer a dar explicações. O encontro, marcado para ocorrer na sede do Ministério de Relações Exteriores, foi transferido para o Yad Vashem, mais importante memorial sobre o Holocausto.
Ali, Katz disse a Meyer que Lula seria persona non grata em Israel até que retirasse o que havia dito. A mudança inusitada e a forma como os israelenses organizaram a reprimenda foi vista pelo Itamaraty como uma forma de constranger o governo brasileiro, que retirou Meyer do posto. Desde então, o Brasil está sem embaixador em Israel.