PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Ana Carolina Moura, 28, precisou superar a jovem rival Djelika Diallo, 19, e praticamente toda a arena do Grand Palais nesta sexta-feira (30) para conquistar a medalha de ouro para o Brasil no parataekwondo, na categoria até 65 kg.
Antes mesmo do duelo decisivo, após passar pela semifinal, Carol já sabia das dificuldades. “Tenho dois problemas: a atleta e a torcida”, brincava.
A arena realmente tremeu durante o combate, com direito a bandeirão com símbolo do time francês e muitos “allez, les bleus” e gritos de incentivo pela lutadora da casa.
Nas Paralimpíadas, homens e mulheres da modalidade competem sob a classificação K44, para atletas com deficiência em um ou nos dois membros superiores. Como nas Olimpíadas, os atletas são separados por peso, mas a luta acontece em um único round de cinco minutos -em vez dos três rounds de dois minutos cada um.
Apesar de jovem, a francesa Diallo é bem conhecida da paratleta de Belo Horizonte. “Já tivemos quatro lutas e está empatado. Hoje é a decisão. A última, no Rio, eu ganhei nos seis segundos finais”, lembrava antes do combate.
E como eram rivais conhecidas, o técnico Rodrigo Ferla já tinha a estratégia bem definida. “O plano era anular a perna esquerda dela, que é um ponto forte dela, e chutar rápido de olho na perna esquerda, porque ela é muito boa de contra-ataque. Feito isso, era colocar o nosso jogo em prática”, comentou.
Ana começou melhor e fez 3 a 0, mas perto da metade da luta, Diallo empatou com um golpe no tórax da brasileira (que vale dois pontos). Um tempo foi pedido do lado francês quando faltavam 1min44s, com o placar apontando 5 a 5.
Apesar do empate, Ferla acreditava que a luta estava bem encaixada. “Ela estava seguindo o plano certinho, faltava encaixar uns pontos, mas na hora que ela abriu dois, quatro pontos, eu tinha certeza que a luta era nossa.”
Faltando 1min32, Ana voltou a ficar na frente e tentava travar as investidas da oponente diminuindo a distância. Faltando 30 segundos, a arena diminuiu o ruído quando o placar apontava 11 a 5 para a brasileira.
No fim, os gritos franceses foram só para celebrar a prata. Ana venceu por 12 a 7. Na hora de celebrar com a bandeira do Brasil, Ana chamou a rival para o centro da área de luta e ambas deram uma volta olímpica com as duas bandeiras.
Além dos confrontos, Ana Carolina esteve em Paris no início do ano para um período de treinos com a equipe da casa e já tinha ficado impressionada com a evolução da adversária. “Ela evoluiu demais com a troca de técnicos, são dois ex-atletas. Ela tem um potencial gigantesco.”
Ana Carolina tem má formação congênita no antebraço direito e começou a praticar a arte marcial pensando em autodefesa, depois de ter sido assaltada e perder um colar dado pela tia quando nasceu.
O dia da brasileira começou com uma luta complicada nas quartas de final, quando venceu a grega Christina Gkentzou por 11 a 7 (mas fez os quatro pontos da vitória só no minuto final). Na semi, a mineira atropelou a camaronesa Marie Antoinnette Dassi, com tranquilos 21 a 1.
Ana pode incluir o pódio olímpico no seu hall de conquistas, que tem o ouro no Parapan de Santiago de 2023 e no Mundial do mesmo ano, disputado no México, entre outras.
Em apenas sua segunda presença nas Paralimpíadas, o parataekwondo ganhou um dos cenários mais elegantes dos Jogos de Paris, o imponente Grand Palais -mesma casa da esgrima e do taekwondo nas Olimpíadas, mas agora com a ordem trocada.
SILVANA COMPLETA DIA DAS MULHERES NO GRAND PALAIS
Antes da luta final do dia, a paraibana Silvana Fernandes repetiu a medalha de bronze de Tóquio-2020 na categoria até 57 kg. Desta vez, ela superou a cazaque Kamilya Dosmalova após ter perdido a semifinal.
Silvana tem má formação congênita no braço direito, e chegou a praticar atletismo antes do parataekwondo.
Já Nathan Torquato, ouro na competição em 2021 (até 63 kg), ficou sem medalhas em Paris. O brasileiro começou bem o dia, mas perdeu de virada uma disputadíssima semifinal para o turco Mahmut Bozteke. Perto do final do duelo, o paulista teve uma entorse no joelho esquerdo e deixou a área de luta chorando. Na disputa pelo bronze, Torquato nem compareceu ao espaço de combate, deixando a medalha para o marroquino Ayoub Adouich.
Curiosamente, em Tóquio, o paulista conquistou o ouro praticamente sem lutar a decisão. Na ocasião, seu rival, o egípcio Mohamed Elzayat, sofreu uma lesão na semifinal. Ele chegou a subir na área de combate, mas o duelo foi interrompido após o primeiro golpe do brasileiro.
Essa é a segunda vez da modalidade no evento. Na estreia, em Tóquio, o Brasil conquistou um ouro (Torquato), uma prata (Débora Menezes) e um bronze (Silvana).