BC vê capacidade de pagamento de empresas e famílias desafiadora e destaca riscos fiscais

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Banco Central considera que a capacidade de pagamento de empresas e famílias segue desafiadora, apesar dos sinais favoráveis da economia brasileira, e destaca o aumento da percepção de risco fiscal pelos agentes econômicos. As conclusões constam no relatório de estabilidade financeira, divulgado nesta quinta-feira (21).

Segundo a autoridade monetária, o mercado de trabalho apresenta elevado dinamismo, com nível de ocupação, taxa de desocupação e renda com evolução favorável. “Mesmo nesse ambiente, os níveis de comprometimento de renda das famílias ainda se encontram historicamente elevados”, diz.

No caso das empresas, o BC ressalta desafios em termos financeiros, como a desvalorização cambial que impactou os balanços de algumas companhias de grande porte.

“No caso das pequenas e médias empresas, apesar do dinamismo recente do comércio, dos serviços e da indústria, há crescente volume de requerimentos de recuperação judicial e percepção de alavancagem elevada”, diz.

Destaca ainda que o novo ciclo de alta de juros –a taxa básica Selic hoje está em 11,25% ao ano– tende a impactar os balanços pelo aumento do serviço da dívida e elevar a pressão sobre a capacidade de pagamento de empresas e famílias.

De acordo com a autoridade monetária, houve uma leve elevação do apetite a risco das instituições financeiras. Para as famílias, indica uma reaceleração quase generalizada em todas as modalidades e alguma flexibilização nos critérios de contratação, especialmente em financiamento de veículos.

“Diante dos riscos relacionados à atividade econômica e ao comprometimento de renda das famílias e endividamento destas e das empresas de menor porte, o ambiente continua demandando a preservação da qualidade das concessões”, alerta.

RISCO DE DESEQUILÍBRIO DAS CONTAS PÚBLICAS É O MAIS CITADO POR INSTITUIÇÕES

Apesar disso, o BC considera que não há risco relevante para a estabilidade financeira no país. Quanto à percepção dos agentes econômicos, a autoridade monetária diz que os riscos fiscais ganharam relevância e foram os mais citados pelas instituições financeiras, refletindo preocupações com a trajetória da dívida pública e com os impactos da política fiscal sobre os preços de ativos e a política de juros.

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem discutindo há semanas um pacote de medidas de corte de gastos, mas a demora no anúncio tem estressado o mercado financeiro e pressionado os ativos brasileiros.

“Muitos respondentes ressaltaram o risco de deterioração das contas públicas, que impactaria a curva de juros e a taxa de câmbio, e poderia afetar a condução da política monetária. Nesse cenário, a elevação dos custos de captação e o aumento do risco de mercado afetariam negativamente o balanço das instituições financeiras”, diz trecho do relatório.

A análise do BC considera o período entre fevereiro e agosto, quando foram realizadas duas rodadas da pesquisa de estabilidade financeira.

Nesse mesmo contexto, houve redução da percepção de riscos com relação ao cenário internacional, mas persistiram preocupações com riscos geopolíticos, política monetária e eleições norte-americanas –sem citar o presidente eleito Donald Trump.

“A eleição presidencial nos Estados Unidos é fonte de incerteza relativamente às políticas comercial e externa, com elevações unilaterais de tarifas ou aumento das barreiras migratórias sendo esperados”, afirma.

O relatório do BC ainda mostra que o impacto das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul no primeiro semestre teve um impacto menor do que o esperado sobre o sistema financeiro nacional.

Colaboraram iniciativas tomadas pelo BC e pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) para resguardar a prestação de serviços e evitar ônus a cidadãos e empresas,

“Não se percebem alterações sistemicamente relevantes nas captações, na liquidez ou no risco de crédito das entidades supervisionadas que atuam no Rio Grande do Sul”, afirma.

Com relação ao setor agropecuário, a autarquia diz que as perdas com pagamentos de coberturas pelo Proagro –política do governo federal que funciona como uma espécie de seguro rural para pequenos e médios produtores– foram significativamente inferiores às perdas provocadas pelas secas de 2022 e 2023.

“O impacto da calamidade para esse setor foi limitado, pois as enchentes ocorreram após a maior parte da colheita. Até setembro de 2024, as perdas com os pagamentos de coberturas pelo Proagro somam R$ 450 milhões. Esse valor está bem abaixo dos R$ 6,4 bilhões pagos em 2022 e dos R$ 10,5 bilhões pagos em 2023 em coberturas pelo Proagro”, diz.

O BC diz ainda seguir monitorando a intermediação financeira na região, com menos ênfase, em razão da percepção de redução dos riscos.

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