SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Desde 18 de agosto, o estado de São Paulo convive com focos diários de incêndio que bateram recordes e deixaram os paulistas aterrorizados com o sol avermelhado em meio ao céu escuro pela fumaça. Após 31 dias, no entanto, a frente fria que chegou à região ajudou no combate às queimadas, e a expectativa da Defesa Civil estadual é que a situação melhore ainda mais até o fim do mês.
O último dia em que não houve nem um foco sequer no estado foi 17 de agosto, segundo o Projeto Queimadas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). A partir de então, o tempo seco e quente favoreceu a explosão de queimadas. A Polícia Militar Ambiental investiga a possibilidade de que muitos tenham sido ações criminosas intencionais. Por isso, 23 pessoas foram presas e responderão a processo.
O ápice da crise ocorreu entre os dias 22 e 24 de agosto, quando surgiram 2.621 novos focos, sendo 1.886 apenas no dia 23. Foi justamente naquela sexta-feira que a região metropolitana de São Paulo se cobriu de fuligem no meio da tarde e o sol virou um círculo vermelho no céu.
Segundo o capitão Roberto Farina, porta-voz da Defesa Civil estadual, dados de amostragem do Corpo de Bombeiros indicaram um aumento de 386% no número de focos de incêndio do ano passado para este.
“O que ocorreu foi que já em junho, no início da Operação São Paulo Sem Fogo, ocorreu um começo severo de estiagem. Alguns municípios já tinham focos de queimadas. Por isso, dia 19 de agosto a Defesa Civil soltou um alerta para a possibilidade de aumento no número de incêndios. E na sexta [23], 38 municípios já tinham focos simultâneos no estado. A partir disso, foi montado o gabinete de crise pelo governo estadual”, conta Farina, destacando que mais de 15 mil pessoas estiveram no combate aos incêndios, entre agentes da Defesa Civil, do Corpo de Bombeiros, da Polícia Ambiental e brigadistas voluntários.
O porta-voz afirma que o combate aéreo foi primordial para a contenção das chamas, que se espalharam por pontos de difícil acesso por terra. Principalmente, nas áreas mais densas das matas. Ele diz que uma operação aérea normal conta com três ou quatro aeronaves, mas, desta vez, o gabinete de crise chegou a contratar 20 simultaneamente, no último sábado (14), entre aviões e helicópteros.
“Foi o maior combate que São Paulo já fez na história. Tinha também o combate terrestre, mas esse aéreo foi o maior. Isso fez conter os focos em áreas mais críticas.”
Passada a fase mais difícil, Farina acredita que agora a tendência é os focos diminuírem. Principalmente, por causa da frente fria que chegou ao estado, trazendo chuva para a região metropolitana de São Paulo, litoral e leste do estado. Ele enfatiza, no entanto, que os municípios que não tiveram precipitação nos últimos dias pelo menos estão com a umidade do ar mais alta, o que diminui o risco de novos focos.
Barretos, a 420 km da capital, por exemplo, vinha com taxas mínimas de umidade relativa do ar por volta dos 9%. Nesta terça (17), o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) apontava 25% no horário mais crítico na estação meteorológica de Bebedouro, na mesma região.
“Tudo indica que quando sair a frente fria, depois desta quarta, vai ficar uma umidade no ambiente. Quando chegar o calor de novo e se juntar à umidade, tende a chover no interior, nessa faixa mais crítica. Até o fim da semana vai chover em todo o estado e a vegetação vai ficar mais molhada. Aí, na última semana de setembro, existe a possibilidade de nova frente fria, o que favorecerá um cenário positivo. A pior parte da estiagem possivelmente já tenha passado”, afirma o capitão.
ALTINÓPOLIS FOI O MUNICÍPIO MAIS CASTIGADO PELOS INCÊNDIOS
De acordo com o levantamento do Inpe, dos 645 municípios paulistas, 405 tiveram pelo menos um foco de incêndio neste último mês. E Altinópolis, a 346 km da capital, foi o recordista absoluto, com 125, uma média de quatro por dia.
Depois dele, ficaram São Carlos (93), Pitangueiras (91) e Andradina e Olímpia, ambas com 70. Ao todo, 14 tiveram mais de 50 focos no período. E em 41 localidades houve mais de 31 ocorrências, ou pelo menos uma por dia. A capital paulista, assim como Guarulhos, tiveram três focos cada uma.