Bilionário que quer presidir COI comprou terras na amazônia e foi investigado no Brasil

LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) – Um dos candidatos à presidência do COI (Comitê Olímpico Internacional), o sueco Johan Eliasch, 62, foi notícia no Brasil durante o segundo governo Lula. O bilionário foi objeto de investigação da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) em 2008. Três anos antes, ele havia comprado um terreno de 1.600 quilômetros quadrados da amazônia, área maior do que a de Londres -ele é também cidadão britânico.

Segundo o relatório da Abin, Eliasch disse em reuniões com investidores que a solução para o desmatamento passava pela compra da amazônia por parte de bilionários como ele, preocupados com o meio ambiente. Estimou que a floresta inteira custaria o equivalente a US$ 50 bilhões (R$ 274 bilhões na cotação atual). Nessa época, bilionários como o investidor George Soros e o empresário Luciano Benetton efetivamente compravam terrenos em florestas pelo mundo. A Abin achou que era o caso de se aprofundar no assunto, mas não encontrou nada relevante.

Os brasileiros também se familiarizaram com o nome de Eliasch por causa do seu relacionamento com a empresária Ana Paula Junqueira. O casal se conheceu em uma festa promovida por Pedro Paulo Diniz, ex-namorado de Junqueira, em 2002. Viviam entre São Paulo, Londres, St. Tropez e Nova York, onde mantinham residências. Eliasch e Junqueira frequentavam um circuito que incluía a modelo Naomi Campbell, o cantor Elton John e o ex-presidente norte-americano Bill Clinton.

O relacionamento durou quase uma década. Do período em que frequentou as colunas sociais brasileiras, Eliasch guardou algumas amizades -entre elas a do ex-jogador e hoje cartola Ronaldo Fenômeno- e se tornou simpatizante do São Paulo. Na Inglaterra, ele torce pelo Chelsea. O bilionário sueco não via com bons olhos as tentativas de Junqueira de alçar voo político. Ela se candidatou duas vezes a cargos legislativos, sem ser eleita. Hoje, atua na área de filantropia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

A trajetória de Eliasch junta esporte, ambientalismo, política e sucesso empresarial. Nascido em família rica de um subúrbio de Estocolmo, ele afirma que passou a se preocupar com o meio ambiente na juventude. Notou que os invernos ficavam mais curtos e isso atrapalhava sua prática de esportes na neve.

Hoje, Eliasch é presidente da Federação Internacional de Esqui e levou à modalidade práticas sustentáveis -atuação que lhe valeu a indicação para a presidência do Comitê Olímpico Internacional.

O jornal britânico The Sunday Times apontou que o grosso da fortuna de Eliasch vem da Head, empresa de material esportivo que pilotou entre 1995 e 2021. Eliash também atua nas áreas de turismo e artes plásticas, onde cultiva amigos influentes, como o galerista e publicitário inglês Charles Saatchi e o príncipe Andrew, irmão do rei Charles 3º.

Na política, Eliasch integrou a juventude do Partido Conservador britânico, mas mudou de lado quando o então primeiro-ministro trabalhista Gordon Brown o nomeou consultor na área ambiental. No mesmo ano em que os brasileiros investigavam suas atividades na amazônia, 2008, o bilionário apresentou o Relatório Eliasch, um manual de boas práticas para a conservação de florestas. Algumas das recomendações passaram a fazer parte da política ambiental britânica.

O relatório norteia também a prática da organização não governamental que o próprio Eliasch fundou, a Cool Earth -trocadilho que pode significar “terra fria” ou “terra legal”. A Cool Earth concentra sua atividade em áreas com alto risco de desmatamento e trabalha preferencialmente com comunidades locais.

A Cool Earth cresceu ao longo das duas últimas décadas e recebe financiamento de várias fontes, entre elas a União Europeia. Está presente nas três principais florestas tropicais do planeta -na amazônia, na bacia do rio Congo e no sul da Ásia. Na América do Sul, o trabalho da Cool Earth se concentra na amazônia peruana. No Brasil, Eliasch chegou a ser multado pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), além de ter sofrido a investigação da Abin.

O empresário sempre se defendeu dizendo que as multas deveriam ser pagas pela proprietária anterior das terras, uma madeireira com acusações de desmatamento. Procurado por email, ele não respondeu às perguntas da Folha até a publicação desta reportagem. Procurada, a Cool Earth respondeu que não tem mais operações no Brasil.

Na década passada, Eliasch se aproximou de outro primeiro-ministro britânico, o conservador Boris Johnson, e participou de reuniões preparatórias à COP 26, que ocorreria em Glasgow, em 2021. Em uma dessas reuniões, debateu ideias com um grupo de governadores da amazônia brasileira. Flávio Dino, hoje ministro do STF (Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino), na ocasião chefiando o Executivo do Maranhão, foi um dos que estiveram com Eliasch.

O bilionário sueco é zebra na corrida pela presidência do Comitê Olímpico Internacional. Os dois favoritos, na lista de sete postulantes divulgada nesta segunda-feira (16), são Sebastian Coe, presidente da World Athletics (a federação internacional de atletismo), e Kirsty Coventry, ministra do Esporte do Zimbábue. Ela seria a primeira mulher a dirigir o COI. O vencedor será definido em março de 2025 e terá um mandato de oito anos.

Quando estimou o preço da amazônia em US$ 50 bilhões, Eliasch figurava no posto 146 entre os homens mais ricos do Reino Unido, no ranking do Sunday Times. Hoje, ele aparece na 46ª posição na mesma lista, com uma fortuna estimada em US$ 5 bilhões de dólares (R$ 27,4 bilhões) -insuficientes para arrematar a amazônia, se sua estimativa valesse e se bilionários ainda comprassem florestas.

Compartilhe: