SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Centro Técnico Audiovisual, o CTAv, uma das principais instituições de preservação do audiovisual brasileiro, corre o risco de ficar fechado pelos próximos meses após o Ministério da Cultura determinar um corte de recursos que compromete seu funcionamento.
Em nota, o MinC diz que as atividades do prédio, localizado na avenida Brasil, no Rio de Janeiro, não serão paralisadas, mas sim adaptadas em razão de uma obra. “É uma readaptação temporária das atividades para viabilizar a reabertura total em 2025, após a finalização de uma série de melhorias e modernizações que estão em andamento”, afirma o texto.
Nos bastidores, servidores dizem que o espaço será fechado por quatro meses após um corte de R$ 1,4 milhão. A reabertura do espaço depende do repasse de novos recursos, o que costuma acontecer no final de janeiro.
Em um email deste mês, obtido pela Folha, a Secretaria do Audiovisual, à qual a instituição é vinculada, determina a “adoção de medidas urgentes para redução de custos no CTAv, para além do que já foi feito”, o que incluiria “a revisão e redução ainda mais aprofundada de contratos.”
Diante dessa determinação, dizem os servidores, serão paralisados trabalhos logísticos e administrativos, a manutenção predial e as atividades de difusão do acervo da instituição.
Criado em 1985 para promover o desenvolvimento do setor, o órgão reúne 24 mil itens de mais de 8.600 títulos. São relíquias do cinema nacional, como as obras de Humberto Mauro, um dos maiores cineastas brasileiros.
Além disso, o órgão atende a pesquisadores e faz empréstimos de filmes. Com o corte, essas atividades serão interrompidas. O empréstimo de equipamentos já foi paralisado.
Devem continuar serviços básicos, como segurança e climatização. A prioridade, dizem os servidores, é proteger equipamentos contra furtos e garantir a preservação dos filmes.
O espaço guarda ainda algumas produções feitas em película de nitrato de celulose, material cinematográfico usado até os anos 1950 e extremamente inflamável. Servidores, inclusive, se queixam da falta de brigadistas no local, o que fere uma lei sancionada no Rio de Janeiro em 2020. A medida determina que edifícios públicos ou privados que abriguem acervo de valor histórico devem contar com esses profissionais.
Em nota, o MinC diz que não há qualquer risco de abandono do acervo e que já foram reservados R$ 19 milhões no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2025 para garantir o funcionamento da instituição.
Os funcionários dizem ainda que o centro enfrenta falta de pessoal em razão de aposentadorias e transferências para outros órgãos.
Atualmente, são 30 servidores e cerca de 40 funcionários terceirizados metade desses profissionais devem ser dispensados diante do corte determinado pelo MinC. Para evitar isso, o centro precisaria receber da pasta R$ 3,2 milhões.
A Folha obteve um documento no qual o CTAv pede recomposição orçamentária à Secretaria do Audiovisual sob o risco de precisar fazer demissões. “Não é possível que as contratações continuem sem prévio empenho, devendo esta setorial proceder o inevitável cancelamento de todas as contratações da unidade de forma imediata”, diz o ofício.
Nesta semana, a informação de que o órgão passa por uma crise começou a circular no audiovisual e provocou reações negativas. Nesta quarta (11), 12 entidades do setor enviaram uma carta ao Ministério da Cultura pedindo explicações sobre a situação do CTAv.
Já a Associação Brasileira de Cinematografia fez uma carta aberta expressando indignação pelo fechamento do prédio.
O diretor de fotografia Affonso Beato diz que a crise do CTAv compromete o cinema nacional, sobretudo o trabalho de cineastas iniciantes. “Ele se transformou numa grande escola e num centro de apoio à comunidade brasileira. Vinha gente de todo o país pegar equipamento e terminar seus filmes ali”, diz ele, um dos responsáveis pela criação da instituição, na década de 1980. “O cinema não é só a produção de filmes. É preservação e ensino. O CTAv é um desses polos que não podem faltar.”