SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Consumo de energia com inteligência artificial leva Microsoft a religar usina nuclear, falta de chuvas no Brasil coloca sistema elétrico em debate e outros destaques do mercado nesta segunda-feira (23).
**BIG TECHS CORREM ATRÁS DE ENERGIA NOS EUA **
A Microsoft quer reativar uma usina nuclear nos Estados Unidos para garantir eletricidade aos seus data centers.
Three Mile Island, na Pensilvânia, está desligada desde 2009 e receberá investimentos de US$ 1,6 bilhão (R$ 8,09 bilhões) da Constellation Energy, com quem a big tech tem contrato de 20 anos.
O reator, com capacidade de 835 megawatts, deve voltar a funcionar em 2028.
POR QUE IMPORTA
Os data centers sempre demandaram grandes volumes de energia, mas a popularização da inteligência artificial e dos serviços de nuvem fez o consumo disparar.
Data centers usam 4% da eletricidade nos Estados Unidos, mas o patamar pode alcançar 9% até 2030, segundo o Electric Power Research Institute.
A Agência Internacional de Energia diz que, até 2026, eles poderão consumir mais de 1.000 terawatt-hora de eletricidade no mundo.
O patamar é mais do que o dobro dos níveis de 2022 e equivalente ao uso total de energia pelo Japão.
Pesquisar algo no Google consome cerca de 0,3 watt-hora, enquanto uma consulta usando o ChatGPT, requer 2,9 watt-hora.
AVAL DOS CHEFÕES
Sam Altman, CEO da OpenAI e um dos criadores do ChatGPT, e Bill Gates, cofundador da Microsoft, são defensores da energia nuclear para garantir a ampliação da oferta de eletricidade.
Altman preside o conselho da startup de energia nuclear Oklo, enquanto a TerraPower, cofundada por Gates, iniciou a construção de uma instalação nuclear em junho.
A reativação do reator 2 de Three Mile Island seria a primeira feita nos EUA após um desligamento.
O reator 1 da usina sofreu um acidente no fim dos anos 70 e, desde então, está desativado. Ele não será religado.
EM BUSCA DO SELO VERDE
O aumento da demanda de energia pelos data centers é um desafio para as big techs, que têm compromissos para alcançar emissões zero de carbono.
O Google divulgou recentemente que suas emissões aumentaram 50% desde 2019 devido à ampliação dos data centers.
Em maio, a Microsoft fez anúncio semelhante, afirmando que suas emissões aumentaram 33%.
Antes da aposta em energia nuclear, a Microsoft anunciou investimento na compra de energia eólica e solar.
A empresa também lançará um fundo em parceria com a gestora BlackRock de mais de US$ 30 bilhões para fortalecer a infraestrutura de inteligência artificial.
A PROPOSTA DE MARK ZUCKERBERG
O Facebook, outra empresa com grandes investimentos em inteligência artificial, prevê que a solução será a energia geotérmica. A energia usa o calor do subsolo, principalmente de áreas com atividade vulcânica.
Em agosto, a Meta, dona do Facebook, anunciou um acordo com a startup Sage Geosystems para gerar até 150 MW (megawatts) a partir de uma nova tecnologia.
**… E O GOVERNO LULA POR AQUI**
A matriz energética limpa do Brasil tem sido apontada como um atrativo para multinacionais instalarem os data centers no país. O estudo Brazil Data Center Report aponta que o número de instalações cresceu, 628% desde 2013.
Cerca de 84% da matriz elétrica é sustentável, liderada pelas hidrelétricas.
LÍDER
O país concentra cerca de 40% dos novos investimentos na área na América Latina. A grande oferta de água também é um atrativo.
De acordo com o Datacenter Map, são 150 instalações do tipo no país. Em segundo lugar na região vem o Chile, com 52 centros, seguido do México, com 51.
O consumo de energia nas maiores instalações é suficiente para abastecer cidades de até 30 mil pessoas.
PAULISTA
O estado de São Paulo é o maior polo de data centers no Brasil, com destaque para os municípios de Barueri, Santana de Parnaíba e Campinas.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, o presidente-executivo da CPFL, Gustavo Estrela, afirma que há R$ 100 bilhões em investimentos previstos para São Paulo, mas que estariam travados devido à burocracia da agência reguladora Aneel.
SIM, MAS…
Os projetos de mais data centers devem pressionar a demanda por eletricidade no país.
A seca pela qual o país passa, que reduziu o volume nas usinas hidrelétricas, forçou o acionamento de usinas térmicas para garantir a oferta no horário de pico e evidenciou falhas no sistema elétrico.
Para financiar as térmicas, mais caras e mais poluentes, o preço da energia subirá neste mês de setembro cerca de R$ 4,463 para cada 100 quilowatt-hora consumido.
Especialistas apontam ser necessário aproveitar o momento para fazer mudanças estruturais no sistema. Apesar da matriz energética limpa, ainda falta infraestrutura.
Entre as sugestões está a criação de uma rede de baterias que poderia evitar desperdícios e fornecer energia durante intervalos.
Uma eventual volta do horário de verão e o uso das térmicas não deveriam ser as únicas respostas.
AJUSTE NOS PONTEIROS
Técnicos recomendaram ao Ministério de Minas e Energia a volta do horário de verão, cancelado em 2019 após evidências de que a economia de energia não era a mesma de décadas atrás.
Agora, porém, o aumento da geração eólica e solar, que sofrem redução no final do dia, justificam a volta.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, estimou economia de R$ 400 milhões ao diminuir o uso de térmicas.
Apesar da orientação, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve adiar para pelo menos depois das eleições municipais de outubro a implementação do horário de verão.
**EM QUE INVESTIR COM JUROS EM ALTA**
Apesar do início do ciclo de alta da Selic, que foi para 10,75% na última quarta (18), o mercado financeiro está confiante com a Bolsa de Valores local.
Em tese, os juros altos atrapalham o desempenho do mercado de ações porque encarecem o endividamento das empresas e esfria a economia. Entenda.
SIM, MAS…
Analistas ouvidos pela Folha de S.Paulo afirmam: mesmo com o custo do crédito maior no Brasil, o mercado pode se beneficiar da queda de juros nos Estados Unidos, atraindo fluxo estrangeiro.
Além disso, o preço dos ativos brasileiros estaria descontado. Em outras palavras, barato.
VEJA SÓ
De acordo com o banco Inter, a relação entre o preço atual das empresas e o lucro esperado para o próximo ano (conhecida como P/L) está em 7.
Ou seja, em sete anos o investimento se paga de acordo com a distribuição de dividendos. Porém, esse número está abaixo da média dos últimos cinco anos, de 11.
Para o Inter, o Ibovespa deve subir 10% em relação aos atuais 131 mil pontos, e alcançar 144 mil pontos ao fim do ano.
Já para a XP, ele deve alcançar ainda mais. 154.890 pontos ao fim deste ano, alta de 18%.
QUAIS AÇÕES COMPRAR
Analistas da Finacap Investimentos recomendam ter 30% da carteira em papéis ligados a matérias-primas, 30% em serviços básicos, 25% em consumo e 15% no setor financeiro.
Entre sua principais escolhas estão Itaú, Inter, Renner, Vale, Petrobras, ALLOS (de shoppings) e MRV.
A gestora Andbank, por outro lado, recomenda as ações de bancos, seguradoras e elétricas. A XP também indica a compra de bancos, em especial do Itaú Unibanco e do Banco do Brasil.
No setor de energia, indica as ações de Eletrobras e de Equatorial. A corretora também aposta em petróleo, com Petrobras e Prio na sua carteira recomendada.
**DE OLHO NA BOLSA**
São Martinho, cujas ações subiram 3,5% na última semana
As ações da produtora de açúcar e etanol São Martinho foram algumas das poucas a subir na Bolsa na última semana.
Elas seguirão no radar de investidores porque receberam recomendação de compra do banco JP Morgan. Semanas antes, o Bank of America já havia indicado as ações.
ENTENDA
Analistas estão mais otimistas com os preços do etanol, o que impacta diretamente as finanças da empresa.
A alta do combustível deve ser um reflexo da menor produção no setor, devido à forte seca que atinge o país.
No acumulado dos últimos cinco pregões, as ações sobem 3,46%.
O Ibovespa, por outro lado, cai 2,83%.
A São Martinho, com fazendas principalmente no interior de São Paulo, informou aos investidores que as queimadas do início do mês atingiram 20 mil hectares.
Os analistas do banco, porém, não veem impactos negativos relevantes na produção.
**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**
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